Guiada por propósito e governança, a digitalização pode equilibrar a dimensão económica, social e ambiental, contribuindo para um futuro sustentável. A adoção de metodologias e métricas claras para avaliar os impactos das tecnologias serão essenciais nesse processo, defendeu-se no painel “European Green Digital Coalition: Measuring the enabling impact of digital technologies on the climate”, do Digital with Purpose Global Summit.
Com a participação de Junis Rindermann, da PwC, Angelo Fienga, da Cisco EMEA, Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga, e Déborah Goll, da European DIGITAL SME Alliance, o debate iniciou com uma provocação do moderador Ilias Iakovidis, sobre os objetivos da digitalização. "A digitalização tem três dimensões: económica, social e ambiental. Mas beneficia de forma igual as três? Para o conselheiro da DG CONNECT, da Comissão Europeia, a resposta é negativa.
Historicamente, a digitalização focou-se principalmente nos ganhos económicos - eficiência, rapidez e redução de custos - “muitas vezes à custa de criar desigualdades sociais e ignorar o impacto ambiental”. Mas, embora tenha gerado desigualdades, também trouxe benefícios significativos, acrescentou. “Por exemplo, durante a pandemia, muitas pessoas mantiveram os seus empregos graças ao teletrabalho, uma possibilidade viabilizada pelas tecnologias”.
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Ao longo de 30 anos, a digitalização ignorou o meio ambiente, e só recentemente começou a reconhecer a necessidade de práticas mais verdes, referiu-se no painel. E apesar de muitas empresas afirmarem estar a reduzir as suas emissões, a verdade é que os níveis globais continuam a aumentar.
"Com governança e propósito, a digitalização pode ser usada de forma sustentável", defenderam os participantes do painel. E isso passa pela adoção de métricas como as desenvolvidas pela European Green Digital Coalition.
Lançada em 2021 pelo Comissário Europeu Thierry Breton, a European Green Digital Coalition é composta por 37 empresas líderes do setor de TI, comprometidas em utilizar métodos científicos para avaliar e reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) através de soluções de TIC em diversos setores, incluindo energia, transportes, construção, agricultura e cidades inteligentes.
Resumidamente, desenvolveu uma metodologia para medir o impacto das soluções digitais, que permite avaliar se essas soluções são realmente benéficas. "Se todos estão comprometidos em reduzir emissões, por que continuam a aumentar globalmente?", questionou Ilias Iakovidis. Com as métricas da EGDC, empresas e instituições podem medir o desempenho das suas soluções digitais em termos de sustentabilidade, defendeu.
A disponibilidade de dados para alimentar essas métricas é fundamental para monitorizar o progresso e ajustar estratégias conforme necessário, sublinhou-se. O uso dessas métricas permite que empresas, autoridades locais e instituições financeiras compreendam melhor o impacto ambiental das suas ações digitais e façam escolhas mais informadas.
A implementação de métricas sustentáveis foi apontada como vital para processos de contratação pública. Em Portugal, por exemplo, as instituições públicas podem usar essas métricas para incorporar critérios de sustentabilidade nas licitações, além do preço e valor dos contratos, sugeriu-se. Isso garantiria que as soluções digitais adotadas não só sejam economicamente viáveis, mas também contribuam para a sustentabilidade a longo prazo.
“Há infraestruturas, efeitos indiretos que ainda não dominamos. Ainda não conseguimos fazer tudo, mas pela primeira vez na história temos uma métrica que nos permite saber se estamos ou não a fazer o melhor com a digitalização”, rematou Ilias Iakovidis. “Temos métricas. Vamos usá-las”.
O SAPO TEK é Media Partner do Digital with Purpose Global Summit 2024 e pode acompanhar tudo no dossier que criámos.
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