Por Rui Calmão (*)
Vivemos atualmente um período de intenso progresso tecnológico, que a história designou como a quarta revolução industrial. Esta é a era da inteligência artificial (AI), em que a capacidade analítica dos humanos é largamente amplificada pelos algoritmos aplicados pelas máquinas. Uma realidade que oferece aos gestores a capacidade de antecipar cenários e de tomar decisões fundamentadas em tempo real, algo com o qual os seus antecessores só poderiam sonhar há poucos anos.
Mas será que a Inteligência Artificial atua sozinha? Os algoritmos são o pilar desta evolução e são determinantes para o desenvolvimento da humanidade, mas o ser humano continua a liderar o processo, pois só ele consegue interpretar e validar o caminho a fazer. Para tirarmos o máximo partido destas novas ferramentas, temos de desenvolver novos comportamentos, novas formas de relacionamento e, claro, capacidades de análise mais apuradas.
De acordo com um estudo da União Europeia (Digital Skills and Jobs Coalition), 44% dos cidadãos do “velho continente” não têm literacia digital. O reforço destas competências, designadas de digitais, têm por isso de chegar às pessoas, tanto as que saem da vida académica, como as que já se encontram na vida ativa. Só assim conseguiremos tirar o máximo partido dos instrumentos que a AI hoje coloca à disposição das organizações.
Mas porque razão é a Inteligência Artificial uma oportunidade para as empresas?
De acordo com um estudo realizado pelo World Economic Forum (How to survive and thrive in our age of uncertainty), a turbulência que se verifica nos mercados globais provoca incertezas com as quais as organizações passaram a ter de contar. Para responder a este novo contexto, aumentaram a frequência dos ciclos de decisão e encurtaram o horizonte temporal das projeções de futuro. Na atualidade, o líder é pressionado a assumir uma visão que compreenda diferentes cenários, que tome decisões em pouco tempo...
Por sua vez, os liderados têm de estar preparados para navegar perante situações cada vez mais complexas. Isto coloca uma pressão interna muito grande às organizações e às pessoas. Assim, a capacidade de antecipar assume-se como um recurso essencial, porque transforma informação atual em dados com novo significado, que contribuem para decisões mais fundamentadas e eficazes.
E por onde devemos começar?
Bom, para explicar como se desenvolve este ciclo de transformação, temos de ter em atenção quatro etapas:
(1) Formular as perguntas certas e respondê-las adequadamente é um primeiro passo para descobrir um novo caminho. Como posso reduzir o desperdício da matéria prima que uso? O que pode falhar para a linha de montagem parar? O que querem atualmente os consumidores? São algumas das questões que se podem colocar nesta fase. Os exemplos de outras indústrias, associados ao conhecimento do negócio podem ajudar-nos a respondê-las e os algoritmos permitem-nos fazer este exercício em pouco tempo;
(2) Ter consciência de que as respostas têm de ser integradas e que um ciclo de dados exige uma reflexão de toda a organização, para que todos os envolvidos beneficiem da mesma informação;
(3) Criar e manter um modelo de dados em funcionamento, através de modelos analíticos de excelência. O modelo de dados é tão importante para uma organização como um campo relvado é para um espetáculo de futebol. Sem ele não há espetáculo. Se não for corretamente mantido, os protagonistas não têm o rendimento desejado;
(4) Por fim, temos a democratização dos dados, que, por um lado, consiste em diminuir a complexidade que a tecnologia muitas vezes aparenta ter e, por outro, incentivar a sua utilização pelas pessoas certas. Quando isso acontece surgem oportunidade até aí desconhecidas.
Se cumprirmos estes princípios, com a tecnologia existente, o processo de decisão só fica dependente da adivinha por opção. Penso que é claro para todos que é imensamente mais vantajoso prever e antecipar do que adivinhar.
(*) Meaningful IT Business Unit Manager da Axians Portugal
Nota da redacção : foi feita uma correcção no texto.
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