Por Rafael Ascenso (*)

O conceito de casa "inteligente" tem vindo a ganhar uma importância crescente na concepção e execução dos projectos de habitação. Atualmente, se olharmos para uma casa ou apartamento com os olhos de há duas décadas, vemos algo quase ficcional, reservado a histórias futuristas.

Hoje, graças a uma nova forma de fazermos arquitectura, ao avanço tecnológico de equipamentos e materiais, seguimos cada vez mais o caminho de casas conectadas e adaptáveis.  Se olharmos para a planta de uma casa ou apartamento, vemos espaços abertos, uma interacção entre divisões e o desaparecimento de portas, do hall de entrada e dos quartos, bem como dos corredores compartimentados. Vemos também uma relação cada vez mais forte com os espaços exteriores, sejam terraços, varandas ou jardins. Através de vãos abertos e amplos, temos hoje habitações com uma relação muito mais forte com a envolvente.

Este progresso, acompanhado da IA, é um testemunho de como a inovação, quando conduzida pela iniciativa e pelo engenho humano, pode melhorar a nossa qualidade de vida sem dependências excessivas ou artificialismos impostos. No século XXI, as casas deixaram de ser apenas estruturas físicas; são agora sistemas dinâmicos que aprendem, reagem e se adaptam às nossas necessidades. A revolução impulsionada pela IA vai muito além da esfera técnica: está a alterar a forma como abordamos as decisões imobiliárias. Hoje, as plataformas digitais recorrem a algoritmos avançados para personalizar a experiência de quem procura uma casa, apresentando opções mais ajustadas às características valorizadas por cada um dos utilizadores. Este nível de eficiência poupa tempo e recursos, enquanto promove escolhas mais informadas e sustentadas.

Outra inovação está no papel como os assistentes virtuais interagem com os consumidores. Estes sistemas, que aprendem com cada interação, permitem agilizar processos como marcação de visitas e resposta a questões em tempo real, sempre de forma personalizada. Não se trata apenas de automatizar: trata-se de facilitar escolhas racionais num mercado que, embora competitivo, continua a premiar a capacidade de decisão individual.

Para os profissionais do sector, a tecnologia está a reescrever o jogo: ferramentas de análise preditiva baseadas em machine learning permitem hoje compreender flutuações de mercado e calcular valores de imóveis com precisão. Com este tipo de informação disponível à distância de um clique, as oportunidades surgem para todos os intervenientes, reforçando a transparência e a eficiência num setor historicamente burocrático e muitas vezes ineficaz.

Dentro das habitações, a inovação é ainda mais tangível. Soluções de domótica transformaram o conceito de lar, integrando inteligência e funcionalidade de uma forma que eleva a experiência do quotidiano. Mais do que tendências passageiras, estas inovações traduzem um princípio fundamental: a liberdade de moldar o nosso ambiente de acordo com as nossas escolhas e preferências. Uma casa "inteligente" não é apenas funcional; reflete a capacidade de cada pessoa, cada família, decidir como quer viver, sem imposições ou modelos predefinidos. No entanto, é essencial que a transformação digital mantenha um foco nos valores essenciais: liberdade, segurança e privacidade. Se as casas se estão a tornar mais inteligentes, cabe a cada um garantir que a tecnologia é um aliado e não uma intrusão.

O sector imobiliário tem muito a ganhar com a inovação tecnológica e a liberdade de inovação deve ser estimulada como motor deste progresso. O desafio, claro, será manter um equilíbrio entre os avanços técnicos e os princípios que consideramos indispensáveis. Um lar nunca será apenas um lugar onde vivemos, mas também um reflexo de quem somos e da forma como escolhemos moldar o nosso futuro. O progresso não se impõe, conquista-se. E, com liberdade e iniciativa, estamos a redefinir não só o setor imobiliário, mas o próprio conceito de habitar.

(*) Founder e Partner da Porta da Frente Christie’s