Por Francisco Jaime Quesado (*)

Esta crise pandémica que estamos a viver já está a alterar o comportamento da nossa economia e sociedade. Neste Novo Normal, a Universidade tem que mudar de forma drástica, tendo que saber reinventar-se e estabelecer uma nova agenda em termos do seu modelo pedagógico e na forma como se vai articular com os seus diferentes parceiros.  A Universidade tem que saber protagonizar a sua própria mudança num tempo novo e num mundo mais complexo.  A Universidade não pode ficar à espera. Precisamos de uma Nova Universidade capaz de perturbar o sistema e que se assuma como uma verdadeira Universidade Nova como plataforma de geração de conhecimento com valor para a economia e sociedade, num tempo em que tudo vai ser diferente.

A Universidade tem que se assumir como o ponto de partida e de chegada de uma nova dimensão da competitividade no país. Assumido o compromisso estratégico da aposta na inovação e conhecimento, estabilizada a ideia coletiva de fazer do valor e criatividade a chave da inserção das empresas, produtos e serviços no mercado global, compete à Universidade a tarefa maior de saber protagonizar o papel simultâneo de actor indutor da mudança e agregador de tendências. Ou seja. Há um ponto de partida na necessidade da Universidade vir ao mercado libertar conhecimento aproveitável na consolidação de valor, mas há também um ponto de chegada no estatuto da Universidade como actor socialmente reconhecido na mudança necessária.

Depois desta crise, a Universidade tem que se assumir em como um ator global , capaz de transportar para a nossa matriz social a dinâmica imparável do conhecimento e de o transformar em activo transaccionável indutor da criação de riqueza. Para isso, a Universidade tem que claramente, no quadro de ajustamento aos desafios provocados por esta crise, que assumir na sua plenitude a pertinência duma aposta consolidada nos três T que configuram a sua distinção estratégica – Tecnologia, Talentos e Tolerância. São estas as variáveis em que a Universidade, no seu processo de reorganização estratégica, deverá claramente apostar, fazendo delas o motor da reafirmação do seu papel no seio da economia e da sociedade.

A Universidade, como ator global responsável pela Mudança no país, não se pode confinar a um mero estabelecimento administrativo de especialização técnica. Tem que fazer convergir efectivamente sobre si a capacidade de, através duma aposta cruzada permanente entre o conhecimento e a cultura, ser responsável pela formação de verdadeiros cidadãos globais, os tais de que o país precisa para afirmar a sua dimensão estratégica e competitiva a nível internacional. Quem está e quem sai da Universidade tem que dominar de forma activa o capital comum do conhecimento e da cultura como peças centrais da formação de cidadãos capazes de actuar com segurança e criatividade num mundo em permanente mudança.

A reorganização da Universidade é um desafio à capacidade de resposta a esta crise. Porque a Universidade é um elemento central decisivo na nossa matriz social, o sucesso com que a Universidade assumir este novo desafio que tem pela frente será também em grande medida o sucesso com que a economia e a sociedade serão capazes de enfrentar os exigentes compromissos da globalização e do conhecimento. A Universidade tem que assumir dimensão global ao nível da geração de conhecimento e valor, mas também de imposição de padrões sociais e culturais. A Universidade tem que ser o grande ator da mudança que se quer para o nosso futuro comum.

(*) Economista e Gestor – Especialista em Inovação e Competitividade