Por Luísa Matos (*)

Já ouviu falar em Comunidades de Energia Renovável Virtuais? Provavelmente, não. Na verdade, o conceito nem existe em termos formais, mas pode ser o próximo passo que todos devemos/podemos tomar.

Pense num sistema tradicional de baterias domésticas. O dispositivo armazena o excesso de energia solar gerada durante o dia para ser utilizada, sobretudo, ao fim da tarde e início da noite, quando os consumos domésticos são mais elevados. As Comunidades de Energia Renovável Virtuais funcionam segundo um princípio semelhante, mas, em vez de uma única bateria, utilizam os recursos combinados de várias comunidades.

Imagine os vários cenários: casas e empresas individuais produzem energia solar; os eletrodomésticos inteligentes capacitam os consumidores flexíveis; as baterias e os veículos elétricos funcionam como armazenamento distribuído. Em conjunto, estes diferentes recursos vão ser geridos como uma única “grande bateria”, que carrega e descarrega de acordo com as necessidades, e é incluída num sistema geograficamente distribuído.

Embora o conceito de Comunidades de Energia Renovável Virtuais possa parecer complexo, a sua implementação é inteiramente viável. Basta ter o software correto para simplificar a gestão de todo o sistema.

Se este conceito acaba por ser algo novo, não deixa de ser importante focar outro que tem que ver com a criação de mercados locais de energia, alicerçados na implementação de Comunidades de Energia Renovável e acesso a tecnologia digital inovadora para uma maior eficiência e otimização do consumo e produção de energia renovável. Porque isto anda tudo ligado.

É importante que os mercados de energia sejam estruturados para permitir o crescimento de tecnologias e também novos modelos de negócio – desde a criação de modelos de mercado que permitem partilha de energia local até à criação de mercados de flexibilidade energética. Porque não ser possível obter uma compensação do operador de rede quando deslastramos cargas como as de veículos elétricos, as baterias e outras cargas flexíveis?

O principal obstáculo ainda reside nos quadros regulamentares e de mercado. É necessária uma adaptação para tirar partido ao máximo dos avanços, assim como uma maior normalização internacional da regulamentação, das regras de acesso aos mercados e das normas de interoperabilidade entre sistemas para garantir maior rapidez e eficácia na adoção destas tecnologias.

A transição energética e o crescente interesse por fontes renováveis na produção de eletricidade são passos naturais. No entanto, não estão isentos de desafios ou de melhoria contínua, com o tema do armazenamento e da flexibilidade a serem absolutamente centrais. No caso das Comunidades de Energia Renovável Virtuais, dada a sua escalabilidade inerente e o potencial de crescimento futuro, assumem-se como um modelo dinâmico e flexível, que permite a inclusão de mais membros ao longo do tempo e a criação de novas comunidades dentro da rede. Ao fazermos parte deste caminho – famílias, comunidades de vizinhança, empresas ou organizações do Estado – estamos a liderar um momento histórico e a reforçar a ideia de cidadania energética.

(*) CEO da Cleanwatts