Por Ross Sleight (*) 

O ano de 2023 ficou conhecido como o "ano da IA generativa" – mas 2024 está já a seguir os mesmos passos e até a evoluir neste caminho. Tudo começou com o lançamento do ChatGPT, a que se seguiu o lançamento de outros modelos e atualizações dos gigantes da indústria tecnológica: o Bard e o Gemini da Google, e também o LLaMA 2 da Meta. A IA generativa dominou as conversas nos meios de comunicação – com especialistas da indústria e consumidores a debaterem continuamente o seu potencial impacto na forma como trabalhamos, vivemos e nos divertimos – e ficou posicionada no pico das “expectativas inflacionadas" no último Hype Cycle da Gartner. Contudo, irá esta inovação tecnológica acelerar ainda mais e atingir o "patamar da produtividade" em tempo recorde?

A IA generativa é uma verdadeira revolução, oferecendo várias oportunidades e estando a desenvolver-se a um ritmo nunca antes visto. Assim sendo, as organizações de todo o mundo devem começar a experimentar na prática e a escalar a IA generativa para tirarem partido dos seus benefícios – eficiências de produtividade, experiências de cliente personalizadas e modelos e operações de negócios potencialmente inovadores e disruptivos. Isto já está no topo da agenda de muitas organizações – uma investigação da CI&T revelou que 76% das empresas espera utilizar a IA generativa nos próximos 12-18 meses, caso ainda não o tenha feito. No entanto, menos de uma em cada 10 (8%) refere utilizar a AI de forma generalizada dentro da organização.

Todos os departamentos das empresas – desde o IT ao legal, passando pelos RH e o marketing – devem examinar os vários processos existentes para avaliar como a IA generativa pode ser uma mais-valia para a evolução. Contudo, o mais importante é que se garanta que as soluções podem ser implementadas com proteção, segurança, conformidade regulamentar e responsabilidade ética em toda a organização.

Identificar e mitigar os riscos da IA generativa

Embora seja imperativo que avaliem os potenciais casos de utilização da IA generativa, os líderes empresariais devem também estar atentos ao ritmo acelerado a que estas novas tecnologias são lançadas. As grandes empresas estão numa corrida contra as demais para fazer as próximas descobertas e obter lucro.

Não é, por isso, de admirar que os governos e as entidades reguladoras estejam a esforçar-se por desenvolver legislação sobre a IA. A União Europeia aprovou recentemente a Lei da Inteligência Artificial, um acordo que estabelece regras abrangentes para uma IA fiável, de forma a "garantir que os sistemas de IA utilizados na UE são seguros, transparentes, rastreáveis, não discriminatórios e amigos do ambiente". Para além disso, nos EUA, o Presidente Joe Biden emitiu um decreto-lei que consagra o desenvolvimento seguro e fiável da IA.

É vital prestar atenção ao progresso regulamentar da IA, até porque as alterações dele resultantes vão ter um grande impacto na forma como as empresas podem utilizar esta tecnologia. Paralelamente a estes novos regulamentos, as empresas devem garantir que também estão a definir a sua própria governação para a adoção da IA nos seus negócios.

Proteção através de governação e preparação adequadas

Regular a IA ao nível individual de cada empresa envolve definir que ‘barreiras de segurança’ esta pretende colocar em termos de privacidade, segurança, conformidade e ética na implementação de soluções de IA. É uma conversa que é necessário ter ao nível do conselho de administração, na qual os líderes devem compreender plenamente a mudança transformacional que a IA representa para o negócio e considerar a estratégia, metodologia e processos de IA, as medidas de gestão de riscos e a conformidade regulamentar. Depois, devem examinar como tudo isto se alinha com os seus objetivos de negócio, investimentos, orçamentos e compromissos ESG.

Uma vez estabelecidas as estruturas de governação, as organizações podem começar a procurar casos práticos de utilização, tanto a nível interno para maior eficiência, como a nível externo para melhorar as experiências dos utilizadores finais.

As primeiras prioridades devem estar no desenvolvimento de software de ponta a ponta, nos serviços e operações de apoio ao cliente, marketing e vendas e uma maior automatização dos processos. Isto vai envolver calcular que pain points e oportunidades a IA generativa vai resolver melhor. Depois, as empresas devem trabalhar numa validação de conceito para a escala de um produto viável mínimo, como acontece com qualquer inovação digital, para garantirem o desenvolvimento dos casos de utilização corretos.

Cultivar a relação entre a IA e os humanos

Atualmente, a IA generativa ainda não tem como saber se o que está a criar é ‘bom’ – a única forma de o saber é através do feedback dos humanos. Temos de nos lembrar que está em nós a escolha de controlar a IA para reforçar as nossas tarefas e se tornar numa ferramenta inestimável que poupa tempo nas nossas vidas profissional e pessoal. A IA pode tornar-se num verdadeiro suporte, melhorando as nossas vidas através da realização de tarefas domésticas e mundanas, o que nos dá mais tempo para outras tarefas.

Alcançar este ponto exige uma preparação abrangente das equipas de liderança das organizações. Acredito que a IA vai fazer parte do nosso quotidiano e que as organizações devem estar preparadas para a envolver nos seus negócios, se não quiserem ficar para trás. Quem decidir iniciar esta viagem hoje será dos primeiros a minimizar os riscos e a maximizar os benefícios da AI generativa – porque já é certo que esta veio para ficar.

(*) Chief Strategy Officer EMEA da CI&T