Por Catarina Correia (*)
O conceito surge associado aos videojogos. Metaverso refere-se a um mundo virtual fictício, mas imersivo, no qual utilizadores se encontram para troca de ideias, colaborações, mas também aprendizagem. Contudo, e apesar de se encontrar numa fase muito embrionária, já suscita curiosidade no setor da formação profissional. Gostaria de saber porquê? Destaco de seguida alguns dos benefícios do Metaverso que considero essenciais para a universo da formação:
Uma das principais vantagens é o facto de ser um ambiente (infinito) de socialização em que vários participantes podem-se envolver e interagir. Possibilidades que fazem todo o sentido para atividades de formação à distância, em particular quando os formandos estão geograficamente dispersos, mas desejam, ainda assim, aprender em grupo e numa sala de formação comum ainda que a mesma seja virtual.
Outro benefício desta tecnologia é o facto de ser adequada não só para trabalhos colaborativos entre formandos (para áreas como o design thinking ou workshops de brainstorming baseados em métodos de inteligência coletiva), como também para atividades de formação que possam exigir que os mesmos assumam o lugar de outro interveniente (cliente, gestor, colaborador, etc.). Assim, e uma vez que, no metaverso, os formandos podem “deslocar-se”, poderão por isso colocar em prática, e de forma muito realista, técnicas de venda, argumentação, entre muitas outras. E como qualquer outra abordagem de formação baseada na experiência, também ajudará a melhorar a retenção ao nível da memória, mais ainda se acrescentarmos o elemento gamificação.
Contudo, é um facto que o Metaverso é ainda pouco utilizado nesta área. Mas há uma certeza, quando o mesmo for implementado aportará obrigatoriamente uma nova postura por parte do formador. Durante a fase de adaptação este deverá ter como prioridade a integração e só depois a inclusão dos formandos, assumindo, posteriormente, o papel de facilitador e “animador” da sessão de formação virtual. Uma vez que um dos benefícios é exatamente o trabalho em rede, o formador do futuro será por isso responsável por organizar os conteúdos formativos nos vários ambientes adequados para a ancoragem sensorial. Esta nova tecnologia irá facilitar toda a experiência, possibilitando que cada formando seja não só surpreendido como possa colocar em prática os conteúdos e, acima de tudo, comunicar, tornando-se assim o protagonista da sua formação. Outra questão que deverá ter em conta será o desenho pedagógico aplicado ao mundo virtual, como sejam a possibilidade de “deslocação”, interação em 3D, manuseamento de objetos e a utilização de ambientes significativos, mas sempre assegurando que a sobrecarga cognitiva dos participantes não se torna num obstáculo à interiorização dos conhecimentos.
Claro que antes de chegarmos a este ponto de viragem, no que à formação diz respeito, existem obstáculos a ultrapassar começando, desde logo, pelo equipamento que proporciona a experiência imersiva - capacetes de realidade virtual, lentes de realidade aumentada, luvas tácteis, etc. Para além do custo elevado, estes equipamentos não são (ainda) confortáveis o suficiente para serem usados durante várias horas, particularmente em formação. O outro desafio é de cariz tecnológico: as potências dos servidores não têm (por enquanto) capacidade suficiente para assegurar a estabilidade das plataformas virtuais.
Em suma, e ainda que se torne mais generalizado nos próximos anos, o Metaverso deverá continuar a ser apenas mais um método de ensino, e não substituirá as formações presenciais, de e-learning ou virtuais. Será pouco provável que venhamos a assistir ao aparecimento de percursos de formação 100% metaverso. Contudo, e na minha opinião, alguns módulos de formação poderiam ser integrados numa abordagem blended learning. Não há dúvidas que o Metaverso é uma tecnologia incrível com imenso potencial para se tornar realidade. Os próximos anos serão decisivos e, não haja dúvidas, que caberá também às Organizações e às pessoas terem uma grande flexibilidade para se ajustarem às necessidades e às consequentes inovações que vão surgindo, à velocidade da luz, na sociedade.
(*) Head of Marketing & Communication na CEGOC
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