Em março a startup portuguesa foi uma das vencedoras do importante prémio internacional da World Summit on the Information Society na área das Tecnologias de Comunicação e Informação, com o projeto Enhance VR. O projeto assenta na utilização de tecnologias de realidade virtual e aumentada para ajudar na avaliação cognitiva de pacientes e na indústria de formação e treino e já foi implementado no Hospital dos Lusíadas.
Para conhecer melhor a startup e os seus projetos, o SAPO TEK entrevistou Amir Bozorgzadeh, cofundador e CEO da Virtuleap, empresa que conta também com Hossein Jalali no cargo de CTO. Explicando as origens da startup, o empresário de origem canadiana-iraniana, investigou a área de realidade virtual, escrevendo textos de colaboração com publicações de tecnologia como a VentureBeat e o TechCrunch durante vários anos. Tinha a certeza que as únicas aplicações críticas para a realidade virtual estavam nas áreas dos cuidados de saúde e educação.
Sobre a escolha de Portugal para estabelecer a empresa, os fundadores sabiam que tinham de embarcar num plano de produto de pelo menos dois anos, antes de o poder comercializar. “Precisávamos de um lugar com acesso a talento-chave tais como neurocientistas e developers de videojogos, juntamente com uma mistura de boa qualidade de vida e operações que fossem acessíveis financeiramente”.
Atualmente a equipa é composta por nove funcionários a tempo inteiro, a operar primariamente em Lisboa, mas abriu recentemente um escritório em Barcelona, “de forma a abrir o acesso a talento e oportunidades comerciais”. A Virtuleap incorporou a empresa em Lisboa no mesmo mês em que teve acesso a fundos da Boost VC Accelerator, que serviu de rampa de lançamento, “e o resto é história”.
Enhance VR usa mini-jogos em realidade virtual na área de cuidados de saúde e educação
Sobre o seu primeiro produto, o Enhance VR, este é composto por uma biblioteca de exercícios de treino cognitivo, com base em gamificação, ou seja, mini-jogos de realidade virtual. A lista de atividades tem crescido, sendo baseadas em ferramentas neuropsicológicas validadas, ao mesmo tempo que envolvem e motivam o utilizador, explica o findador da startup. Esses exercícios dividem-se entre seis categorias cognitivas: memória, atenção, processamento de informação, orientação espacial, flexibilidade cognitiva e resolução de problemas, assim como controlo motor.
O seu foco está em três aplicações iniciais na vertente de cuidados de saúde. A primeira é a definição de novos biomarcadores digitais de declínio cognitivo típico de demência, através de padrões de gameplay e algoritmos de machine learning. O segundo é a monitorização do declínio cognitivo, ao comparar os resultados das atividades com os testes de avaliação cognitiva que já tinham sido validados. O terceiro ponto é oferecer soluções de treino terapêutico cognitivo inovador que possam abrandar esse declínio em pacientes em risco.
A vertente de treino educacional apenas está prevista para o próximo ano, que Amir Bozorgzadeh descreve como uma espécie de “ginásio para a mente”. Este está previsto ser utilizado em escolas secundárias para ajudar os estudantes, professores e pais a melhor compreenderem as impressões digitais cognitivas das suas crianças. A tecnologia pretende ser um instrumento de combate a possíveis “crises cognitivas” que estão a acontecer no mundo através das tecnologias das redes sociais, “utilizadas por empresas como o TikTok que continuam a deteriorar a nossa capacidade para concentrar”.
Além dos Lusíadas, a startup já está a trabalhar com diversos hospitais e clínicas parceiras nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Recentemente lançou um projeto-piloto para uma comunidade de utilizadores seniores em Quioto, no Japão, reconhecido pela Organização de Comércio Externo do Japão (JETRO na sigla inglesa).
“Estamos sempre à procura de trabalhar com clínicas, investigadores e académicos numa variedade de áreas terapêuticas, tais como doenças mentais, como a depressão e esquizofrenia ou na batalha contra as doenças cognitivas como o Alzheimer".
Em fevereiro, a startup publicou um estudo que demonstra evidências preliminares do Enhance VR a servir como “medicina digital” que ajuda os estudantes universitários a combater o défice de atenção. E explica que a sua tecnologia foi desenhada de raiz para se adaptar às necessidades da população geral, assim como nichos clínicos. A sua aplicação, disponível na plataforma do Meta Quest, conta com mais de 54 mil utilizadores sem qualquer ação de marketing.
Relativamente ao prestigiante prémio WSIS, Amir Bozorgzadeh diz que desde o ano passado que a empresa tem vindo a acumular distinções, incluindo a categoria de saúde digital na Extreme Tech Challenge. “Vencer estes prémios, tal como o WSIS, certamente que nos oferece um suporte sincero por um lado, mas também o seu valor passa por nos dar exposição às pessoas em todo o mundo que poderão estar à procura de ferramentas e tecnologias como as nossas”. Acrescenta que serve de catalisador para estabelecer uma ponte entre nós e outros eventuais parceiros, que possam amplificar o impacto da sua tecnologia.
Mini-jogos criados para exercitar a mente
Amir Bozorgzadeh explicou também ao SAPO TEK o processo de desenhar e criar mini-jogos com base em investigação científica.
“Todos os nossos jogos são inicialmente desenhados por um neurocientista, aplicando investigação na neurociência”.
São depois adicionadas colaborações com especialistas em design de acessibilidade em paralelo aos designs de jogos para realidade virtual na criação de protótipos.
Estes são limitados para garantirem o máximo de acessibilidade e conforto, tanto para jovens ou adultos mais idosos. Segue-se o período de beta, lançado inicialmente como teste numa plataforma de distribuição, de forma a receberem feedback e decidirem as afinações necessárias, ou se precisam mesmo de serem redesenhados e reconstruídos. “Nós levamos a integridade do nosso conteúdo extramente a sério, porque somos orientados cientificamente no nosso núcleo”.
Veja na galeria imagens do Enhance VR:
O máximo de uma sessão de treino diário é de cerca de 15 minutos, explica o líder da empresa. E os utilizadores podem fazê-lo apenas uma vez por semana ou mês, ou de forma mais ativa. Foi também desenhada para fazer parte da rotina diária de bem-estar, tal como escovar os dentes ou fazer um jogging, mais uma vez comparando com o ginásio para a mente. Afirma que as empresas que tiverem interesse em oferecer esta solução aos seus funcionários, os benefícios de jogarem estes jogos, todos individualmente vão ter uma melhor compreensão do seu mapa cognitivo. E isso irá traduzir-se numa maior produtividade e saúde mental.
Programas-piloto, estudos e um novo produto para breve
Atualmente a empresa está à frente de uma dúzia de programas-pilotos e estudos clínicos em todo o mundo, com foco na comercialização da atual ferramenta Enhance VR, ao mesmo tempo que se prepara para lançar o seu segundo produto, chamado Cogniclear VR.
O Cogniclear VR é uma ferramenta igualmente assente em realidade virtual, que procura detetar e despistar doenças neurodegenerativas relacionadas à demência (ADRD) e Alzheimer (AD). A empresa diz que a deteção precoce de problemas cognitivos é crucial para uma intervenção efetiva e a tempo, aumentando as hipóteses de manter um estilo de vida mais saudável e independente. Por norma, os sinais e sintomas são subtis e apenas notados por membros da família ou tratadores. A empresa explica que estes sintomas não são objetivamente mensuráveis, podendo ser facilmente descartados pelos médicos quando as pessoas finalmente pedem ajuda.
O papel da tecnologia Cogniclear VR é recolher dados cognitivos e de comportamento utilizando, mais uma vez, cenários gamificados que exploram as habilidades cognitivas. Este é composto por 15 exercícios imersivos que avaliam a memória, flexibilidade cognitiva, atenção, solução de problemas, localização temporal, orientação espacial e controlo motor. Estes dois últimos têm funcionalidades únicas em realidade virtual. Para usar a app é necessário um headset de realidade virtual e controladores compatíveis.
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