Shou Zi Chew, CEO do TikTok, foi esta quinta-feira ouvido em audiência no Congresso dos Estados Unidos. Em cima da mesa está uma possível decisão legal do país de banir completamente a utilização da rede social nos Estados Unidos, por alegados riscos para a segurança nacional.
Os relatos da imprensa americana partilham diferentes momentos das cinco horas que durou a audição, mas todos sublinham dois aspetos principais: o responsável do TikTok já chegou vencido à audiência e que este é um dos poucos temas da política americana em que democratas e republicanos estão lado a lado.
Chew usou vários argumentos para responder às perguntas dos congressistas, que abriram o debate logo a afirmar a convicção de que a rede social deve ser banida do país e tentou explicar que os riscos que se apontam ao TikTok são mais teóricos do que práticos. "Parece-se que muitos dos riscos que são apontados são riscos hipotéticos e teóricos… não vi quaisquer provas” destes riscos, sublinhou Chew.
O tema do acesso à informação de cidadãos americanos por funcionários do TikTok na China, nomeadamente jornalistas, também foi abordado, sem novidades. A empresa já tinha tratado o caso como uma situação isolada, de abuso de privilégios dos colaboradores envolvidos.
O responsável assegurou que a empresa respeita a privacidade dos utilizadores e remeteu para o projeto Texas, que tem vindo a desenvolver no último ano e que tem como principal objetivo montar a infraestrutura necessária, para manter no país todos os dados de cidadãos americanos que usam a rede social. As reticências em relação às garantias dados pelo TikTok nesta matéria foram muitas e houve até quem, durante a audiência, lhe chamasse uma mera operação de marketing.
Chew admitiu que o TikTok tem feito um caminho para melhorar o tratamento de questões relacionadas com a privacidade dos utilizadores e a proteção de menores, lembrando as várias funcionalidades lançadas nos últimos tempos para restringir o acesso a conteúdos agressivos e o tempo de navegação. Mas, também aproveitou a ocasião para dizer que este é um percurso que todas as plataformas sociais tiveram de fazer, lembrando o histórico pouco brilhante de algumas empresas americanas em matéria de gestão dos direitos de privacidade dos utilizadores.
“Com todo o respeito, as redes sociais americanas não têm um bom historial no que toca à privacidade de dados e segurança dos utilizadores", lembrou o CEO do TikTok, citado pelo The Verge, acrescentando que "basta olhar para o Facebook e a Cambridge Analytica para encontrar um exemplo”.
O responsável teve ainda oportunidade, por diversas vezes, de garantir que o TikTok é uma empresa privada. Não tem ligações ao Governo chinês e nunca recebeu nenhum pedido do Partido Comunista chinês para fornecer dados sobre cidadãos americanos. Se isso acontecesse, não cederia ao pedido: “o TikTok nunca partilhou, ou recebeu, um pedido de partilha de dados de utilizadores dos EUA do governo chinês. Nem honraria tal pedido se algum dia fosse feito", sublinhou o gestor.
Muitas das questões dirigidas ao CEO do TikTok focaram-se na ligação da empresa à China e foram, desde perguntar se o TikTok se considera uma empresa chinesa, à opinião do responsável sobre as violações de direitos humanos no país com minorías étnicas. Chew deu a resposta esperada, em relação às questões de direitos humanos, abordando o tema em termos gerais e sublinhou que o TikTok é uma empresa global, com um fundador chinês.
Os Estados Unidos têm vindo a endurecer as medidas contra a China em diferentes quadrantes. O TikTok está debaixo de fogo desde a administração Trump, que quis forçar a separação da empresa do grupo ByteDance, através da compra do negócio por uma empresa americana. Mais recentemente a utilização da rede social foi proibida na Câmara dos Representantes e no Senado. Vários Estados seguiram a decisão e deixaram de permitir o acesso à plataforma em dispositivos de trabalho, nas diferentes entidades que gerem. Está agora em discussão uma nova medida restritiva de âmbito nacional.
À porta do Congresso houve manifestações a favor e contra o bloqueio do TikTok nos Estados Unidos. Dentro do partido Democrata e até no Partido Republicano, tipicamente mais nacionalista, começam a surgir algumas vozes discordantes, mas a larga maioria dos representantes políticos do país está de acordo, em relação à potencial ameaça que o TikTok representa.
Vários meios da imprensa americana ouviram analistas após a audição. As opiniões dos especialistas também são na maioria consensuais. Referem que se a audição de Chew alterou alguma coisa foi reforçar a ideia de que a empresa não tem mais garantias de independência para dar do que as que já deu e que, aparentemente, não chegam.
Pode aceder à audição completa do CEO do TikTok, perante o Congresso dos Estados Unidos esta quinta-feira, no vídeo abaixo.
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