Com o ano 2020 “arquivado”, é tempo para projetar o que nos reserva em 2021. A pandemia de COVID-19 foi o grande assunto de 2020 e promete continuar a dar que falar durante muito tempo. Mas a doença teve um grande impacto no desenvolvimento da tecnologia, na aceleração digital, obrigando as pessoas e empresas a adaptarem-se muito rápido. E por isso, durante 2021 há muitos efeitos e tendências tecnológicas herdadas do ano passado que vão continuar a ser exploradas e aumentadas.
Algumas das principais consultoras tecnológicas já teceram as suas previsões tecnológicas para 2021, ainda que em algumas situações os seus efeitos se prolonguem por mais anos. A IDC projetou as suas tendências para os próximos cinco anos. Também a Gartner e a Deloitte já lançaram os seus dados para 2021, dando mais importância a um ou outro tema.
No entanto, existem alguns temas incontornáveis e unânimes entre as especialistas, como a “explosão” da cloud nas tecnologias de informação das empresas. As videoconferências vão continuar a ser importantes para servir o trabalho remoto e o 5G vai continuar a expandir-se à medida que os países começam a desenvolver as suas infraestruturas. Inteligência artificial e Edge IA serão temas explorados no novo ano. E os sistemas de realidade virtual e aumentada vão duplicar face a 2020.
Conheça algumas das principais tendências para 2021:
1 - Tecnologias de informação baseadas em cloud
Segundo a IDC, baseado nas lições que se aprendeu, até ao final de 2021, cerca de 80% das empresas vão introduzir mecanismos de mudança para uma infraestrutura baseada em cloud, usufruindo de aplicações que são duas vezes mais rápidas que antes da pandemia. Já a Gartner refere-se à “cloud distribuída”, em que os serviços cloud são divididos em diferentes locais físicos, mas a administração, operação e evolução mantêm-se na responsabilidade do fornecedor público.
Nesta visão, permitir às empresas que tenham acesso a estes serviços físicos ajudam em situações que obrigam a cenários com baixa latência, reduz o custo dos dados e ajuda a cumprir leis que obriguem a manter os dados numa área geográfica específica. Este cenário permite às organizações beneficiar também de cloud pública, reduzindo os custos na gestão de uma cloud privada.
O crescimento da cloud, conduzida pela pandemia, parece ser a principal tendência de 2021 para as três especialistas. Para a Deloitte, a migração das empresas para a cloud torna-as mais ágeis, permite-lhes poupar dinheiro e claro, é um veículo de inovação. A especialista afirma que muitos poderão explorar novas formas de explorar a tecnologia de cloud para criar valor. E num futuro próximo, as tecnologias de cloud podem tornar-se soluções dominantes entre todos os tipos de negócios.
No entanto, uma das consequências da crise pandémica vai ser ultrapassar aquilo que é chamado a “dívida técnica”, que foi acumulada, até pelo menos 2023. Cerca de 70% dos CIOs vão ficar ofuscados por este problema, causando um stress financeiro, alguma falta de inércia na agilidade TI, forçando a migração para a cloud. A IDC explica que muitos CIOs tiveram de fazer atalhos, decidir literalmente coisas de uma noite para a outra, saltando protocolos de TI importantes para resolver problemas imediatos. E isso causou uma dívida técnica que necessita ser ultrapassada.
2 – Videoconferência para trabalho remoto e não só
Devido ao isolamento devido à pandemia, as empresas e as pessoas foram obrigadas a adaptarem-se às circunstancias, usando as diversas aplicações de videoconferências para o teletrabalho ou ensino à distância. Segundo o IDC, com tudo o que se aprendeu, até 2023, vão adotar sistemas híbridos criados de raiz. A ideia é que todos os trabalhadores tenham acesso a todos os recursos necessários e de forma segura para executarem os seus trabalhos, da mesma forma consistente e contextual. E seja no seu equipamento preferido ou local de trabalho, seja remotamente ou na empresa ou mudando entre locais, as soluções vão permitir essa dinâmica.
A Deloitte afirma que a pandemia obrigou às tendências de telemedicina, em que as consultas dos médicos passaram a ser feitas através de videoconferências. A especialista afirma que os utilizadores com mais de 65 anos foram obrigados a compreender estas tecnologias, revelando-se vantajosas pois dispensa deslocações, na maioria das vezes.
Nesse sentido, as consultas por vídeo vão crescer globalmente em 5% em 2021, um crescimento significativo, quando em 2019 apenas se estimava crescer 1%. “Mesmo um ponto percentual é significante, considerando os 8,5 mil milhões de consultas, valendo cerca de 500 mil milhões de dólares, nos 36 países da OCDE em 2019. Mesmo que numa era pós-pandemia as consultas virtuais desçam, nunca vão descer aos números pré-pandémicos. Num estudo realizado nos Estados Unidos, este formato reduz o tempo das consultas em 20% e os tempos de espera caíram em 50% em Nova Iorque e 75% em São Francisco. No entanto, há muitas pessoas céticas e continuam a preferir o contacto físico com o médico para o diagnóstico dos seus sintomas.
3 – Inteligência artificial e Edge IA vai acelerar Indústria 4.0
Estima-se que até 2023, as empresas vão investir em soluções de inteligência artificial para tornar os seus produtos e serviços mais inteligentes. A IDC afirma que um quarto das empresas G2000 vão adquirir pelo menos uma startup ligada a software de IA, de forma a ter os skills e propriedades intelectuais diferenciadoras. E deu exemplos: McDonalds, IKEA, Mastercard, Nike ou Walmart que já fizeram esse tipo de aquisições.
Há ainda um conceito denominado por Edge IA ou intelligent edge que combina conectividade wireless avançada, capacidade de processamento compacto, e IA ligados aos equipamentos que usam e geram dados. A Deloitte prevê que em 2021 que o mercado de intelligent edge valha 12 mil milhões de dólares. O aumento será conduzido primariamente pelas empresas de telecomunicações e sua expansão das redes 5G, juntamente com a explosão dos fornecedores de cloud.
Para a Gartner, a engenharia de IA vai facilitar a performance, escalabilidade e confiança nos modelos de inteligência artificial, demonstrando o real valor dos investimentos na tecnologia. Esta engenharia de IA oferece um caminho para tornar a inteligência artificial como parte do desenvolvimento mainstream, em vez de projetos especializados e isolados. Vão ainda ser dados importantes no aspeto da administração da IA, tornando-se mais responsável a lidar com assuntos como a confiança, transparência, ética, justiça, interpretação e conformidade.
4 – Realidade virtual e aumentada vai duplicar face a 2020
As especialistas afirmam que os sistemas de realidade virtual e aumentada vão crescer em 2021, levando as empresas a fazer grandes investimentos. Segundo a IDC, as operações de TI durante a pandemia obrigaram a dispersar recursos para locais essenciais que se tornarem vitais para muitos negócios: hospitais, fábricas, centros de transporte e muitos espaços onde os negócios mudam rapidamente. Para além da realidade virtual, outras inovações críticas como a IoT, robótica, impressão 3D, entre outros, receberam investimentos. E a especialista defende que até 2023 vai haver uma aceleração de 80% de investimento nestes recursos.
A Deloitte afirma que a educação e a área empresarial vão optar pela realidade virtual, aumentando a popularidade da tecnologia. Os equipamentos de realidade virtual, aumentada e mista vão crescer 100% em 2021 quando comparados com os níveis de 2019. O medo da infeção de COVID-19 levou a muitas empresas usar o sistema para treinar os seus colaboradores, assim como os estudantes utilizaram no ensino, em vez de pessoalmente. A pandemia acelerou a oportunidade de demonstrar o valor da tecnologia, tornando-se mais barata e acessível, e sobretudo mais segura do que fisicamente.
5 – Operações descentralizadas
As especialistas defendem que as operações realizadas em qualquer local serão vitais para superar a COVID-19. Este modelo operacional permite aos negócios serem disponibilizados, entregues e acessíveis em qualquer local, onde os clientes, empregados e parceiros de negócios podem operar em ambientes remotos, defende a Gartner.
Exemplo disso são as entidades bancárias baseadas em aplicações móveis, desde as transferências de valores à abertura de contas sem qualquer interação física. E mesmo que isso não signifique descartar os espaços físicos, estes têm de estar digitalmente otimizados, como por exemplo, pontos contacless nas caixas de pagamento das lojas.
A IDC salienta os sistemas híbridos e até 2023 vão surgir soluções de design criadas de raiz. Até aqui as empresas têm sido obrigadas a adaptarem-se às circunstâncias, mas a ideia é que todos os trabalhadores tenham acesso a todos os recursos necessários e de forma segura para executarem os seus trabalhos, da mesma forma consistente e contextual. E seja no seu equipamento preferido ou local de trabalho, seja remotamente ou na empresa ou mudando entre locais, as soluções vão permitir essa dinâmica.
6 – Sistemas de cibersegurança mais eficazes
Se houve uma área colocada constantemente à prova durante a pandemia foi a cibersegurança. Os ataques aumentaram exponencialmente, aproveitando a ansiedade e a necessidade de informação sobre a doença, sujeitando-se a campanhas de phishing e ataques de rasonware.
A Gartner prevê sistemas mais “apertados” de cibersegurança, numa arquitetura mais escalável, segura e flexível no seu controlo. Até aqui muitos assets estão localizados fora do perímetro tradicional de segurança; mas o sistema Cybersecurity Mesh permite essencialmente criar perímetros de segurança em torno da identidade de uma pessoa ou uma coisa. Permite respostas de segurança mais modelares.
De recordar que a Comissão Europeia apresentou a sua Estratégia de Cibersegurança que prevê a criação de Centros de Operações de Segurança na UE, que servirão de “escudo de cibersegurança” e permitirão prevenir e responder rapidamente a ciberataques. Os sistemas são baseados em inteligência artificial, que irão constituir um verdadeiro “escudo de cibersegurança” para a União Europeia ser capaz de detetar, suficientemente cedo, sinais de ciberataques de maneira a permitir a tomada de ações proactivas antes que os danos ocorram.
7 – A tecnologia 5G vai crescer
Mais uma vez, a pandemia veio atrasar o desenrolar das redes e infraestruturas do 5G em muitos países, incluindo Portugal, assim como a atrasar os respetivos leilões das frequências. Durante 2021 prevê-se uma retoma em força do desenvolvimento da quinta geração móvel. A IDC espera que o mercado global cresça 1,3% numa base anual até 2024.
Curiosamente, a Deloitte destaca que os mitos sobre os riscos de saúde ligados ao 5G serão desmistificados, e que estes não têm base fatual para preocupações. Para a consultora, em 2021 deverão ser feitas campanhas de educação para eliminar dúvidas e medos populares, mas estas devem ser consistentes e competentes, e que devem começar o quanto antes.
Prevê-se ainda um aceleramento na adoção das RAN (radio access networks) num formato aberto e virtualizado, permitindo aos operadores das redes um maior potencial para reduzir custos e aumentar a capacidade de oferta dos serviços.
8 – As televisões 8K vão começar a ser mais acessíveis e populares
A resolução 4K é cada vez mais banal e um standard nas televisões e monitores em casa. E muito contribuíram os conteúdos, como alguns canais, mas também os serviços de streaming e claro, as consolas de videojogos. O passo seguinte é o 8K, que fabricantes como a Samsung, LG e Sony começam a colocar no mercado, ainda que a preços um pouco proibitivos. Mas isso faz parte do ciclo.
A Deloitte estima que durante 2021, apenas nos Estados Unidos, as vendas das televisões 8K podem chegar aos 5 mil milhões de dólares. E isto sem contar com outros equipamentos e serviços para criar conteúdos 8K que podem acrescentar mais algumas centenas de milhões de dólares.
9 – Aceleração da automatização e Hiperautomatização
A Gartner salienta a ideia da Hiperautomatização, ou seja, que tudo o que pode ser automatizado numa organização deveria ser mesmo automatizado. A especialista afirma que muitas organizações são suportadas por um “emaranhado” de tecnologias não interligados e otimizados, e para a aceleração do negócio digital é necessário maior eficiência, velocidade e democratização dos processos.
A mesma previsão, ainda que a longo prazo, é feita pela IDC, salientando que em 2023, vai emergir um ecossistema de cloud com controlo expandido dos recursos, com análises em tempo real, que vão servir de plataforma base de qualquer TI e iniciativas de negócio automatizadas em qualquer local. A IDC refere que as empresas devem deixar de estar apenas dependente dos modelos pré-estabelecidos e focar-se em soluções automatizadas construídas numa plataforma adaptativa, autorregulada e baseada em cloud, que possa ser acedida de qualquer local, mas governada centralmente.
10 – Internet de Comportamento: aumento na utilização de dados na interação com as pessoas
A Gartner avança com o termo Internet of Behavior (IoB), ou Internet de Comportamento, conduzido pela forma como se recolhe e utiliza dados que conduzam a mudanças de comportamentos. As organizações vão melhorar não só a quantidade de dados recolhidos, como terão maior capacidade de combinar as informações de diferentes fontes, afetando a forma como as empresas interagem com as pessoas.
Nos exemplos dados, em veículos comerciais das empresas, os dados telemétricos podem monitorizar o comportamento dos condutores, desde travagens repentinas ou curvas agressivas, e dessa forma é possível melhorar a performance dos mesmos.
A IoB pode recolher, combinar e processar dados de diferentes fontes: desde dados comerciais; dos cidadãos através de informações recolhidas pelo sector público e agências governamentais; redes sociais; reconhecimento facial de domínio público; e geolocalização.
A Gartner entende que o aumento da sofisticação da tecnologia que processa dados vai permitir esta tendência a crescer. No entanto, salienta que IoB pode ter implicações éticas e sociais dependendo dos objetivos e resultados do seu uso individual. Por isso, os reguladores da privacidade vão ter um grande impacto no crescimento da tecnologia.
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