Por Luisa Gueifão (*)
O Governo Português tem como uma das suas prioridades o reforço das competências digitais dos cidadãos, de forma a promover também a inclusão social e o exercício pleno da cidadania. Um propósito como este encontra um espelho na missão da Associação DNS.PT, que tem refletido profundamente sobre as implicações sociais, económicas, legais e éticas da digitalização.
Ainda longe da média europeia, cerca de 20% dos portugueses nunca utilizaram a Internet. Dados que levam Portugal a definir objetivos ambiciosos na redução deste valor para 5%, em 2030, e ainda a garantir que 80% dos portugueses tenham competências digitais básicas. Neste sentido, o .pt tem-se afirmado como um bom aliado, ao crescer 11,6% acima da média europeia, que é de 4%.
Em 2018, ano em que se assinalaram os 30 anos do .pt, atingimos um marco histórico de domínios: 107.850 novos registos diretos em .pt. Estes valores contribuíram para transformar 2018 no melhor ano de sempre e para que se tenha ultrapassado a barreira do milhão de domínios sob .pt.
Com este desempenho, a aposta da Associação DNS.PT – ou simplesmente .PT – está cada vez mais direcionada para programas no âmbito das competências e conhecimentos digitais. Pensar a Internet com foco apenas na tecnologia é esquecer as pessoas, o que pode conduzir a um mundo sem consciência dos valores humanos, do humanismo enquanto forma de nos relacionarmos e construirmos o nosso futuro coletivo.
A este respeito, tem vindo a desenvolver projetos, como o SiteStar.PT, em conjunto com a DECO, que convida alunos a construir sites originais em Língua Portuguesa e sob o domínio .pt; a Apps for Good, com a CDI Portugal, que consiste em dar resposta a questões relevantes para jovens entre os dez e os 18 anos através da criação de apps; ou o ‘Mostra de Autores Desconhecidos’, projeto de responsabilidade social promovido pela Inspeção Geral das Atividades Culturais, que desafia criadores residentes ou enquadrados em zonas urbanas menos favorecidas a mostrarem os seus talentos na Internet.
Somos ainda membro fundador do MUDA, um movimento nacional promovido por empresas, universidades, associações e pelo Estado Português que assumem o compromisso de incentivar a participação dos portugueses no espaço digital e a tirar partido dos serviços digitais disponibilizados por empresas e pelo Estado.
Também as empresas carecem de formação dos seus gestores e de incentivos à presença digital, pelo que o .PT é parceiro da iniciativa ComercioDigital.PT, que pretende a inclusão de microempresas e PME – em particular do comércio local de proximidade –, na Economia Digital, prevendo-se que, em três anos, 50 mil empresas tenham uma presença na Internet em .pt.
Ainda nesta área, celebrámos uma parceria com a Fundação Portuguesa das Comunicações, com o objetivo de explicar, através de uma estrutura interativa que pode ser visitada no Museu das Comunicações, o que é o domínio .pt, como nasceu e qual a sua importância no mundo online.
Estas iniciativas encontram igualmente espaço além-fronteiras. Exemplo disso é o protocolo de colaboração estabelecido com o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação de Angola (MTTI), com vista a apoiar o processo de restruturação da gestão do domínio de topo angolano, o .ao, bem como o trabalho que temos vindo a desenvolver com Moçambique para implementar nova regulamentação para .mz e na formação técnica e jurídica para Cabo Verde (.cv).
Formar para as competências digitais é também fazer uma reflexão sobre a questão essencial de saber como vamos lidar com a possibilidade de estarmos a criar mentes digitais que nos vão substituir, como reflete Arlindo Oliveira no seu livro ‘Mentes Digitais – A ciência redefinindo a humanidade’ ou o historiador israelita Yuval Noah Harari, em ‘Homo Deus – História Breve do Amanhã’.
Também Vint Cerf, hoje com 74 anos e considerado um dos pais da Internet, alerta para esta vertente ao ter criado no ano passado a associação People Centered Internet, que visa chamar a atenção para a necessidade de a Internet continuar a ser centrada nas pessoas, nas suas necessidades e aspirações.
Pode parecer um paradoxo, mas são os agentes da mudança que devem educar e alertar também para os riscos da mesma. Alertar para as implicações sociais, económicas, legais e éticas da digitalização e educar os cidadãos faz parte da nossa missão.
O trabalho que tem vindo a ser desenvolvido, em especial junto dos mais jovens, dá-nos alento para perceber que estas preocupações são as deles: os millenials, e agora a geração Z, crescem em famílias menos convencionais e são confrontados com fenómenos como crises, terrorismo, diversidade, voluntariado. São mentes sem fronteiras que não conheceram o mundo sem Internet. Mais tolerantes e preocupados com o ambiente, sabem que o futuro é imprevisível.
Como é reconhecido politicamente, as competências digitais são da maior importância para o desenvolvimento de um pensamento crítico e multifacetado, e para promover a inclusão, a autonomia, o bem-estar, a justiça social e a igualdade de género.
Portugal precisa de todos num movimento de construção social baseado no digital.
(*) Presidente do Conselho Diretivo do .pt
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