Por António Araújo (*) 

Os desafios de um mundo cada vez mais global e interligado, estando também cada vez mais sujeito a crescentes e complexas ameaças, como as alterações climáticas, a fome, a guerra, as epidemias, os desafios da sustentabilidade, exigem de nós soluções inovadoras, capazes de ver para além-fronteiras e para além da escala humana.

O programa Copernicus da União Europeia, que completa neste mês 25 anos de existência e de crescimento, é uma dessas soluções. Representa o compromisso da União Europeia com a consciência do estado do ambiente, com a proteção dos cidadãos e com o desenvolvimento sustentável.

Através do poder da Observação da Terra, o Copernicus é os nossos olhos sobre o Planeta, recolhendo e analisando dados a partir de uma extensa rede de satélites no espaço (os conhecidos Sentinela), em integração com imagens aéreas, sensores in situ e conhecimento científico. Estes dados permitem estudos históricos e comparativos, identificar características e irregularidades, compreender as mudanças, fazer previsões, criar mapas a partir de imagens e fornecê-las ao cidadão comum.

Para além dos dados que recolhe, o Copernicus também desenvolve e disponibiliza informação em áreas temáticas como alterações climáticas, atmosfera, meio terrestre, meio marinho, emergências e segurança, tudo em acesso a dados abertos e gratuitos, para serem aproveitados pela sociedade.

O seu objetivo é a melhoria da qualidade de vida e segurança dos cidadãos Europeus, nomeadamente capacitando decisores políticos, autoridades públicas, academias, empresas e cidadãos em geral com informação precisa e atual sobre os vários fenómenos que ocorrem na Terra, contribuindo para um vasto leque de atividades.

Há exemplos flagrantes da importância que pode ter o Copernicus, e a Observação da Terra em geral, para a sociedade. Falo do serviço de gestão de emergências, onde empresas portuguesas como é o caso da GMV, que faz parte da equipa de prevenção 24/7 para apoiar as autoridades de proteção civil na resposta rápida em situações de fogos, cheias, sismos, vulcões, e outros desastres, com imagens e análises sobre os locais afetados.

As imagens de satélite oferecem capacidades ímpares de monitorização da terra, podendo ser aplicadas sobre todo o tipo de emergências, com a capacidade de gerar informação crítica para proteger vidas e bens. Com este serviço, é possível identificar rapidamente os locais mais danificados e que precisam de intervenção prioritária, quais as rotas mais seguras para uma evacuação ou onde é seguro aterrar helicópteros com meios de auxílio. Para além disso, as imagens podem ser utilizadas em todas as fases do ciclo de gestão de emergências.

Desde a prevenção e mitigação, contribuindo para identificar vulnerabilidades e avaliar de riscos. São determinantes na preparação, nomeadamente no suporte ao planeamento, na previsão e alerta precoce – antecipando a chegada de eventos meteorológicos, ou na deteção inicial de fogos. Por outro lado, têm um papel decisivo na resposta, sobretudo no mapeamento rápido imediatamente após um desastre e são usadas também na dinâmica de recuperação, nomeadamente na avaliação de impactos socioeconómicos e ambientais bem como na monitorização das ações de recuperação e da aplicação dos financiamentos.

Existem empresas nacionais que têm um papel de destaque neste programa, participando ativamente em diferentes projetos, tanto na componente espacial como de serviços. Algumas estão envolvidas desde o início do programa, em todas as suas fases e ao longo de toda a cadeia de valor. A quantidade e qualidade de dados produzidos pelos satélites do Copernicus não têm precedentes e atualmente estamos a participar na sua geração, explorando os mesmos em projetos que abrangem desde a vigilância terrestre e em alto mar, passando pela resiliência às alterações climáticas, à agricultura de precisão, até aos serviços de segurança e emergências, entre tantos outros.

Por fim, importa dizer que o Copernicus é também um enorme investimento e um contributo para o desenvolvimento económico e social da Europa, cujo retorno é estimado valer 10 a 20 vezes o custo do próprio programa. O mesmo estudo, desenvolvido pela Comissão Europeia, indica que na última década (sensivelmente desde 2014) o ecossistema Copernicus, que inclui desde fornecedores a utilizadores, tem registado um crescimento anual na ordem dos 17%, com o número de utilizadores a duplicar anualmente. No período compreendido entre 2017-2035, é esperado que o Copernicus possa gerar entre 67 até 131 biliões de euros em benefícios para a sociedade Europeia.

São 25 anos de enorme crescimento e consolidação, onde o programa Copernicus ajudou a revolucionar o nosso conhecimento sobre os sistemas terrestres e se tornou numa ferramenta indispensável para a monitorização global e para o desenvolvimento sustentável. Olhando para o futuro, os próximos 25 anos de Copernicus estão destinados a ser ainda mais impactantes. Com mais satélites, mais inovação, mais conhecimento, o Copernicus prestará um papel ainda mais fundamental na salvaguarda do nosso Planeta e na busca de um amanhã mais seguro para as gerações futuras.

(*)  Business Country Manager and Section Head Remote Sensing and Geospatial Analytics, GMV Portugal