Ainda antes de encerrar a edição de 2023, a “máquina de marketing” do Web Summit já começou a vender bilhetes para 2024, a um preço de desconto, de 2 por 1, pelo menos até dia 17 de novembro. As dúvidas sobre o impacto da demissão de Paddy Cosgrave, e do abandono de grandes empresas como a Amazon, Google, Meta e Siemens, ainda se mantêm, mas basta passear entre os pavilhões para perceber que este tema, e o “terramoto” político em Portugal, passam ao lado da maioria dos participantes.
Depois de quatro dias de conferência, que começou a 13 de novembro, Katherine Maher, a nova CEO da Web Summit, admite que não sabe como o tempo passou tão depressa e está a contar o tempo para o próximo ano, pedindo aplauso para todas as startups, as equipas e os voluntários.
A encerrar o evento, António Costa Silva, Ministro da Economia, defendeu que este foi um sucesso, e que o Web Summit foi criado para as startups, recebendo também aplausos quando sublinhou a importância das mulheres nesta área. Apesar da crise política que o país atravessa, reconhecido pelo Ministro, destacou que Portugal é um país acolhedor para o investimento, e que é atrativo para as startups, com regimes regulamentares que apoiam a localização destas empresas.
"Estamos em atividade e a olhar para o futuro", defende António Costa Silva
Para o ministro há oportunidades de um novo crescimento e desenvolvimento económico, mas não podemos esquecer o impacto ambiental da humanidade, e que a criatividade tem de ser usada, para usar a tecnologia do modo correto. "O futuro é o local onde vamos passar o resto da nossa vida", lembrou, citando um poeta português.
O certo é que na sessão final o pavilhão principal estava muito mais vazio do que em anos anteriores, até pela falta de grandes nomes na agenda. Mesmo com a ativista Chelsea Manning, que forneceu dados ao Wikileaks, e a mulher de Julian Assange, Stella Assange, o nível de "envolvimento" esteve muito abaixo do habitual e faltou também a energia do Presidente da República, que foi sempre ovacionado como uma estrela de rock em edições anteriores.
A organização conta mais de 70,2 mil participantes no Web Summit 2023, e mais de 2.600 startups, 11% das quais são portuguesas, números que são apontados como recorde, e mais uma vez destaca a participação de mulheres, em especial de fundadoras de startups. Como aconteceu noutros anos, as condições meteorológicas ajudaram à boa disposição e à possibilidade de "espraiar" o Web Summit para fora dos espaços fechados.
Veja as imagens do Web Summit 2023
A Altice Arena e os pavilhões da FIL, 5 pavilhões (um dos quais meio improvisado com duas partes separadas) onde cabem muitos expositores e 15 palcos, acolheram a movimentação acelerada, e houve espaço para tudo, entre os que procuravam conhecer o maior número de projetos aos que se deslocavam para acompanhar o maior número possível das talks. Mas também, como sempre, os que aproveitavam as experiências e as ofertas disponibilizadas, não se importando de estar em longas filas, onde também se faz "networking".
Veja a reportagem do SAPO TEK
As startups acabam por ser este ano as grandes protagonistas do evento e a Inspira foi a vencedora do Pitch Final, escolhida entre as 75 empresas que subiram ao palco principal para apresentar os seus projetos. Estar aqui é também um grande cartão de visita que se pode mostrar a potenciais investidores, e meio caminho andado para o sucesso.
Inteligência Artificial em todo o lado!
Como seria de esperar, a Inteligência Artificial dominou as atenções. Nos últimos meses a IA generativa foi um dos maiores aceleradores no mundo da tecnologia e hoje todas as empresas tecnológicas passaram a incorporar a ideia de "empresas inteligentes" ou "empresas de IA", uma tendência que se estende às startups.
A preocupação com a regulação e um desenvolvimento ético dominou muitas das apresentações e dos debates, que continuam também à volta da Internet e da necessidade de evitar que a grande rede se fragmente. O que pode ser feito para "curar" a Internet? há várias propostas mas não uma solução única. A ideia comum é que os poderes estão desiquilibrados, há uma desumanização da tecnologia e a privacidade e o poder de cada pessoa decidir o que acontece aos dados não está a ser considerado.
Curiosamente os temas do Metaverso, que dominaram edições anteriores quase desapareceram. E algumas apresentações foram quase a recordar "os natais passados" como aconteceu com a entrevista da anterior CEO da Magic Leap.
Como é tradição em todas as edições do Web Summit, o SAPO TEK foi à procura das histórias, dos motivos que trouxeram as pessoas de outros países e também portugueses ao evento. Este ano, a procura das novas tendências em torno da inteligência artificial destacou-se, mas também conhecer novas pessoas, empresas e trabalhar um pouco network de contactos. Pode ler tudo e ver a reportagem em vídeo.
Alerta aos investidores nacionais: próximos unicórnios podem criar mais valor local
Mais de 90% do investimento captado pelos sete unicórnios de origem portuguesa terá vindo de investidores estrangeiros e o valor gerado por esses investimentos também foi para fora do país, uma lição para o futuro que saiu do debate onde se procurou antecipar a próxima década do sector português da tecnologia. Para alimentar o empreendedorismo de base tecnológica em Portugal nos próximos 10 anos precisamos de menos aversão ao risco da parte dos investidores locais, mais engenheiros, mas também de uma base de talento cada vez mais diversificada. Precisamos de mais capital para fases avançadas de crescimento das startups, enquadramento fiscal mais amigável e uma comunidade mais forte.
Regulação vai matar IA?
A regulação vai matar a inteligência artificial? A pergunta deu o mote para uma sessão que juntou Cristina Fonseca, da Indico Capital Partners e Alexandre Barbosa, da Faber Ventures. Ainda não há uma resposta, mas há ideias sobre como lidar com o tema. Diferenciar a regulação por sectores e por escala de empresas vai ser fundamental para acautelar o que não é negligenciável nem condenar à nascença o que não é antecipável, porque a história da IA ainda está a escrever-se.
A IA está a "fervilhar", mas os direitos digitais não podem ser esquecidos
A influência da IA nesta edição do Web Summit é incontornável, mas entre os apelos mais efusivos de que esta tecnologia vai resolver todos os problemas do mundo, é bom saber que também há espaço para a reflexão sobre os seus riscos e consequências para a forma como vivemos em sociedade.
Tal como sucedeu no passado não muito longínquo com outras tecnologias, como as redes sociais, por exemplo, a IA está a exacerbar os problemas da sociedade. Ao acompanharmos múltiplas sessões em torno deste tema, uma coisa é clara: a resposta a este grande desafio é multifacetada e não está só nas mãos de quem desenvolve os sistemas de IA nem dos legisladores.
É cada vez mais importante mantermo-nos informados, perceber como esta tecnologia está a mudar as nossas vidas e lutar pelos nossos direitos digitais, onde se incluem a privacidade e a segurança. Contrariar o “peso” das gigantes tecnológicas quando os direitos não são respeitados é uma tarefa quase hercúlea, mas, se não houver um esforço concreto, só poderemos esperar que a mudança aconteça por artes mágicas
Lisboa vs Rio de Janeiro: os caminhos para criar uma referência regional no ecossistema de startups
Os responsáveis das cidades de Lisboa e do Rio de Janeiro, Carlos Moedas e Eduardo Paes juntaram-se no palco principal do Web Summit para trocar elogios e explicar as estratégias para afirmar cada uma das suas cidades como referências regionais no empreendedorismo. Moedas sublinhou que a abertura da cidade de Lisboa é um trunfo. Eduardo Paes sublinhou o esforço feito para criar um ambiente “amigo” dos novos negócios.
Startups com ideias para (quase) tudo
Salvar a vida de uma criança em tratamento para o cancro, criar uma música especial, eliminar barreiras linguísticas, ou dar aos idosos ferramentas para melhorar a saúde mental e física são todos bons motivos para criar uma startup e pôr a tecnologia à procura de soluções que podem fazer a diferença. Estes são os motes de alguns dos projetos que este ano foi possível ver na Web Summit. A equipa do SAPO TeK explorou mais em detalhe as propostas da startups como a Actif, ixat, Luckietech, Casperaki, VM-FI, ou Work Remote, alguns exemplos entre muitos outros.
Veja a reportagem em vídeo
Já escolheu a sua equipa no campeonato da IA? Não escolha, ainda é cedo para apostas
Albert Wenger, da Union Square Ventures, foi um dos investidores convidados para olhar para o presente e futuro do capital de risco, a partir dos palcos do Web Summit. Automação sim, mas o futuro é dos humanos, defendeu. A IA pode mudar o rumo das alterações climáticas, e não só, mas errar e acertar vão continuar a fazer parte do caminho, por isso é cedo para escolher a melhor equipa. Como lembrou o investidor, “a IA não é um clube de futebol", não vale a pena ter pressa para escolher por quem torcer. Até porque o caminho certo provavelmente não estará em nenhum dos extremos.
Diana, ajudas-me a escolher o restaurante para o jantar?
A Defined.AI, fundada e liderada por Daniela Braga, apresentou no Web Summit a Diana, uma assistente virtual que interage com voz e texto. Fala português e é o primeiro produto do consórcio Accelerat.AI, liderado pela empresa fundada pela portuguesa, depois do protótipo criado para a AMA, para ajudar os utilizadores do site ePortugal.
Equilíbrio como resposta para os desafios da IA (em muitos casos)
Estamos numa relação contraditória com a tecnologia: por um lado compramos tecnologia para ganhar mais tempo, por outro a tecnologia transformou-se num “emaranhado distrativo que nos rouba tempo para prestar atenção e para conviver”, defendeu Manny Medina, na sessão “AI as the next great equaliser?”, no primeiro dia do Web Summit.
Mesmo aplicada aos negócios, a tecnologia muitas vezes consome tempo em vez de economizá-lo, afirmou o cofundador e CEO da Outreach “de tantas aplicações que é necessário usar para realizar uma única tarefa”. Para o responsável é importante reequilibrar a relação com a tecnologia, exigindo eficiência e tempo em resposta.
“Quando a relação com a tecnologia nos rouba aquilo que queremos que ela proporcione, essa relação está equivocada”, afirmou Manny Medina
O equilíbrio também pode ser importante na área da regulação da IA , mas desde que a inovação venha em primeiro lugar, na opinião de Andrew McAfee, investigador do MIT, defensor assumido da “permissionless innovation”
Com a inteligência artificial a "passar para o lado das massas” e a ganhar cada vez mais destaque, os esforços para regular a utilização da tecnologia estão a intensificar-se. Há países e regiões a definirem as suas próprias regras, “o que poderá resultar numa fragmentação adicional do mercado digital global”, alertou.
Andrew McAfee prefere por isso tomar o lado da “inovação sem permissão”, defendendo a ideia da inovação que se vai desenvolvendo sem esperar por “autorizações”.
Encerrando o palco principal no primeiro dia de programação completa do Web Summit, Meredith Whittaker, presidente da organização que gere a aplicação de mensagens encriptadas Signal expôs aquilo que chama de “motor” das tecnológicas para ganhar dinheiro: vender os dados dos utilizadores.
Para a responsável é importante abordar as questões relacionadas com a concentração de poderes das grandes empresas de tecnologia e encontrar soluções eficazes, “em vez de simplesmente fragmentar o problema e permitir que ele se reproduza”.
Sentindo que a organização que gere “está a nadar contra a corrente num ecossistema que é dominado pela vigilância”, Meredith Whittaker afirmou acreditar que a mesma pode servir de “inspiração” a startups e outras empresas, “que querem fazer tecnologia de maneira diferente, de forma mais consciente, sem assentarem o seu negócio em modelos de vigilância massivos e perigosos”.
“É importante sermos honestos sobre a economia política do ecossistema tecnológico”, sublinhou Meredith Whittaker
Para que a história não se repita com a IA, é necessário reconhecer e corrigir estes erros dos anos 90. Algo que não será fácil, admitiu, pois já temos uma indústria da IA fundamentalmente concentrada numa “mão cheia de empresas”.
O espaço ficou um pouco mais longe do (Web Summit)
Este ano as fronteiras do espaço pareceram um pouco mais longe, com menos protagonismo (e tempo) dedicado ao setor nos diferentes palcos do Web Summit. Ainda assim, Volodymyr Levykin, CEO da Skyrora, falou sobre os avanços significativos dos últimos 10 anos, com o investimento privado, chegando a dividir as eras entre “velho espaço” e “novo espaço”, em que a criação da Space X fez diferença.
Na sessão “It's rocket science: The next generation of European spacecraft” foi ainda destacado o papel crucial do setor espacial na observação e monitorização da Terra, nomeadamente no fornecimento de uma perspetiva única e compreensão das alterações climáticas.
Apesar de cada vez mais sustentável, com a reutilização de foguetões e o uso de combustíveis verdes, o setor do espaço não deixa de enfrentar desafios, como a gestão do crescente número de satélites em órbita, que já exigem esforços internacionais para evitar colisões e que também já pedem ajuda à inteligência artificial.
Gaming é mais que jogar, pode ser um veículo para ajudar a "curar" o planeta
O Web Summit não é um palco que atraia editoras ou developers ligados à indústria do gaming, mas ainda assim houve palestras relacionadas com os videojogos, mas de uma forma diferente. A SEGA foi o principal nome presente na conferência para falar sobre o fenómeno dos VTubers ou seja, como as personagens virtuais dão a cara nos conteúdos dos streams em direto. A sua mascote Sonic tem sido utilizada pela empresa para as experiências de “transmídia”, com a personagem a saltar dos videojogos para participar em filmes, metaverso do Roblox, anúncios de televisão e outros formatos.
Por outro lado, graças à inteligência artificial generativa, as personagens virtuais podem tornar-se nos próximos grandes atletas de eSports. Pelo menos é o plano de uma das startups que propõe usar ferramentas de Web3 para treinar jogadores virtuais de Cricket, prometendo mudar o paradigma dos desportos digitais.
E se os videojogos fossem usados na ajuda às causas ambientais e sociais? Um dos painéis focou-se exatamente no poder que os videojogos têm para passar mensagens aos utilizadores, sensibilizando para causas como as mudanças climatéricas, ajudando a educar, inspirar e ajudar, sobretudo aumentar a consciência para os problemas graves que o planeta atravessa.
O SAPO TEK mudou a redação para o Web Summit e acompanha tudo o que se passa na conferência e nos eventos paralelos que acontecem em Lisboa. A agenda é longa e há muito para descobrir dentro e fora dos palcos.
Pode acompanhar tudo no nosso especial do Web Summit 2023 e também ver a transmissão em direto do palco principal com o SAPO.
Nota da Redação: A notícia foi atualizada com mais informação durante a sessão de encerramento. Última atualização 17h09
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