Num briefing na Assembleia Geral da ONU sobre a situação humanitária na Faixa de Gaza, Martin Griffiths, o subsecretário-geral das Nações Unidas para Assuntos Humanitários, afirmou que, além do colapso da rede de comunicações - devido à falta de combustível -, a contabilização real do número de vítimas é dificultada pela demora em descobrir corpos debaixo dos destroços.
"Mais de 41.000 unidades habitacionais foram destruídas ou gravemente danificadas - o que representa cerca de 45% do parque habitacional em Gaza", disse, em referência aos danos causados pelos ataques das tropas israelitas, em guerra com o movimento Hamas.
Há poucos ou nenhuns cuidados médicos disponíveis no norte de Gaza, afirmou Martin Griffiths, apontando que dos 24 hospitais com capacidade de internamento no norte do enclave, apenas um - o Al Ahli - está atualmente operacional e a admitir pacientes.
Dezoito hospitais foram fechados e evacuados desde o início das hostilidades e outros cinco - incluindo o Al Shifa, privado de eletricidade três dias após a entrada das forças israelitas -, prestam serviços extremamente limitados a pacientes que já foram internados.
"Estes hospitais não são acessíveis de forma fiável devido à insegurança, não têm eletricidade ou materiais essenciais e não admitem novos pacientes", declarou o líder humanitário, que participou na sessão da Assembleia Geral de forma virtual.
"É, sem dúvida, uma crise humanitária que, em qualquer medida, é intolerável e não pode continuar. Em muitos aspectos, o direito humanitário internacional parece ter sido virado de cabeça para baixo", acrescentou.
Veja as imagens de satélite da destruição na Faixa de Gaza
Por mais terrível que seja a situação em Gaza, "poderá piorar muito", avaliou o subscretário-geral, admitindo verdadeiras preocupações de que, se não forem adotadas medidas imediatas, este conflito possa ramificar-se ainda mais para outras partes do Território Palestiniano Ocupado e arrastar a região "para uma conflagração com consequências ainda mais catastróficas".
Griffiths recordou ainda os cerca de 240 reféns detidos pelo grupo islamita Hamas, "desde bebés a octogenários", que enfrentam mais de 40 dias de cativeiro.
"Eles devem ser liberados imediatamente e sem condições. Entretanto, devem ser tratados com humanidade e poder receber visitas do Comité Internacional da Cruz Vermelha", apelou.
Também o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom, participou na sessão, considerando "lamentável" e "patética" a quantidade de ajuda permitida até agora em Gaza, defendendo a necessidade de se reabastecer rapidamente os hospitais, reconstituir a força de trabalho da saúde e garantir que os serviços de saúde estão protegidos.
Até agora, a OMS verificou 152 ataques aos cuidados de saúde em Gaza, 170 na Cisjordânia e 33 em Israel, que incluem ataques a hospitais, clínicas, ambulâncias, profissionais de saúde e a pacientes.
Referindo-se particularmente ao hospital Al Shifa, Tedros Adhanom sublinhou que, "mesmo que o Hamas tenha utilizado o hospital para fins militares, o hospital, e na verdade todas as instalações de cuidados de saúde, nunca ficam desprovidos de proteção ao abrigo do direito humanitário".
"A escala da resposta de Israel [ao ataque de 07 de outubro do hamas] parece cada vez mais injustificável. A OMS, tal como o resto do sistema da ONU, é imparcial. Não estamos de um lado ou de outro. Estamos do lado da humanidade", observou.
O líder da OMS aproveitou ainda a sessão da Assembleia Geral para questionar o futuro da própria ONU, avaliando que esta crise é um "teste decisivo" para as Nações Unidas e para os seus Estados-Membros.
"Estamos a testemunhar a destruição de vidas e propriedades numa escala terrível. Mas também estamos a testemunhar a destruição da civilidade, do sistema baseado em regras e da confiança entre os países", advogou.
"Se vocês, como Estados-Membros das Nações Unidas, não querem ou não podem parar este derramamento de sangue, então devemos perguntar: para que servem as Nações Unidas?", questionou o diretor-geral da OMS, apelando ao fim deste conflito.
O briefing de ontem foi solicitado pela Líbia e pela Mauritânia, nas respetivas qualidades de presidente do Grupo Árabe e de presidente do Grupo da Organização de Cooperação Islâmica.
Participaram representantes de várias agências da ONU, como o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP), agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA), o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, entre outros, que repetiram os apelos por um cessar-fogo imediato.
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