Por Nicola D’Elia (*)

Costumava-se dizer que a geração dos nossos avós foi a que conheceu mais mudanças sociais e tecnológicas durante a sua vida. Mas devemos começar a pensar se não terão sido os adultos atuais que estiveram envolvidos em revoluções ainda mais intensas. Especialmente porque, graças à popularização das redes móveis e de fibra, assistimos a fenómenos como a chegada – e a generalização – do mercado do comércio eletrónico.

Foi precisamente a proliferação de lojas online que tornou os confinamentos pandémicos mais suportáveis. E, tal como um efeito dominó, isso fez explodir o mercado do comércio eletrónico – a percentagem de portugueses que faz compras online ultrapassou os 40% em 2021[1]. Com estes números, os níveis de tráfego de encomendas situam-se agora a níveis sem precedentes.

O problema é que, se normalizámos a presença de encomendas na nossa vida quotidiana, a conveniência de as receber em casa é uma espada de dois gumes. Por um lado, a entrega porta-a-porta é uma importante fonte de emissões de CO2, ainda mais agravada se os nossos horários não coincidirem com os do estafeta, que tem de regressar várias vezes. Por outro, afeta as empresas locais, que não podem competir com a conveniência e preços que o comércio eletrónico pode oferecer.

A inversão destes efeitos está, no entanto, nas nossas mãos enquanto consumidores. Podemos assumir alguma da responsabilidade que temos como utilizadores do comércio eletrónico, fazendo escolhas sensatas sobre o tipo de entrega. Utilizando lockers (cacifos inteligentes) ou redes de conveniência como os Pontos Pack da Mondial Relay, podemos reduzir as emissões de CO2 em 20%. Como? Em vez de várias carrinhas terem de viajar pela mesma área (e deixando atrás de si uma significativa pegada de carbono), um único motorista entrega todas as encomendas num destes locais, seja um locker ou um ponto de entrega.

Em qualquer caso, este será um local (muitas vezes, uma “loja de rua”) próximo da casa do comprador, para que este possa também lá chegar por meios não poluentes: de acordo com os dados da Mondial Relay, 86% dos seus clientes vivem num raio de 5 km de um ponto de entrega e 58% num raio de 1 km – ou seja, à distância de uma pequena caminhada.

Maior conveniência

Algumas pessoas podem pensar que terem de se deslocar a um locker ou a um ponto de entrega não é tão conveniente como receber uma encomenda em casa, mas o inverso é verdade. Ainda em plena pandemia, no final de 2020, apenas 11,6% das pessoas empregadas em Portugal estavam em teletrabalho[2], pelo que ainda há milhões utilizadores que, por muito que queiram, não conseguem estar em casa para receber encomendas, com todos os problemas que isso implica.

Não só a entrega tem de ser reprogramada, como a pegada de carbono é multiplicada pela devolução da mercadoria ao armazém e a subsequente entrega. Por outro lado, quer os lockers como os pontos de entrega tornam esta relação com os envios mais flexível, uma vez que funcionam como pequenos armazéns de proximidade. Oferecem também maior flexibilidade de tempo aos motoristas de entregas, uma vez que não dependem de rotas.

Além disso, o facto destes pontos serem lojas de bairro não só ajuda a sua sustentabilidade através dos benefícios económicos da sua relação comercial com a Mondial Relay, mas tem também um efeito adicional: os clientes tomam consciência da existência destas lojas, interagem com os seus responsáveis e são muito mais propensos a tê-las em mente quando precisam de um dos seus produtos.

Esta interação favorece portanto as empresas locais que não podem competir com a visibilidade nem com os preços do comércio eletrónico. E, graças à familiaridade e proximidade criadas, podem assim gerar uma relação comercial muito mais estreita com os utilizadores da sua própria vizinhança.

Ou seja, o simples gesto de escolher receber as suas compras de comércio eletrónico através de uma rede de cacifos ou pontos de conveniência, em vez de entrega porta-a-porta, é um contributo fundamental para reduzir a pegada de carbono que produzimos.

O passo seguinte é a implementação de frotas de veículos elétricos para reduzir ainda mais o impacto das entregas. Além disso, a proximidade dos lockers e dos locais de entrega permite aos utilizadores deslocar-se para recolher as suas entregas por meios não poluentes; e o seu horário de abertura alargado torna muito mais fácil a adaptação às suas necessidades, evitando assim a necessidade de entregas repetidas para encontrar alguém em casa.

Se acrescentarmos a isto o facto de que este modelo ajuda a promover o comércio local e, portanto, as compras locais, a escolha deste modelo ajuda ainda mais a respeitar o ambiente.

(*) CEO da Mondial Relay para o Sul da Europa

[1] Fonte: INE (https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=473557834&DESTAQUESmodo=2)

[2] Fonte: INE (https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=479312693&DESTAQUESmodo=2)