Por Ediee Pinheiro (*)

Quando uma equipa de IT cresce, esse crescimento não se dá apenas no número de pessoas que a compõe, mas também de projetos, decisões e dependências. Durante algum tempo, um modelo central de gestão consegue responder, mas rapidamente a distância entre quem decide e quem constrói torna-se um obstáculo. A solução habitual é dividir em grupos mais pequenos e focados, aproximando a decisão do problema. Mas esta estratégia tem riscos.

Ao dividir, cada equipa cria o seu próprio caminho através de frameworks, pipelines e convenções próprias. Cada escolha, quando isolada, é sensata, porém, se olharmos para o todo, gera alguma incoerência. O onboarding demora, a manutenção encarece, a segurança varia e a integração complica-se. O que parecia acelerar acaba por travar.

Neste ponto, a pergunta não é “centralizar ou descentralizar?”, mas “como alinhar decisões técnicas sem limitar a autonomia?”. A resposta está no Collaborative Technical Governance, um modelo onde há menos controlo, mais partilha e consenso.

A lógica é simples: em vez de um centro que dita regras, criam-se espaços onde as equipas partilham aprendizagens, registam decisões e convergem para padrões comuns. Não se trata de burocracia, mas sim de práticas ágeis que mantêm a organização a avançar na mesma direção. Documenta-se o que se aprende, definem-se soluções-padrão que evitam começar do zero e, quando é preciso divergir, essa exceção é clara e assumida.

O impacto no Collaborative Technical Governance é visível, fazendo com que as equipas decidam rápido sem reinventar, garante qualidade e segurança mais consistentes, integrações previsíveis e um time-to-market estável.  Nestes casos, autonomia deixa de significar cada um por si e passa a ser liberdade para criar valor sobre bases comuns que reduzem risco e desperdício.

Claro que há armadilhas associadas a este tema. “Governação” pode soar a comités e processos lentos. Mas não tem de ser assim. É possível começar pequeno, privilegiar a comunicação sem necessidade de estar lado a lado, tornar decisões transparentes e fáceis de rever. Com práticas simples, a organização ganha memória coletiva e aprende de forma contínua.

No fim, a autonomia é vital para inovar, mas precisa de alinhamento para escalar. Dividir equipas acelera, porém, alinhar equipas permite crescer. O Collaborative Technical Governance garante coerência sem sufocar a criatividade e encurta o tempo entre a ideia e o impacto. Em mercados em constante mudança, como o tecnológico, o futuro pertence a quem aprende e decide em conjunto.

(*) Senior Data Engineer @ Volkswagen Group Digital Solutions [Portugal]