Por Pedro Barros Lourenço (*)
Começou como todas as outras redes sociais que, hoje, conhecemos e utilizamos diariamente. Lançada em abril de 2020 por Paul Davison, um empreendedor com vasta experiência na criação e start-ups tecnológicas, começou por ser utilizada nos círculos ligados a Silicon Valley. Rapidamente chamou a atenção aos principais fundos de investimento early stage, conhecidos por apostar cedo em projetos de larga escala como o Facebook e em menos de um ano, já é um unicórnio superando os mil milhões de dólares de valorização.
Depois de uma alegada jogada de marketing para colocar a APP na boca do mundo, com Elon Musk a surgir publicamente numa sala de conversação, a anunciar a participação do polémico músico Kayne West, como convidado da sua próxima conversa na sua recente conta na Clubhouse, a plataforma tornou-se na mais recente febre, depois da corrida ao ouro.
Vamos então aos factos que a tornam tão apetecível.
A nova rede social Clubhouse é realmente diferenciadora das demais, por ser utilizada apenas por áudio, com salas de conversação e clubes temáticos. As conversas não ficam gravadas, o que permite que a sua utilização não seja condicionada, contudo é moderada pelos elementos que criam a sala.
O seu acesso é apenas por convite. A cada novo membro da rede, é atribuído o direito de convidar duas pessoas e assim sucessivamente, como de um esquema de pirâmide se tratasse.
A sua exclusividade, não se resume apenas ao convite, tendo em conta que a tecnologia só está disponível (para já) para sistemas operativos IOS, presentes apenas nos equipamentos da Apple.
Vamos agora, aos graves problemas que esta nova APP está a gerar.
Primeiro. O facto de não ser inclusiva, parece ser um dos principais problemas sociais que esta nova plataforma irá gerar na comunidade digital. O sentimento de elitismo, de pertencer a uma parte da sociedade privilegiada, que tem acesso mais rápido e antecipado, face à maioria da população (Já não nos bastavam os episódios das vacinas). Um projeto que assente na exclusão e que não potencie os princípios de equidade, não é merecedor de aplausos.
Segundo. Falhas graves na proteção de dados pessoais, estão no centro da discussão desta nova APP, que não estão a merecer a atenção dos novos utilizadores, que de forma descuidada e negligente estão a permitir acesso descontrolado às suas listas de contactos de números móveis. Basta verificar que, para ter acesso é necessário permitir a gestão dos nossos contactos por parte da aplicação, que irá cruzá-los com a sua já vasta base dados, no sentido de nos orientar à melhor escolha para o nosso convite, tendo em conta os “amigos” que já circulam na rede. Os relatos desta violação de privacidade são inúmeros, vaticinando que, brevemente, todos estaremos inadvertidamente presentes nesta base de dados, sem a possibilidade de exercemos o nosso direito de remoção ao abrigo do RGPD.
Terceiro. FOMO - Fear of Missing Out, é uma patologia psicológica causada pelo medo de ficar de fora do mundo tecnológico e estar a perder algo importante. Estima-se que dois terços da população ativa na internet, sofra desta patologia, muito potenciada pela constante informação que circula online. Ora, no caso da estratégia elitista adotada pela nova APP Clubhouse, não só irá potenciar em muito este sentimento, como o facto de ter conteúdo efémero, poderá criar níveis de adição excessivos no uso da aplicação.
Sou um adepto fervoroso de redes sociais e tecnologia, ou não seria fundador de uma, mas não consigo sentir apelo à adesão de uma rede que potencia a desigualdade. É apenas a minha opinião. Terei certamente oportunidade de a conhecer melhor, mas apenas numa fase que já não alimente a futilidade e o seguidismo acéfalo.
(*) CEO & Founder do Portal da Queixa by Consumers Trust e Embaixador da Comissão Europeia para os Direitos do Consumidor
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