Por Luis Bravo Martins (*)
Estamos a encerrar a década com mais mudanças sociais dinamizadas pela tecnologia.
No Natal de 2010, ninguém adivinhou esta onda de populismo central na nossa vida política - que o poder das fake news iriam criar bolhas de ignorância e desinformação que nos atingem a todos – que o clima é o maior tema de ativismo político e que a maior ativista política mundial tem 17 anos – que os principais movimentos cívicos desta década como a Primavera árabe, #Metoo ou Black Lives Matter começaram com a ação de um indivíduo e não de grupos organizados – que hoje é virtualmente impossível passar um dia em Portugal sem consultar um ecrã.
Não tivemos a clarividência para antecipar estes fenómenos ou agir sobre eles, porque todas estas transformações foram potenciadas por tecnologias que subestimámos: redes sociais, algoritmos e, na infraestrutura, novas velocidades de acesso à Internet e novos smartphones que influenciaram a partilha de mensagens e como nós criamos as nossas opiniões.
Estamos à beira de uma nova década e a resposta jurídica, educativa, social e política a estas “novas” tecnologias começou há pouco mais de cinco anos. Há uma necessidade clara de acelerarmos este passo.
10 anos de Fado e Destino?
E não basta acelerar o passo, dado que estas “novas” tecnologias já não são novas. Nunca tantas tecnologias disruptivas se prestam a massificar como na próxima década: Inteligência Artificial, Interfaces homem-máquina, computação quântica, carros autónomos, carros voadores, robots domésticos, inteligência artificial e tecnologias imersivas – realidade virtual e aumentada.
Estas duas últimas são particularmente transformadoras, porque criam mais do que novos hábitos – influenciam a nossa perceção e entendimento do mundo e dos outros e vão permitir-nos consultar a web em 3D, tornando-a visível no mundo físico através de smartglasses.
Já em 2021, com a velocidade garantida pelo 5G, vamos poder não só ver ruínas romanas reconstruídas, como inclusivamente cidadãos romanos a utilizarem esses espaços recriados em realidade aumentada– isso vai aproximar-nos a todos do nosso património como nunca antes.
Um professor poderá viajar no interior de uma árvore com o aluno. Um promotor imobiliário poderá apresentar a casa antes dela estar construída. O impacto destas tecnologias é transversal a todos os setores da sociedade.
Naturalmente, as fake news, deep fakes, problemas de segurança e privacidade vão ser igualmente potenciados e trarão desafios mais disruptivos para os nossos regimes. Pelo que importa começarmos a dedicar tempo a estas tecnologias e estudá-las para nos melhor prepararmos para as suas consequências não-tecnológicas.
Somos a última geração a usar a web em 2D e para obter clarividência sobre os impactos desta disrupção, são necessárias novas competências técnicas – ex. designers de experiências imersivas ou técnicos de scanning 3D – bem como trazer competências de outros campos, como a antropologia ou filosofia para orientar o debate no sentido que pretendemos.
Temos em mãos um desafio mundial, o que constitui uma oportunidade. E Portugal já leva algum avanço no desenvolvimento de tecnologias imersivas.
Mais de 100 organizações desenvolvem tecnologias imersivas em Portugal
É este o destaque da VR/AR Association no primeiro “VR/AR Ecossystem Report - Portugal” a lançar no início de 2021, a par da criação do maior laboratório de investigação de realidade virtual e aumentada da peninsula ibérica e da entrada de empresas de referência das tecnologias imersivas em Portugal. O crescimento tem sido totalmente orgânico neste mercado – existe assim a oportunidade de acelerar esse crescimento e conseguir um lugar de destaque mundial na resolução dum dos principais desafios da Humanidade que se avizinha: relacionarmo-nos positivamente com as múltiplas tecnologias emergentes que nos vão envolver na próxima década.
A nossa talent pool imersiva é muito diversificada e está dispersa por todo o país. Esses profissionais têm a oportunidade de ser relevantes a nível mundial e criar trabalho único em Portugal que promova o avanço mundial das tecnologias imersivas – essencialmente porque esse trabalho depende do seus talentos e competências humanos.
Em 2021, vamos ver muita mais realidade virtual e aumentada na nossa vida quotidiana. Pela primeira vez, teremos um investimento na promoção ativa destas tecnologias – as operadoras 5G promoverão diversas campanhas para nos explicar a diferença entre realidade virtual e aumentada.
Da mesma forma, os principais fabricantes de smartphones chineses (OPPO, Lenovo, Huawei, Xiaomi) já anunciaram o lançamento comercial de smartglasses para 2021. Imaginem termos várias pessoas a interagir com objetos invisíveis na rua ou no espaço de trabalho – é o que nos espera.
Em 2021 também chegará o Plano Marshall da nossa geração, a referida bazuca de investimento criada pela União Europeia que terminará o maior abrandamento económico deste século – é uma oportunidade única para tirar partido das nossas vantagens e das nossas competências para não só criar um modelo económico, mas também para preparar o desenvolvimento social e antropocêntrico destas tecnologias.
Como a tecnologia, é uma oportunidade emergente e tem um prazo de validade – 2021. Pelo que este será igualmente o ano de muitas decisões e não-decisões que irão determinar se estamos ou não preparados para esta década. Do lado do mercado, estamos prontos.
(*) Head of Marketing da IT People e co-presidente do Lisbon Chapter da VRARA
Este artigo faz parte do Dossier O melhor e o pior de 2020. E as expectativas para 2021. Leia aqui todas as análises e artigos deste especial
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