Quase um ano depois do anúncio, a compra da Activision Blizzard pela Microsoft continua bloqueada e à espera das decisões regulatórias, que vão ditar se a operação se concretiza e em que condições. Num artigo publicado esta segunda-feira, o The New York Times escreve que mais do que a aprovação ou bloqueio de um negócio, as decisões regulatórias que vão ditar o desfecho do caso terão impacto em todo o mercado. Funcionarão como uma mensagem para o sector tecnológico, que vai ficar a saber se pode ou não levar o enorme poder que já tem mais adiante e, como também frisa o jornal, a Microsoft tem feito o que pode para convencer quem pode influenciar a decisão a desbloquear a operação. A visão também é partilhada por William Kovacic, antigo presidente do regulador do comércio dos Estados Unidos, a FTC. “Este é um teste crucial”, disse ao diário.

A compra da Activision Blizzard, anunciada a 18 de janeiro, tem de ser aprovada por 16 reguladores em todo o mundo para se concretizar, o que só por si mostra a atenção que vários países em todo o mundo estão a dar aos grandes negócios da tecnologia. Só dois países já concluíram a avaliação ao caso e de forma favorável para a Microsoft. O Brasil e a Arábita Saudita e, segundo a Microsoft, a Sérvia estará também prestes a revelar uma decisão. Os maiores desafios estarão, no entanto, em conseguir uma aprovação da concorrência da União Europeia, do regulador britânico e norte-americano, todos já numa fase aprofundada da investigação ao caso.

A Microsoft está empenhada em convencer os reguladores de que não há razões para o negócio ser travado e tem usado os recursos possíveis para o fazer, dos mais persistentes aos mais criativos. Fontes do NYT dizem que os executivos da empresa estiveram há dias numa reunião com o regulador britânico para a qual levaram consolas Xbox, PlayStation e Nintendo, para demonstrar o funcionamento de vários jogos em todas as plataformas.

Refere-se também no artigo, que a empresa conseguiu já o apoio dos representantes dos trabalhadores da Activision nos Estados Unidos, que num primeiro momento questionaram o impacto do negócio para os trabalhadores. Depois de conseguirem um acordo com a empresa passaram a ter um posição favorável à operação, que até já partilharam num depoimento à Federal Trade Commission.

O acordo foi alcançado em junho - na altura o presidente do Communications Workers of America dizia que envolveu mais advogados que uma convenção de advogados - e prevê uma posição de neutralidade da Microsoft em relação às ações sindicais da CWA na empresa.

A empresa tem também insistido na disponibilidade para implementar medidas que possam minimizar as preocupações dos reguladores em relação à aquisição de 69 mil milhões de dólares, que vai passar para o controlo da Microsoft a dona de alguns dos mais populares títulos do universo dos videojogos, como o Call of Duty. É um negócio que irá transformar completamente o perfil de uma área de negócio (a dos jogos), que já se converteu na mais valiosa da Microsoft na área do consumo e que por ano já fatura 15 mil milhões de dólares.

A preocupação dos reguladores, e da concorrente Sony, estão essencialmente na estratégia que a Microsoft vai adotar depois da compra. A empresa já garantiu que será aberta e revelou entretanto que até terá proposto um acordo de acesso à franquia por parte da Sony, a 10 anos. A fabricante da PlayStation não comenta, nem baixa a guarda nos argumentos sobre a concentração que a compra da AB vai gerar e os impactos negativos para o mercado que daí podem advir.

O escrutínio que a Microsoft está a enfrentar tem pautado outros negócios até de menor dimensão, mas também realizados por outros gigantes da internet, como a Meta, que viu travada a compra da Within, uma startup de realidade virtual, recentemente nos Estados Unidos ou a compra da Giphy no Reino Unido. Podem ser sinais de que a compra da Activision Blizzard não tem mesmo condições para passar no crivo dos reguladores. Podem não ser.