
Por Paulo Leitão (*)
Quando as primeiras empresas de recursos humanos (RH) surgiram e começaram a estabelecer-se, na primeira metade do século XX, o mundo era um lugar muito diferente do de hoje. Os arquivos em papel e os processos manuais eram a norma. As páginas de jornal eram o campo primordial para a colocação de anúncios e as possibilidades e a busca pelo talento eram geograficamente limitadas.
Na semana em que celebramos o que é considerado o 36º aniversário da Internet (a 12 de março), nunca é demais recordar a forma absolutamente revolucionária como esta ferramenta, de funcionamento invisível, mudou a vida das empresas. É, aliás, perfeitamente justo dizer que há uma vida antes e depois desta criação.
Se não, vejamos: antes, a prospeção de novos negócios envolvia contacto telefónico a frio e visitas presenciais. Atualmente, e sem diminuir a importância do contacto personalizado e dos esforços de networking presencial, uma boa estratégia de marketing digital, conteúdo relevante e e-mail marketing segmentado permitem que sejamos potenciais clientes a procurar as empresas. Também a aquisição de candidatos foi totalmente transformada graças à Internet. Os anúncios em jornais e o envio de CV’s em carta, deram lugar a plataformas de recrutamento on-line e à busca ativa em redes sociais. A triagem e avaliação, que antes dependiam de processos manuais demorados, contam agora com a automação da inteligência artificial (IA) para classificar e selecionar talentos que já são testados online e muitas vezes entrevistados por videoconferência, de forma síncrona, ou assíncrona. A gestão do relacionamento com candidatos beneficia dos sistemas ATS, com assistentes de IA, que automatizam a comunicação e disponibilizam portais de acompanhamento capazes de responder a um conjunto de perguntas dos candidatos. A elaboração manual de contratos e o arquivamento físico deram lugar à geração automatizada e à assinatura eletrónica. Os relatórios são agora painéis de controlo online com métricas em tempo real. A gestão de projetos, antes feita em grandes quadros de parede, recorre agora a softwares especializados.
Não menos importante, num mundo em rápida mudança, impulsionada precisamente pela Internet, os processos de formação contínua, antes estanques e limitados, são agora quase infindáveis, graças à possibilidade de formação virtual de qualquer lugar do mundo.
Neste contexto, os avanços trazidos pela IA ao setor dos RH são incontornáveis. Da triagem automatizada de currículos à análise preditiva para identificar talentos com maior potencial, passando pelos chatbots que agilizam a comunicação com candidatos e a personalização de programas de formação, a IA tem revolucionado a eficiência e a precisão dos processos. No entanto, é crucial reconhecer que a sua implementação exige um cuidado redobrado. É imperativo garantir a transparência dos algoritmos, evitar vieses discriminatórios nos dados e priorizar a privacidade e a segurança das informações dos candidatos e colaboradores. A IA deve ser encarada como uma ferramenta complementar à expertise humana, e não como uma substituta, para assegurar que as decisões de RH sejam justas, éticas e alinhadas com os valores da empresa.
Neste aniversário, como ao longo de toda história da Internet, importa nunca esquecer que por mais inovadoras que sejam as suas ferramentas, o seu potencial e o seu alcance, qualquer iniciativa depende sempre do elemento humano. Todas as empresas devem dar prioridade a este princípio fundamental, para garantir um futuro do trabalho mais próspero e significativo.
(*) Diretor de Recrutamento e Seleção Especializado do Clan
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