O Web Summit foi palco de uma estranha conversa a três, para discutir se a China estaria a eclipsar o poderio tecnológico que se faz nos Estados Unidos. Estranho, porque os três intervenientes eram todos chineses, e sem um “representante” americano para refutar as constatações feitas. A saber-se, estavam presentes Chadwick Xu, o CEO da Shenzhen Valley Ventures, William Joy, o novo unicórnio chinês, criador da plataforma Video++ e Yang Ge, uma jornalista do Financial Times China. A moderar, um americano, Andy Serwer jornalista da Yahoo! Finance, sem a óbvia voz para contrapor o referido.
Mais estranho ainda foi assistir à posição humilde dos oradores, começando pela jornalista que referiu que não considera que a China já tenha ultrapassado os Estados Unidos, na liderança da tecnologia global, mas está em posição para ser a segunda maior potência tecnológica. A primeira razão que destaca é a inovação no seu modelo de negócio nas últimas décadas, assente na aplicação de tecnologia existente. Já os Estados Unidos, na sua visão, são bons a criar tecnologia original. Ainda assim, refere que já existem muitas empresas chinesas a investirem em tecnologia de origem. A segunda razão que aponta para o domínio americano é o volume de investimento na investigação e desenvolvimento. Segundo um estudo apontado pela jornalista, os Estados Unidos investem cerca de cinco vezes mais do que os chineses no sector.
É claro que existem exceções, como a gigante Huawei que serve de exemplo de como o investimento na inovação tem gerado retorno, no que diz respeito à sua posição no mercado.
Já o mentor da Video++ explicou que muitas das grandes empresas, como a sua, surgem de ideias “tresloucadas”, e o seu unicórnio até nasceu nos Estados Unidos, por estranho que pareça, quando estava a assistir um jogo de futebol em Boston, enquanto estudava. Durante a partida viu um jogador com uns ténis que gostou, e queria comprar uns, levando-o a pesquisar sem sucesso no Google. Assim, criou uma plataforma que permite interagir com o vídeo e obter informações, uma espécie de Shazan para imagem. Neste caso, bastava-lhe clicar nos ténis durante a partida para saber de imediato onde comprá-los.
William Joy destacou ainda que é necessário abraçar a tecnologia, e até deu um bom exemplo português. Refere que durante o seu jogging diário apenas leva consigo o seu smartphone, para ouvir música, fazer as chamadas que tem de fazer, usar as aplicações de fitness e usar a carteira eletrónica para pagar água, por exemplo. Mas em Portugal, teve de carregar consigo moedas e notas, e não apenas o smartphone, pois nenhuma loja permitia o pagamento através do dispositivo (provavelmente não conhecia o MB Way).
Já Chadwick Xu destaca que há uma grande diferença entre os competidores americanos e chineses. Na América existem gigantes tecnológicos como a Amazon, Google, Facebook ou Paypal, por exemplo a competirem entre si, enquanto na China apenas sobressaem a Alibaba e a Tencente. O objetivo delas não é “vencer” o adversário, mas sim como conseguir mais clientes. No entanto, as empresas americanas têm dificuldade em penetrar na China, mas igualmente os “colossos” chineses não conseguem ter sucesso no ocidente.
E isso levou à questão que todos nós já conhecemos, que diz respeito ao “segredo” para construir um negócio na China, e nesse campo, Wiiliam Joy reforça que é necessário encontrar um parceiro chinês, que conheça o mercado. Deu mesmo o exemplo da Uber, que deu a pasta de CEO para a China a um administrador chinês em 2014 e obteve sucesso.
De facto, foi um “talk” estranho, colocar um grupo de chineses a admitirem que não são a potência tecnológica mundial, mantendo a “taça” no seu “rival” Estados Unidos. Pelo menos para já…
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