França inaugurou esta terça-feira a primeira das quatro gigafábricas que o país vai acolher, num investimento de mais de 2 mil milhões de euros, quase metade suportados pelo Estado francês e o restante pelas empresas promotoras, segundo números avançados pela Reuters.
Este novo investimento representa um marco para a região, mas também para França, no âmbito do esforço que todos os países da União Europeia têm vindo a fazer para captar investimentos industriais, capazes de gerar emprego, know how e resiliência, face a outras regiões do globo.
Este projeto em concreto resulta de uma parceria entre três empresas, duas das quais fabricantes de automóveis, que por esta via vão conseguir reforçar em muito a capacidade de produzir baterias de lítio para os seus carros elétricos, na região. A Automotive Cells Company, é uma joint-venture entre a Stellantis, a Mercedes e a TotalEnergies, que até 2030 prevê criar cerca de 2.000 novos empregos em França e que neste primeiro projeto lidera um investimento de 850 milhões de euros. O plano estratégico da ACC, no entanto, é mais ambicioso, e está já prevista a inauguração de outras duas fábricas idênticas, na Alemanha (2025) e em Itália (2026), igualmente com apoio dos respetivos Estados e de fundos da União Europeia.
A produção de baterias na gigafábrica francesa, que sucede a uma primeira experiência com uma fábrica piloto, vai começar ainda este ano. Numa fase inicial a fábrica terá capacidade para produzir 13 gigawatts-hora. Quando estiver a funcionar na capacidade plena (2030), a estrutura vai produzir cerca de 40 GWh, capacidade suficiente para equipar mais de meio milhão de carros por ano. Por essa altura, aliás, as três fábricas da joint-venture estarão já a funcionar em velocidade cruzeiro, com uma capacidade prevista de 120 GWh, como detalha a ACC em comunicado.
Para além deste investimento estão anunciados outros três, que também vão resultar em novas fábricas de baterias para França. Estes investimentos adicionais vão ser liderados pela chinesa Envision AESC, pela taiwanesa ProLogium e pela francesa Renault, em parceria com uma startup local (Verkor).
A fixação deste tipo de investimentos na Europa - também noutras áreas, como a dos semicondutores - é uma das grandes apostas estratégicas da região, sobretudo depois das fragilidades postas a nu pela pandemia e dos constrangimentos nos fluxos de cadeias de valor, altamente dependentes da produção asiática.
Para tornar a região mais atrativa a estes investimentos, por players locais e não locais, estão disponíveis subsídios generosos da União Europeia, complementados pelos países com outros incentivos, nomeadamente fiscais.
A produção de baterias elétricas assenta que nem uma luva nas ambições de reforço da capacidade industrial europeia, ou não fosse a indústria automóvel um dos grandes motores da economia da região e os carros elétricos a grande tendência para suportar o crescimento do sector nos próximos anos.
Um estudo divulgado recentemente pela IDC apurou que as vendas de elétricos no passado alcançaram já 11 milhões de unidades, número que traduz uma penetração de 14% e que continua a espelhar o domínio chinês nesta área, não só na produção como nas vendas. Só naquele país asiático foram vendidos 7 milhões de carros elétricos, quase um terço do total das vendas do sector (31,3%).
A segunda região do globo com maior quota de venda de elétricos, no entanto, é já a Europa, onde foram comercializados cerca de um quarto (24%) dos carros elétricos vendidos em 2022.
Por fabricantes, os mesmos dados mostram que as marcas mais relevantes deste mercado são a chinesa BYD, a Tesla e a SAIC-GM Wuling, que em conjunto asseguraram mais de 36% das vendas.
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