A notícia tinha sido avançada no fim de semana pela Reuters dizendo que a Huawei iria ter mais duas semanas de suspensão do bloqueio económico imposto pelos Estados Unidos, mas afinal a Administração Trump garantiu hoje mais uma derrogação de 90 dias antes de impôr as sanções. É a terceira vez que o bloqueio é adiado, depois de ter sido anunciado em maio de 2019, e fixa agora uma nova data a 16 de fevereiro de 2020 para a aplicação efetiva das novas sanções.
A Huawei foi colocada em maio na lista negra dos Estados Unidos, impedindo qualquer venda de produtos e serviços de empresas norte americanas à chinesa, mas dois prolongamentos sucessivos do prazo por 90 dias tinham empurrado a data para 19 de novembro. À semelhança das datas anteriores, era esperada hoje uma decisão, que acabaria por surgir logo cedo pela manhã (nos Estados Unidos) e com um documento citado pela imprensa internacional .
Para que serve esta extensão do prazo de aplicação do bloqueio? Segundo a informação partilhada, pode permitir à Huawei completar alguns negócios pendentes antes de ser completamente barrado o acesso a tecnologia norte americana, mas também aos operadores que usam a tecnologia para fazerem a transição. O secretário de Estado do Comércio terá admitido à Fox Business Network que alguns operadores em zonas rurais nos Estados Unidos precisavam destas licenças temporárias porque estão dependentes da Huawei nas suas redes 3G e 4G.
"Já existem problemas suficientes com serviços de telefone nas comunidades rurais - não queremos deitá-las abaixo. Por isso, um dos principais propósitos das licenças temporárias é permitir que estes continuem a operar", afirmou Wilbur Ross.
Tudo indica porém que não irá resolver o principal problema da área ed telemóveis, que passa pela impossibilidade de lançar novos smartphones com serviços Google.
Sinais contraditórios numa "guerra" que já vai longa
O bloqueio comercial à tecnológica chinesa tem sido alvo de vários sinais contraditórios. Depois de ter sido considerada suspeita de espionagem através da instalação de backdoors nos seus produtos, algo que nunca foi provado, a Huawei foi colocada na lista negra dos EUA em maio, e desde então está impedida de fazer negócios com as empresas norte americanas, o que tem resultado em impactos significativos na sua atividade, sobretudo em relação ao lançamento de novos smartphones, que dependem do sistema operativo Android. Em setembro a Huawei anunciou o novo Mate 30, com uma versão básica do Android mas sem acesso aos serviços Google Mobile Services, mas o smartphone ainda não está a ser comercializado na Europa.
Várias tecnológicas norte americanas terão pedido à Administração Trump para levantar o bloqueio comercial para continuarem a vender produtos e serviços à Huawei, mas sem sucesso. O presidente dos Estados Unidos chegou a admitir que seriam permitidas licenças específicas mas estas autorizações ficaram congeladas no Departamento de Comércio norte americano.
Plano B para os smartphones?
A Huawei tem vindo a trabalhar num plano B para colmatar a possibilidade do bloqueio se tornar efetivo, mas sempre de forma diplomática e admitindo que na área dos sistemas operativos o Android da Google será sempre a primeira opção. A empresa desenvolveu o sistema operativo HarmonyOS mas o ecossistemas de aplicações é a principal preocupação, apesar do forte investimento que a companhia está a colocar no apoio a programadores para desenvolverem as suas apps para esta plataforma.
De resto, e em termos de impacto comercial, a Huawei tem mostrado um crescimento sólido de receitas, com uma subida de 24,4% nos primeiros nove meses do ano. Ainda na semana passada a empresa comunicou que vai duplicar o salário dos seus colaboradores e oferecer um prémio a quem ajudar a desenvolver tecnologia alternativa a componentes norte americanos.
Nos smartphones a empresa continua a crescer e a aproximar-se da Samsung, mas sofreu perdas fortes nas Europa, sendo que Portugal foi também afetado pela falta de confiança dos consumidores. "O bloqueio que os Estados Unidos colocaram à Huawei está a começar a expôr a gravidade da situação em que a empresa se encontra no segmento de smartphones", explicou Francisco Jerónimo, vice presidente de equipamentos da IDC EMEA. Mesmo assim, o analista diz que "a queda foi menor que o previsto, uma vez que, durante o verão houve um esforço grande por parte dos retalhistas e operadores em escoar as unidades em stock".
Segundo o Wall Street Journal, a Federal Communications Commission (FCC) estará a preparar-se para votar uma proposta que coloque a Huawei e a ZTE como ameaças à segurança nacional, impedindo a venda de infraestruturas de comunicações nos Estados Unidos e obrigando mesmo à substituição de todo o equipamento das duas empresas que está a ser usado por operadoras norte americanas.
O SAPO TEK já contactou a Huawei para tentar obter uma reação a este adiamento e está aguardar uma resposta.
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