No final da década de 60 fazia-se a primeira ligação entre dois computadores na ARPANET, mas a World Wide Web viria a tornar mais fácil o acesso à informação em 1991, depois de Tim Berners-Lee ter apresentado a proposta “Information Management: A Proposal” em 1989 o que daria lugar à WWW.

A Portugal as primeiras ligações chegaram em 1991, com o projeto "Serviço IP da RCCN", desenvolvido pela FCCN, que se chamava na altura Fundação para o Desenvolvimento dos Meios Nacionais de Cálculo Científico, mas só mais tarde foram criados os primeiros serviços comerciais de acesso à Internet. Primeiro pela Esotérica, que surge pela iniciativa de cinco jovens engenheiros, depois pela IP Global e a Telepac, a empresa do Grupo Portugal Telecom.

Era um mundo de descoberta, onde a vontade de fazer acontecer ajudava a impulsionar os projetos, mas ninguém tinha ideia de que a internet iria massificar rapidamente, saltando dos computadores para os smartphones, tablets e para outros equipamentos que hoje dominam a nossa vida, tornando-se imprescindível para muitos.

Só quem viveu aqueles primeiros tempos de descoberta tem gravado no cérebro o ruído de um modem a comunicar para se ligar à Internet. Ficava sem a possibilidade de fazer chamadas telefónicas e a demora era acompanhada com expectativa, até porque as ligações eram feitas à estonteante velocidade de 1.200 bps. Gradualmente foram passando para 2.400 bps e mais tarde para 9.600 bps, antes da chegada do ADSL no início dos anos 2000, e da fibra óptica a partir de 2006.

Hoje o objetivo é ter ligações a uma velocidade mínima de 100 Mbps em todo o país, uma meta que ainda não foi concretizada mas que faz parte dos pilares estratégicos da conetividade.
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A base da internet faz-se também pela delegação do domínio .pt, em 1988, reservando um espaço no mundo internet para Portugal, e a criação da RCCN (Rede da Comunidade Científica Nacional) em 1990, ano em que foi instalado o primeiro servidor para gerir o domínio .pt.

Os primeiros passos no mundo académico e de “especialistas”

A proposta dos investigadores do "Forum-IP" foi executada no terreno por um grupo de investigadores, coordenados por José Legatheaux Martins, da Universidade de Lisboa, que conta a experiência na primeira pessoa no site “Arquivo Histórico Sobre a Ligação de Portugal à Internet”.

“O projecto foi apoiado internacionalmente pela EUnet, a rede que na altura ligava diversos países da Europa ao backbone da NSF (National Science Foundation)”, explica, fazendo a ligação à associação nacional de utilizadores de sistemas UNIX, o PUUG - Portuguese Unix Users Group, fundado em 1989 por várias pessoas, entre as quais José Legatheaux Martins e Pedro Veiga.

A ligação foi estabilizada e disseminada nos meios académicos portugueses. “Na parte académica, nos anos seguintes as ilhas de Internet académica portuguesa e europeias começaram a desenvolver-se e a interligar-se cada vez mais, como seria natural”, explica José Legatheaux Martins.

“No essencial, entre 1991 e meio de 1995, para além das universidades e institutos de investigação portugueses apoiados pela FCCN e por esta ligados à Internet, as instituições e pessoas individuais que tiveram acesso a serviços da Internet fizeram-no via o PUUG, na sua qualidade de sócios daquela associação sem fins lucrativos”, indica a mesma fonte.

Pelo meio houve também outras iniciativas, como a ligação da Faculdade de Ciências de Lisboa à rede Bitnet, subsidiada pela IBM, e a ligação do INESC Lisboa à rede UUCP em Amesterdão, montada por Pedro Veiga. Para a história ficam também projetos empresariais de ligação a redes semelhantes à internet, como o Videotext da Telepac, ainda antes dos anos 90, parecido com o Minitel francês e que era uma rede fechada mas com acesso a conteúdos. E ainda ligações X28 para empresas.

O Videotext só terminou na transição do ano 2000, com o argumento que não era compatível com o bug do ano 2000”, explica Paulo Ribeiro, que esteve na criação do serviço na Telepac. O serviço coexistiu com as ligações à internet numa altura em que o serviço já estava mais maduro, mas “havia empresas que tinham montado o sistema todo sobre o Videotext e mesmo oferecendo o serviço de internet não queriam mudar”.

A abertura da internet aos cidadãos, batizados como internautas

Existe algum debate sobre as datas de lançamento dos primeiros serviços de Internet, mas o primeiro terá sido o da Esotérica, que começou ainda em 1994, como recorda António Miguel Ferreira, um dos fundadores da empresa que hoje é a Claranet.

“Criámos o primeiro acesso para particulares em 1994 e só constituímos a empresa oficialmente em 1995”, explica ao SAPO TEK. Depois a Telepac anunciou também o serviço para a área de consumo e a IP Global, que foi integrada na Novisnet, hoje NOS, chegaria mais tarde ao mercado.

“Vinte e oito anos depois a marca Esotérica mantém-se”, destaca António Miguel Ferreira, que admite que foi um privilégio poder participar no arranque da internet em Portugal. “Foi uma startup criada por cinco pessoas e transformou-se na Claranet, que hoje tem mais de 1000 pessoas e é a maior empresa de serviços de TI em Portugal […] É a mesma entidade legal”. Pelo meio a compra pela VIA NET.WORKS, que por aquisição em 2005 hoje é a Claranet.

“É um percurso fantástico e um privilégio para mim estar desde o dia 1 com este projeto”, sublinha António Miguel Ferreira.

Na base da ideia de lançar o serviço estava a experiência dos cinco jovens engenheiros, dois ligados à Universidade de Lisboa e dois à Universidade do Porto, enquanto o atual membro do board do grupo Claranet estava numa universidade em França, onde as ligações à internet estavam mais disseminada.

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“O acesso era muito académico e tínhamos a ideia de que deveria ser usado a nível comercial pelo potencial que víamos como ferramenta de acesso ao conhecimento”, lembra. “Queríamos criar um serviço que todos os que quisessem pudessem usar […] não havia tanto a visão de negócio, era a paixão de fazer acontecer, de criar alguma coisa e de partilhar a tecnologia”.

“Estava longe de pensar que 28 anos depois a startup que criámos teria mais de 1000 colaboradores”, admite António Miguel Ferreira.

A massificação do acesso com o NetPac

A Telepac, uma empresa do Grupo Portugal Telecom, hoje Altice Portugal, decidiu avançar também no final de 1994 com o serviço para utilizadores empresariais e mais tarde também individuais, ganhando mais espaço pela forma como foi pensada a arquitetura de rede, com a garantia de chamada local em todo o país.

Como o acesso à internet era feito sobre a linha telefónica analógica, com chamadas pagas, isso fazia diferença no custo final. “Instalámos routers para permitir chamadas locais em todo o país, em todas as centrais da PT, para acesso local”, lembra Paulo Ribeiro, que esteve ligado aos vários projetos da Telepac e chegou a ser administrador da empresa, estando atualmente na NOS.

“Não havia grande conhecimento em Portugal, era mais no meio académico, mas quando a Telepac permitiu acesso com chamadas locais e lançou o NetPac houve uma explosão de acesso e clientes muito grande”, explica Paulo Ribeiro.

Os primeiros modems eram a 1.200 bps, com ligações analógicas, e gradualmente a velocidade foi acelerando para 2.400 bps e chegando aos 9.400 bps, mais tarde aos 19.600 bps para os “info-ricos”, ainda antes das ligações ADSL.

O lançamento do NetPac, o primeiro serviço pré pago de internet foi um dos responsáveis pela explosão de interesse e clientes. Tinha por base o conceito do Mimo da TMN e foi um sucesso. “Era vendido nas papelarias e nos supermercados e havia pessoas a ligar para o serviço de apoio porque já tinham comprado e queriam usar, mas nem sabiam o que era um computador”, recorda.

Modem Netpac
Modem Netpac

O desafio foi chegar às pessoas comuns, longe dos círculos académicos que na universidade já estavam ligadas ao PUUG”, afirma Paulo Ribeiro.

O interesse na internet começava a generalizar-se e em 1997 é apresentado o Livro Verde para a Sociedade da Informação, produzido pela Missão para a Sociedade da Informação, com a visão estratégica para o desenvolvimento daquilo que hoje seria designado pela “transformação digital”, com capítulos dedicados aos serviços na Administração Pública, empresas, teletrabalho e privacidade, e que elegia como prioridade o combate à exclusão.

“Este é provavelmente o primeiro texto político em Portugal cuja construção pôde ser permanentemente seguida, observada e comentada na Internet e em múltiplas reuniões abertas especializadas. Ao longo de um ano, foram muitos os que em muitos sectores da sociedade portuguesa, contribuíram activa e abertamente para a preparação deste documento. A sua própria génese e formação foi, assim, um exercício inovador de democracia participada, num contexto de decisão clara e de orientações responsáveis”, pode ler-se no preâmbulo, um texto assinado por José Mariano Gago, então Ministro da Ciência e da Tecnologia.

Mais tarde seria apresentada a Estratégia Nacional para a Banda Larga, em 2003, com a promoção de ligações mais rápidas e a defesa da digitalização dos serviços da Administração Pública e das empresas. Faz este ano 20 anos e muitos dos conceitos continuam atuais.

O lançamento dos pacotes de internet do SAPO, auto instaláveis, deu depois o impulso seguinte à divulgação da Internet. O SAPO ADSL.PT tinha um custo de aquisição de 99,99 euros, a que se somavam 50 euros para ativação e 34,99 euros de mensalidade, que incluía inclui um tráfego mensal máximo de 2 Gigabytes por mês, duas contas de email POP3 com 25 MBytes cada, assim como 25 MBytes de espaço de alojamento para uma página pessoal.

A agregação de conteúdos e serviços num portal que o SAPO TEK integra desde fevereiro de 2000, e que criou em Portugal algumas das ideias mais inovadoras da Internet em .pt e que tem quase 30 anos de vida para contar, mas isso já é outra história