Estudo indica que aposta em IA Generativa na Administração Pública pode adicionar 1,2 mil milhões à economia portuguesa todos os anos

Fátima Caçador

27 out 2025 09:02

Os números fazem parte de um relatório que a Google Portugal acaba de divulgar. em entrevista ao TEK Notícias, Filipa Brigola destaca ganhos de eficiência e produtividade mas também libertação de valor que pode ser reinvestido.

9% de aumento de produtividade e 1,2 mil milhões de euros adicionados à economia portuguesa, todos os anos, são alguns dos grandes números que resultam de um relatório que a Google Portugal está a divulgar hoje sobre o impacto da utilização da IA Generativa na Administração Pública em Portugal. O estudo foi encomendado à Implement Consulting Group e da Católica Lisbon School of Business and Economics.

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Em entrevista ao TEK Notícias, Filipa Brigola, Government Affairs & Public Policy Manager da Google para Portugal, sublinha que a inteligência artificial generativa já está a transformar a forma como trabalhamos, e que ao apostar na tecnologia a administração pública em Portugal tem uma oportunidade única de tirar partido destas ferramentas e modernizar processos.

"Não é só ganhos de eficiência e produtividade, mas verbas que podem ser reinvestidas", afirma, lembrando que 1,2 mil milhões de euros corresponde ao orçamento para a coesão territorial.

A Google tem vindo a divulgar uma série de estudos sobre o impacto económico da IA Generativa e no ano passado um documento apontava para melhorias de 8% no valor do PIB e 18 a 22 biliões de euros de ganhos na economia até 2050. Filipa Brigola explica que além do sector privado, a Administração Pública é um foco importante pelo papel que tem no retorno de valor à economia.

"Temos o desafio de aumentar a competitividade da Europa, atrair investimento económico mas também de simplificar a vida dos cidadãos e das empresas", justifica. "Se falharmos na adoção corremos o risco de ficar para trás", avisa ainda Filipa Brigola.

Segundo os dados, mais de metade dos trabalhadores do setor público português já utilizam ferramentas de IA e 80% acreditam que estas serão importantes nos próximos 10 anos.

A análise realizada calcula que a maioria dos processos e empregos podem ser melhorados com o apoio da IA e indica que 66% dos funcionários (aproximadamente 200.000 pessoas) poderiam ver as suas tarefas diárias otimizadas, permitindo-lhes dedicar mais tempo a dar um apoio mais próximo aos cidadãos e a resolver problemas complexos, como documentos em falta em pedidos de nacionalidade, redigir textos legais e redirecionar casos para o departamento certo.

Simplificação com impacto no cidadão e empresas

O estudo aponta vários casos onde a utilização da IA Generativo pode dar contributos importantes para a melhoria da produtividade e simplificação de processos. Filipa Brigola destaca a assistente de IA no portal Gov.pt que no primeiro mês somou mais de 17 mil respostas aos cidadãos, resolvendo 62% dos casos sem necessidade de intervenção humana.

A Government Affairs & Public Policy Manager da Google para Portugal sublinha que esta transformação pode significar menos burocracia e um acesso mais rápido a serviços essenciais. E refere a possibilidade da IA ajudar a preencher formulários e a guiar os utilizadores, apoiando também as empresas em candidaturas a contratos públicos, por exemplo.

Reconhecendo que a Administração Pública é muito vasta, com diferentes áreas de atuação a nível central e local, e também com perfis de profissionais muito diferentes, Filipa Brigola destaca o impacto generalizado na produtividade das ferramentas em todos os sectores, mas em especial também na educação, saúde e justiça.

Segundo o estudo 20% do potencial de aplicação está centrado em aplicações de IA internas, de baixo risco, que podem ser implementadas numa primeira fase, mas soluções orientadas ao cidadão, tirando partido dos dados, são 80% do potencial e podem ser geridas em várias fases, com ganhos significativos.

Oportunidade de reforma?

Numa altura em que se começa a discutir o Orçamento de Estado, num Governo que tem uma aposta forte na simplificação e na Reforma do Estado, com um ministério dedicado, sublinha que Portugal é importante não falhar na adoção da tecnologia.

E o relatório foi focado propositadamente na Administração Pública devido a esta aposta do Governo na Reforma do Estado? Filipa Brigola diz que o estudo já estava a ser preparado desde o início do ano, antes de se conhecer esta mudança na organização do Governo, e que até teve de sofrer algumas alterações devido a isso.

Recomendações para maior impacto da IA Generativa

O relatório inclui algumas recomendações para que o impacto da IA Genertiva seja maximizado na Administração Pública, nomeadamente com a priorização de tarefas transversais para alcançar escala em soluções de IA.

Em entrevista ao TEK Notícias, Filipa Brigola defende que as estratégias de contratação de IA devem ser interinstitucionais e não se limitarem a um organismo ou sector, aumentando o potencial de escala. Para isso é preciso desconstruir barreiras.

"O processo de decisão é fragmentado [...] existe medo de quebrar as regras, desconhecimento e incerteza do quadro regulatório", explica a Government Affairs & Public Policy Manager da Google para Portugal.

Aponta ainda para os riscos de dependência de fornecedores, o "vendor lock-in", destacando a importância de alinhar as escolhas com padrões abertos, garantindo ainda a flexibilidade e escalabilidade. Como boas práticas refere também a monitorização de custos de subscrição, assim como o estabelecimento de práticas éticas, seguras e sustentáveis nos contratos com fornecedores.