Por André Oliveira (*)

Ultimamente, muito tem sido escrito e debatido sobre o papel e o impacto da Inteligência Artificial (IA) nas mais diversas áreas. A transição energética, sem exceção, não depende apenas da expansão das renováveis ou da eletrificação dos transportes, nos dias de hoje para ser eficaz, precisa de inteligência. O sistema elétrico atual é cada vez mais complexo, com uma geração descentralizada, armazenamento distribuído, veículos elétricos, novos perfis de produção e consumo. Gerir esta multiplicidade de variáveis com métodos tradicionais já não é suficiente, é aqui que a IA assume um papel decisivo.

Longe de ser apenas uma tendência tecnológica, a IA tornou-se um instrumento essencial para lidar com a incerteza, otimizar recursos e transformar dados em decisões. Uma das suas contribuições mais relevantes está na capacidade preditiva, com modelos avançados que permitem antecipar tanto a produção de energia renovável, altamente dependente de fatores meteorológicos, como os padrões de consumo, que variam em função do comportamento humano, da mobilidade elétrica ou da atividade económica. Essa previsão veio reduzir incertezas e facilita o equilíbrio permanente entre oferta e procura.

A IA mostra também o seu valor na otimização em tempo real: os algoritmos sofisticados ajustam automaticamente a utilização de recursos como baterias, bombas de calor ou carregadores de veículos elétricos, maximizando a eficiência e reduzindo custos. Esta capacidade de resposta instantânea é fundamental num sistema que precisa de integrar milhões de pontos de consumo e produção distribuídos.

Outra dimensão crucial é a integração de dados: com sensores, contadores inteligentes, edifícios e veículos , são gerados volumes imensos de informação. A IA transforma esta massa de dados dispersa em valor, permitindo a tomada de decisões coordenadas e acionáveis, resultando numa gestão eficiente de redes inteligentes, micro-redes e comunidades de energia.

Mas talvez a contribuição mais transformadora da IA seja de ordem social. Ao simplificar a experiência dos utilizadores, a tecnologia torna acessível a participação de famílias, empresas e instituições em novos modelos de partilha e produção de energia. Este processo não permite só uma gestão energética otimizada para edifícios e empresas, reduzindo o consumo energético e, em grande escala, o impacto ambiental das operações. É um processo que, em paralelo, tanto democratiza a transição energética como ajuda a combater fenómenos como a pobreza energética, e promove uma distribuição mais justa dos benefícios da descarbonização.

A IA tem-se apresentado como uma ferramenta essencial para enfrentar os desafios do setor e construir um futuro mais sustentável, e podemos afirmar que esse impacto não se limita ao plano técnico. Ele estende-se às dimensões económica e social: aumenta a competitividade, melhora a previsibilidade para investidores e reforça a inclusão dos cidadãos no processo de transição.

O futuro da energia será, inevitavelmente, renovável. Mas será também, e cada vez mais, inteligente.

(*) IoT Development Director da Cleanwatts Digital