Na feira de tecnologia em Barcelona não faltam portugueses, embora este ano a língua claramente dominante fosse o espanhol. Numa feira mais pequena, com menos expositores e visitantes, as empresas nacionais que habitualmente marcam presença com stands de maior dimensão estiveram ausentes, caso da WiT Technologies, da WeDo Technologies e Aptoid.
O SAPO TEK foi à procura dos portugueses no MWC22 mas na lista das companhias registadas como oriundas de Portugal encontrámos apenas cinco nomes, a Clynx, iLoF, Koala Tech, Nu-Rise e Squill, quatro das quais estava, no pavilhão do 4YFN, a área dedicada às startups, que habitualmente ficava localizada na Fira Montejuic mas que desde o ano passado passou a estar junta com a exposição e conferência na Fira Gran Via.
A Koala Tech é a única empresa listada que está fora da 4YFN, com um pequeno stand no pavilhão 5. A empresa que nasceu de 2018 tem sede no Madan Park na Caparica e Pedro Viegas, um dos fundadores, explicou ao SAPO TEK que a decisão de estar no MWC foi para explorar o potencial de mercado da solução que está a desenvolver e que pretende reduzir o consumo de energia elétrica das antenas de telecomunicações e amplificar o sinal, aumentando a eficiência de 10 para 50.
É ainda um protótipo e a Koala Tech já tem patentes registadas, das quais 9 já aprovadas nos EUA e também registadas na Europa, estamos a acabar de fazer o registo na China e na Coreia, mas ainda precisa de licenciamento e certificação da tecnologia. “Estamos agora à espera de subir esse degrau do para implementação no mercado, está tudo fundamentado e patenteado”, afirma. Mesmo assim tem recebido no MWC sinais de interesse de construtores de antenas que podem incorporar a tecnologia para terem uma vantagem competitiva e por isso o balanço é positivo.
A empresa começou com o investimento de um Business Angel que suportou o início da atividade e o desenvolvimento do protótipo, e agora procura o reforço do capital para desenvolver o produto.
Pedro Viegas admite que o investimento para estar no MWC é significativo “para uma empresa portuguesa” e acolhe com agrado a ideia de um Pavilhão de Portugal onde pudessem estar com outras companhias e dar visibilidade para a tecnologia que se desenvolve em Portugal.
4YFN e as startups que podem dar cartas no futuro
O espaço do 4YFN, no pavilhão 6, é onde se concentra-se o maior número de empresas, startups ainda de pequena dimensão e empreendedores com ideias que ainda têm de prestar provas e procurar financiamento. É também aqui que se encontra o maior número de portugueses listados no MWC22, e o SAPO TEK foi à procura das suas histórias.
A iLoF já é repetente no MWC onde esteve no ano passado, convidada como finalista do prémio FYFN que acabou por vencer, o que permitiu repetir a presença. Luis Valente, CEO & Co-Founder da iLoF - Intelligent Lab on Fiber e considerado uma das personalidades do Forbes 30 Under 30 explica que a empresa tem uma tecnologia para acelerar o desenvolvimento de medicamentos para a doença de Alzeimer, que reduz tempo e custos de rastreio, e mantém base de operação em Oxford e no Porto. No ano passado, no EIT Health, a tecnologia foi considerada uma cinco inovações europeias no setor da saúde a seguir em 2021, e a CBInsights, classificou a empresa como uma das 150 start-ups de saúde digital mais promissoras do mundo. A iLoF já teve acesso a várias rondas de investimento, uma das últimas com a Microsoft, estando à espera de concretizar em breve uma nova ronda que deverá ser anunciada ainda este mês.
A presença no MWC em 2021, em período após a primeira fase da pandémica, acabou por se revelar muito importante para a empresa e Luis Valente adiantou ao SAPO TEK que foi aqui que foi feito o primeiro contacto com 2 investidores que haveria de dar frutos.
“Estamos habituados a ir ao Web Summit, e em 2020 até fomos convidados a estar no palco principal de abertura, e o evento em Lisboa é muito importante, mas o MWC está a ser uma boa surpresa porque dá acesso a outro tipo de contactos”, explica o CEO e Co-founder da iLoF. Apesar da feira ser mais dedicada à tecnologia, os resultados estão acima das expectativas. “Acho que esta fusão está a funcionar muito bem, não é só tecnologia e telecomunicações. Não trocava o Web Summit mas tenho bons feelings, acho que é um evento muito importante”, afirma.
Também para Luis Valente um Pavilhão de Portugal fazia sentido. O responsável da iLof diz que a Startup Portugal tem feito um trabalho importante de internacionalização das startups e no ano passado a empresa participou num evento em Madrid onde esteve “um polo de empresas de health tech, deep tech e uma boa representação”, e acho que beneficiaríamos de uma participação conjunta, ainda por cima “é aqui tão perto”.
Também virada para a área da saúde, a Clynx estreou-se este ano no MWC através da rede da EIT Health e Joana Pinto e Gonçalo Chambel estão satisfeitos pela aposta. “Estamos a ver o que podemos encontrar aqui, não estamos à procura de algo específico, mas está a ser muito interessante”, explica o CTO da empresa.
A Clynx foi em 2019 um dos projetos vencedores da segunda edição do GovTech, o concurso de ideias lançado pelo Governo e foi no ano passado selecionada para o programa Grow do Grupo José de Mello em colaboração com a CUF. Joana Pinto, Co-foundadora and CEO, explica que o projeto Motiphy+ está a avançar a bom ritmo e que pretende revolucionar a fisioterapia com a possibilidade dos pacientes fazerem os exercícios em casa com acompanhamento de um vídeo, aplicando uma lógica de gamificação que torna as sessões mais divertidas.
A ligação das áreas de saúde e tecnologia é cada vez mais comum e por isso Joana Pinto acredita que faz sentido a presença em feiras como o MWC para mostrar as soluções desenvolvidas e até conhecer as soluções de outras empresas presentes. Também nesse sentido a empreendedora acredita que um stand de Portugal traria mais visibilidade ao que se faz por cá.
“Os países que se querem afirmar na área do empreendedorismo e inovação têm um stand e é um bom ponto de partida, mesmo para outros empreendedores. E isso permitiria a Portugal ter aqui também uma mostra do que se faz em termos de tecnologia”, afirma.
Também a Nu-Rise e a Squill participaram como expositores no 4YFN mas não conseguimos encontrar os representantes para perceber as suas impressões. A Nu-Rise tinha feito uma apresentação no palco dos empreendedores ontem de manhã mas não estavam no stand quando visitámos essa área e a Squill tinha estado só nos dias primeiros dias da feira, em regime rotativo de ocupação do stand com outra empresa.
Pavilhão de Portugal é uma hipótese?
Os pavilhões de países multiplicaram-se este ano no MWC, e apesar do pavilhão da Rússia ter sido banido, as representações nacionais são significativas. Para além da Espanha, que também tinha presenças regionais como a da Catalunha, o Reino Unido, Japão, Coreia, Israel, França e o Canadá são alguns dos que têm uma dimensão mais relevante, de entre os 37 pavilhões de países listados no MWC.
A possibilidade de Portugal ter uma presença mais significativa no MWC já se fala há vários anos e é uma hipótese que não tem sido afastada, mas que não se concretizou. O número de empresas portuguesas nas feiras de tecnologia é sempre reduzido e não representativo da aposta do país no digital, nem das soluções que são desenvolvidas em Portugal, mas os empreendedores queixam-se dos custos elevados para estas iniciativas de divulgação, que nem sempre trazem retorno imediato.
Daniel Alves, CEO da Papersoft, admitiu que um pavilhão nacional "é uma opção que reduz muito os custos de participação das empresas, em oposição à presença de forma isolada, pelo que poderá tornar o custo-benefício atractivo", admitindo que nessa situação poderia considerar voltar a expor em Barcelona. A empresa esteve como expositora em 2017 e 2018 e nos últimos anos apenas como visitante/participante.
O SAPO TEK aproveitou a presença do secretário de Estado da Transição Digital, André de Aragão Azevedo, no MWC, onde esteve presente em várias iniciativas e reuniões relacionadas com a Europe Startup Nations Alliance para perceber se esta é uma hipótese a recuperar em futuras edições.
“Uma iniciativa como essa tem de ser avaliada e enquadrada num âmbito mais vasto do que o Ministério da Economia e Transição Digital, que englobe a internacionalização”, afirma admitindo porém que “para nos posicionarmos como uma marca internacional com foco muito específico no digital, pode fazer sentido um pavilhão de Portugal”.
André de Aragão Azevedo explicou que a ideia do Governo é também de repensar a presença de um pavilhão de Portugal no Web Summit. “Gostávamos de tivesse uma dinâmica diferente e uma escala enquanto país anfitrião, em vez de estar distribuída por vários stands mais pequenos”, afirma.
O objetivo é pensar agora nestes investimentos de forma integrada. “No caso do Web Summit Portugal já está a investir e temos de perceber como capitalizamos o investimento tirando partido de uma presença mais expressiva e não fragmentando a presença”, enquanto nos roadshows internacionais é preciso “ver as feiras com mais retorno e visibilidade, ver o investimento que implica e identificarmos fontes de financiamento”.
Mesmo assim o secretário de Estado lembra que é preciso algum realismo, até porque alguns dos pavilhões de países no MWC são dinamizados por economias de maior dimensão. “Temos de ver dados objetivos para ver que retorno traz, para termos uma embaixada significativa, abrindo novos mercados e mostrando o país que esta a apostar”, sublinha.
O SAPO TEK está a acompanhar todas as novidades e à descoberta de novidade no MWC22, por isso acompanhe aqui as principais notícias diretamente do espaço da feira e do congresso em Barcelona.
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