Por Bruno Borges (*)

O setor de serviços tecnológicos encontra-se num ponto de viragem. Depois de anos a crescer em resposta à digitalização, à reparação e ao suporte técnico, aproxima-se agora de uma disrupção mais estrutural: a transição de um modelo de posse para um modelo de utilização. O paradigma emergente é claro: o acesso está a substituir a propriedade.

O Device as a Service (DaaS) representa essa mudança. Mais do que um serviço, é um novo contrato com a tecnologia. Em vez de comprar equipamentos que rapidamente envelhecem, o consumidor poderá subscrever o acesso a dispositivos atualizados, protegidos por seguro, com manutenção, suporte técnico, substituições rápidas e gestão de ciclo de vida incluídas. Tudo num único modelo mensal, transparente e previsível.

Tecnologia Circular

Este modelo responde, não apenas à necessidade de conveniência, mas também à urgência da sustentabilidade. A circularidade torna-se concreta: os equipamentos são recondicionados, reutilizados e reintegrados no ecossistema, e com isso evitam o desperdício e extração de novos recursos. Reduz-se a pegada ecológica e alonga-se a vida útil dos dispositivos. Ganham os consumidores, as empresas e o planeta.

Nos próximos 10 anos, este tipo de serviço deverá crescer exponencialmente. A evolução das preferências de consumo, sobretudo entre as gerações mais jovens, já indica menor apego à posse e maior valorização da flexibilidade, eficiência e impacto ambiental. Por outro lado, o próprio tecido empresarial beneficiará da previsibilidade orçamental e da simplificação da gestão de equipamentos tecnológicos.

Device as a Service: a próxima revolução?

O DaaS insere-se numa tendência mais ampla: a “servitização” da economia. Carros, casas, mobilidade e, agora, tecnologia — tudo caminha para modelos mais dinâmicos, adaptáveis e sustentáveis. A inovação deixará de estar centrada apenas no produto em si, para passar à forma como esse produto é disponibilizado, mantido e reaproveitado.

É expectável que esta transformação venha acompanhada de outros desenvolvimentos: maior integração com inteligência artificial para manutenção preditiva, automatização de suporte técnico, modelos de subscrição flexíveis, e plataformas interoperáveis que permitam gerir múltiplos dispositivos de forma intuitiva.

Usar Melhor em Vez de Comprar Sempre

Os desafios também não são menores. A adaptação do consumidor a este novo modelo exige confiança, literacia digital e provas de fiabilidade. As empresas terão de investir em logística inversa, redes de reparação eficientes, e em garantir a segurança e rastreabilidade dos dispositivos em todo o seu ciclo de vida.

Mas o caminho está lançado. O futuro dos serviços tecnológicos será mais fluido, ecológico e centrado na experiência do utilizador. Modelos como o DaaS não são apenas uma inovação comercial — são uma resposta sistémica a um tempo em que tecnologia, ambiente e bem-estar coletivo já não podem ser pensados em separado.

A próxima década não será dominada por quem tiver os melhores produtos, mas por quem criar os melhores modelos de acesso, impacto e confiança.

(*) CEO da iServices