Mais talento, mais investimento, mais startups. A combinação está a ser bem sucedida para a Europa que tem vindo a afirmar-se na área da tecnologia face a outras regiões, e sustenta um potencial de crescimento identificado por várias organizações.
Um relatório publicado pela Atomico, uma empresa de capital de risco, em parceria com a Slush e a Orrick, dá uma visão da evolução da tecnologia na Europa, indicando que 2018 é mais um ano recorde, com a tecnologia europeia a crescer cinco vezes mais rapidamente e a chegar aos 23 mil milhões de dólares de investimento face aos 5 mil milhões de 2013.
Recorrendo a estatísticas de várias fontes, como o LinkedIn, Meetup e Dealroom.co, combinadas com um inquérito a 5 mil pessoas de toda a Europa, o relatório aborda várias áreas, desde a diversidade e inclusão ao investimento e disponibilidade de fundos de pensões.
Em entrevista ao SAPO TEK, Tom Wehmeier, sócio e director de pesquisa da empresa, e autor do relatório, justifica as conclusões e explica porque é que o potencial está a concretizar as promessas feitas.
SAPO TEK: Na sua visão, o que justifica este crescimento contínuo na Europa e especialmente em Portugal?
Tom Wehmeier: Este foi o ano em que a Europa descobriu como mobilizar o seu amplo leque de talentos. O sector de tecnologia está a atrair mais participantes, em termos do aumento saudável do número de programadores - como está a acontecer em Portugal- ou do aumento de executivos de talento que passaram a centrar-se nas tecnologias e noutros sectores.
O relatório aponta para áreas de forte densidade em termos de talentos nas universidades, em empresas fortemente ancoradas na tecnologia e nas plataformas, conduzindo deste modo a uma reforço do investimento e crescimento destas últimas Tudo isto contribui para esta 'densidade' - que sempre foi um pré-requisito para o crescimento exponencial. A Europa está sem dúvida a atingir uma maior densidade nesta área e está a fazê-lo à sua maneira. O potencial de crescimento da economia europeia em geral sai assim reforçado à medida que essas novas comunidades começarem a beneficiar desses fluxos de capital.
A tecnologia europeia também está a colher os louros dos seus sucessos anteriores. Funcionários e fundadores de tecnológicas europeias de sucesso, como é o caso do Spotify, estão a fundar novas empresas, financiando outras sob a forma de capital de risco e como mentores de toda uma nova geração de talentos na área das tecnologias na qualidade de angel investors.
SAPO TEK: É verdade que a Europa tem vindo a investir muito em inovação e programas como o Horizon 2020 são importantes para a I&D mas é muitas vezes referido que o espaço da UE tem sobre regulação e que este excesso impede a inovação em áreas tão relevantes como a inteligência artificial. Parece-lhe que é assim?
Tom Wehmeier: Só 24% dos fundadores que responderam ao nosso inquérito sobre o Estado das Tecnologias Europeias acreditam que a regulação teve um impacto negativo sobre a indústria da tecnologia europeia nos últimos 12 meses, mas 49% dos fundadores ou funcionários de startups acreditam que a regulamentação europeia torna mais difícil iniciar e desenvolver um negócio de tecnologia.
Os líderes tecnológicos e os políticos europeus pretendem trabalhar mais de perto e conjuntamente mas ainda estão atualmente a falar cada um para seu lado. Se houver um maior alinhamento podemos criar melhores produtos e serviços para os consumidores e ajudar a reforçar o ecossistema tecnológico europeu. Temos de fazer a ponte com vista a criar um ecossistema tecnológico europeu que funcione de forma concertada com os responsáveis políticos de modo a libertar o seu potencial no sentido de uma boa utilização da tecnologia.
SAPO TEK: No relatório sobre Portugal referem a Outsystems, mas temos mais dois unicórnios na tecnologia, a Farfetch e a Talkdesk. Parece-lhe que em breve poderemos ter mais unicórnios portugueses com a valorização de outras empresas? Quer arriscar nomes?
Tom Wehmeier: A Europa está a criar empresas que geram milhares de milhões de dólares a um ritmo 15 maior do que há uma década. Veja-se o caso de duas empresas fundadas nos anos 2000 que geraram milhares de milhões de dólares até 2008. Compare-se isto com 31 formadas na segunda década deste milénio e que atingiram esse patamar em 2018 - um aumento de 15,5 x. E vamos assistir muito provavelmente ao aparecimento de mais empresas com valorizações de milhares de milhões de dólares neste ecossistema.
SAPO TEK: No estudo é referido também o crescimento de programadores, mas este continua a ser um sector deficitário em recursos humanos na Europa e em Portugal? Tem alguma estimativa de quantos profissionais serão necessários para cumprir as necessidades do sector?
Tom Wehmeier: Não temos estimativas quanto ao número de profissionais necessários para fazer face às necessidades do sector, mas dado o crescimento do sector de tecnologia, serão necessários muitos mais.
SAPO TEK: Quais são as principais tendências para o próximo ano nesta área da tecnologia e qual a vossa perspetiva de evolução em 2019? A Europa vai continuar a crescer ao mesmo ritmo?
Tom Wehmeier: O ecossistema europeu está a crescer. Atualmente, e como o Spotify mostrou bem, os fundadores europeus têm acesso a investidores sofisticados, podem contratar os melhores talentos em qualquer parte do mundo, enfrentar a concorrência feroz, abrir o capital e obter vantagens na cena global. A Europa está agora a colher os primeiros louros da transformação de seu ecossistema tecnológico - as sementes do sucesso deste ano foram lançadas há uma década. Daí que seja de esperar um êxito ainda maior nos próximos anos. Se continuarmos a aprender com o sucesso e o fracasso, a tecnologia europeia pode acender assim ao topo, algo que, estamos certos, está em perfeitas condições de fazer
No artigo 12 do relatório pode consultar as nossas projeções para o próximo ano.
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