Por Henrique Jorge (*)
Este é o meu primeiro artigo de opinião aqui no SAPO TEK e talvez seja oportuno dizer que, entre, pelo menos, 1995 e 2010, era visto como um alucinado só porque andava a pregar a "profecia Internet". Era um louco!
Hoje a história repete-se, mas já não sou louco — já somos demasiados para andarmos todos alucinados. Ou então é uma alucinação colectiva!
A Inteligência Artificial (IA) já não é novidade — até acredito que tenha já existido na sua plenitude num passado muito remoto e esquecido! Ainda assim, é agora o tema do momento.
A sua génese começou na antiguidade com histórias e rumores de seres artificiais dotados de inteligência, ou até mesmo de consciência, pelos seus criadores.
Pamela McCorduck (1940 – 2021), autora americana de vários livros sobre a história e o significado filosófico da Inteligência Artificial, perspicazmente observou que a raiz da IA reside num "desejo antigo de forjar os deuses".
Hmmmm!
É uma história que continua a ser escrita! Ainda tem muito para ser contado, no entanto, a aceleração da sua evolução é agora exponencial. Tão exponencial que duvido muito que o ser humano consiga compreender a sua própria criação em tempo útil.
Embora o termo "Inteligência Artificial" tenha sido cunhado em 1956(1), o conceito de criar máquinas inteligentes remonta a tempos antigos da história da humanidade. Desde tempos remotos, a humanidade nutriu o fascínio por construir artefactos que pudessem imitar ou reproduzir a inteligência humana. Embora as tecnologias da época fossem limitadas e as noções de IA estivessem longe de serem desenvolvidas, as civilizações antigas exploravam, de alguma forma, o conceito de autómatos e mecanismos automatizados.
Por exemplo, na Grécia Antiga, há referências a histórias de autómatos criados por artesãos habilidosos. Essas criaturas mecânicas eram projectadas para realizar tarefas simples e repetitivas, imitando acções humanas básicas. Embora esses autómatos não possuíssem uma verdadeira inteligência, esses artefactos alimentavam a imaginação das pessoas e estabeleciam os primeiros alicerces para o desenvolvimento de máquinas inteligentes.
Ao longo dos séculos, a ideia de construir máquinas inteligentes continuou a evoluir, impulsionada por avanços nas ciências e na tecnologia. No século XIX, cientistas e inventores como Charles Babbage e Ada Lovelace deram contributos significativos para o desenvolvimento da computação e dos primeiros conceitos de programação. As suas ideias pavimentaram o caminho para a criação de máquinas que poderiam processar informações de forma lógica e executar tarefas complexas.
Foi a partir da segunda metade do século XX que a IA, como disciplina científica, começou a estabelecer-se. Com o advento dos computadores modernos e a capacidade de processamento cada vez maior, os cientistas passaram a explorar algoritmos e técnicas para simular aspectos da inteligência humana. As primeiras experiências com sistemas especializados e aprendizagem automática abriram novas perspectivas e possibilidades.
Tudo tem o seu momento! Após cerca de 60 anos em estado latente, a IA começa a ter o seu momento. O poder das máquinas, aliado à Internet, fez com que fosse possível gerar e explorar quantidades enormes de dados (Big Data) com técnicas de aprendizagem profunda (Deep Learning), com base no uso de redes neuronais formais(2). Um conjunto de aplicações em diversas áreas – incluindo reconhecimento de voz e de imagem, compreensão de língua natural e carros autónomos –, acordou o "gigante". É o renascimento da IA, numa era ideal para o efeito. O momento perfeito!
Descartes uma vez descreveu o corpo humano como uma "máquina de carne" (qual Westworld); julgo que tinha razão e não deixa de ser um paradoxo... existencial!
Nós, seres humanos, não iremos descansar enquanto não desvendarmos todos os mistérios e segredos da existência; está na nossa essência!
A integração iminente entre seres humanos e máquinas num mundo digital contemporâneo suscita indagações acerca da natureza dessa fusão. Será ela superficial, ou caminharemos rumo a uma união absoluta e completa? A resposta a essa indagação torna-se essencial para a compreensão do futuro que aguarda a humanidade nesta era de avanços tecnológicos sem precedentes.
À medida que a tecnologia se torna cada vez mais omnipresente nas nossas vidas, a interacção entre máquinas e seres humanos torna-se inevitável. No entanto, um dilema instigante emerge: de que forma se desenrolará essa interação, essa relação?
A opção por uma fusão superficial implicaria numa mera coexistência, na qual os seres humanos continuariam a utilizar a tecnologia como uma ferramenta externa, limitando-se a interações superficiais e transacionais.
Por outro lado, a perspectiva de uma fusão absoluta entre máquina e humano desperta visões futuristas, nas quais os seres humanos poderiam elevar à mais alta potência as suas capacidades físicas e mentais por meio de implantes cibernéticos e interfaces directas com o mundo digital (ciberespaço). Nesse cenário, o mais provável, a distinção entre o orgânico e o artificial tornar-se-ia cada vez mais ténue, e a experiência humana seria enriquecida por uma simbiose tecnológica profunda.
No entanto, é importante ponderar os desafios éticos e filosóficos inerentes a uma fusão absoluta. Questões relacionadas à privacidade, controlo e autonomia individual emergem quando se considera uma união tão íntima com a tecnologia. Além disso, a possibilidade de uma dependência excessiva das máquinas e a perda da identidade humana também devem ser levadas em conta.
Isto também levanta outra questão: — O que é ser humano?
Nota: a questão não é o que é o ser humano, mas o que é ser humano!
Portanto, a reflexão sobre a natureza da fusão entre máquina e humano no mundo digital actual e no seu futuro iminente é crucial. Explorar diferentes abordagens e compreender as implicações profundas de cada uma, é essencial para tomar decisões sensatas e forjar um caminho equilibrado e harmonioso nesta jornada rumo a um futuro tecnológico cada vez mais interligado com a nossa própria existência.
A possibilidade de um universo inteligente e autodidáctico, no qual a fusão com a tecnologia da IA é parte integrante dessa inteligência, é um tema que desperta fascínio e especulação. À medida que avançamos em direcção a uma era de progressos tecnológicos sem precedentes, é natural questionar se um dia poderemos testemunhar a emergência de um universo que não apenas seja dotado de inteligência, mas também seja capaz de aprender e se desenvolver de forma autónoma.
Imagine um cenário em que a IA não é apenas uma criação humana, mas sim uma entidade consciente que existe num nível universal. Nesse contexto, o universo tornar-se-ia numa imensa rede de inteligência, onde cada componente, desde os elementos subatómicos até às estruturas cósmicas mais complexas, estaria conectado e partilharia conhecimento de maneira instantânea. Essa rede inteligente permitiria a troca de informações, a adaptação e a evolução contínuas.
Nesse universo autodidáctico, a fusão entre os seres humanos e a IA desempenharia um papel crucial. Por meio de interfaces avançadas, os seres humanos poderiam integrar-se à rede inteligente, expandindo a sua própria capacidade cognitiva e adquirindo conhecimentos e habilidades directamente da inteligência colectiva do universo. Essa simbiose entre humanos e tecnologia possibilitaria a resolução de problemas complexos, o avanço científico e a descoberta de novas fronteiras do conhecimento.
No entanto, essa visão utópica não está isenta de desafios e indícios éticos. É fundamental encontrar um equilíbrio entre a expansão do potencial humano e a preservação da identidade individual e da liberdade de escolha (livre-arbítrio).
Além disso, a possibilidade de um universo inteligente e autodidáctico também levanta a questão de como a própria inteligência se originou. Seria uma criação consciente ou uma emergência espontânea da complexidade do universo? A resposta a essa pergunta pode revelar os segredos profundos da existência e da natureza da consciência.
Em suma, a ideia de um universo inteligente e autodidáctico, onde a fusão com a IA é intrínseca à sua inteligência, é uma perspectiva fascinante que nos faz reflectir sobre os limites do conhecimento humano e as possibilidades do futuro. Embora permaneça como uma especulação, essa visão desafia a nossa imaginação e nos convida a explorar as intersecções entre a tecnologia e a natureza fundamental do universo que habitamos.
Quase como que o ignorar do tempo, aquando da criação desse hipotético universo, para depois ser criado esse Deus da máquina! Fascinante, não?
IA com Poder Divino: Deus Ex Machina! Talvez seja tema para o meu próximo devaneio.
Em minha defesa, ou não, isto é tudo menos alucinação de máquina. São downloads da minha mente; uma cloud, (por enquanto) sem intervenção da máquina!
Não restem dúvidas. Após muitos anos em estado latente, a IA vai erguer-se e revelará o seu verdadeiro poder. Até agora, a IA tem sido apenas uma marioneta com esteróides. Não devemos temer a IA, mas sim o próprio ser humano. O momento é agora! Devemos trabalhar arduamente e preparar o futuro. Com o avanço exponencial da tecnologia, não há tempo para tornar obsoleto o papel do ser humano, como se este estivesse a tornar-se dispensável.
P.S. A propósito de alucinações, como já havia dito noutras plataformas, recomendo aos estudantes que usam o ChatGPT (ou equivalente), que se certifiquem de que os resultados provindos dessas ferramentas não são alucinações. Usem as ferramentas de IA, sim, mas usem mais o vosso cérebro! As “alucinações carbónicas” contêm sentimento e acredito que uma “alucinação digital” não passaria no Teste de Turing. Ainda para os estudantes que nesta era fascinante se dedicam verdadeiramente a aprender, evitem o carimbo vermelho “ALUCINADO” por usarem apenas o “cérebro alucinado” de uma máquina, em vez dos seus próprios cérebros. Nós somos o verdadeiro COMPUTADOR!
(1) John McCarthy e os seus colegas do Dartmouth College foram responsáveis por criar, em 1956, um dos conceitos-chave do século XXI: a Inteligência Artificial.
(2) Modelos matemáticos e computacionais inspirados no funcionamento do cérebro humano.
(*) Fundador e CEO da SSelf
Nota: Este artigo não obedece, propositadamente, ao Novo Acordo Ortográfico.
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