Por Jose Antonio Afonso (*)
Enquanto os governos elaboram e implementam políticas para alcançar “emissões zero” de carbono, em paralelo, a indústria também tem respondido. Os impactos desses esforços foram mais visíveis na Europa, durante 2019, região em que, de acordo com uma análise Sandbag, a produção de carvão diminuiu 19% em relação ao ano anterior. Por exemplo, na Irlanda assistimos a uma redução de 79%, enquanto na França e no Reino Unido esse número ficou em 75% e 65%, respetivamente. Portugal, por sua vez, seguiu a mesma linha, embora com uma queda substancialmente inferior (23%) quando na vizinha Espanha a mesma representou quase o dobro (44%).
A partir destes dados, podemos concluir que estamos no caminho da eliminação do carvão como fonte de energia elétrica, uma conclusão que também se reflete no facto de que as emissões globais, produzidas pela eletricidade, caíram 2% em 2019, a maior queda em três décadas. Isto é resultado de iniciativas como a redução da dependência do carvão e a expansão da capacidade de energias renováveis na nossa vida: grande parte do gasto energético diário torna-se menos carbonizado, sem que empresas e indivíduos tenham de agir. Por outras palavras, descarbonizar o lado da oferta da equação de energia, também torna uma parte significativa da procura mais verde.
Dadas as conclusões anteriores, não é de surpreender que a conversa sobre descarbonização, até agora, se tenha concentrado em transferir a produção de eletricidade para as fontes renováveis. No entanto, atualmente, uma parte importante das nossas necessidades de energia, não são cobertas apenas pela rede elétrica. Ainda dependemos de combustíveis fósseis para abastecer a maior parte dos transportes, sejam carros, aviões ou navios; para o aquecimento ou ar condicionado em edifícios; ou para desenvolver processos industriais que exijam grandes quantidades de energia, como os utilizados no fabrico de aço e plástico.
Para que esses setores sigam o princípio do progresso na produção de eletricidade, precisamos mudar o lado da procura e encontrar maneiras de satisfazer as suas necessidades de energia por meio da rede elétrica. Esse processo é conhecido como eletrificação e funciona de duas maneiras principais: diretamente -em muitas aplicações, como no aquecimento doméstico, podem ser usados equipamentos elétricos e aproveitar a eletricidade limpa diretamente da rede – ou indiretamente -neste caso, seria feito através de serviços de transporte com veículos elétricos carregados na rede, por exemplo, ou mesmo através do uso de energia renovável para produzir hidrogênio e usá-lo como uma fonte de combustível limpa.
(*) responsável da área de Commercial Building, Eaton Iberia
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