No início da semana, as redes sociais do Facebook, incluindo Instagram, WhatsApp e Messenger, registaram um “apagão” de mais de seis horas, um problema que surgiu logo após a empresa liderada por Mark Zuckerberg ter sido acusada por uma ex-funcionária de dar repetidamente prioridade aos seus lucros, em detrimento de medidas para combater o discurso de ódio e desinformação.
Horas depois do incidente que impediu os 3,5 mil milhões de utilizadores das redes sociais de acederem às plataformas, Mark Zuckerberg, veio a público, através da sua própria página no Facebook, para pedir desculpas.
À medida que os internautas contavam os minutos até que as redes sociais do ecossistema do Facebook voltassem ao ar, recorrendo a plataformas alternativas, em particular o Twitter, para expressar o seu descontentamento e partilhar múltiplos memes.
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Além da partilha de frustrações e memes, começaram também a circular várias teorias acerca do que poderia ter causado a falha. Embora alguns internautas acreditassem que o “apagão” se deveu a um ataque informático, a gigante tecnológica excluiu essa hipótese. Em comunicado, o Facebook explica que as falhas ocorreram devido a um erro técnico causado pela própria empresa.
“O «apagão» foi causado pelo sistema que gere o suporte principal da nossa capacidade de rede a nível global”, clarifica Santosh Janardhan, vice-presidente de infraestruturas do Facebook. Aqui, o suporte principal afirma-se como a rede que a empresa construiu para ligar todas as suas instalações de computação, sendo composta por milhares de quilómetros de cabos de fibra ótica que unem todos os seus data centers.
“O tráfego de dados entre todas as instalações é gerido por routers”, explica o responsável. Como parte do extenso rol de atividades realizadas para manter as infraestruturas, os engenheiros da empresa precisam por vezes de colocar o suporte principal offline, de modo a reparar cabos de fibra ótica, para melhorar a capacidade ou para atualizar o software dos routers.
“Durante uma destas atividades de manutenção, foi ativado um comando com a intenção de perceber a disponibilidade da capacidade do suporte principal”, indica Santosh Janardhan. No entanto, a manobra acabou por “deitar abaixo involuntariamente todas as ligações no nosso suporte principal, desligando efetivamente todos os data centers do Facebook a nível global”.
O responsável clarifica que os sistemas da empresa estão preparados para verificar comandos deste tipo de modo a evitar erros ou “apagões”, porém, um bug na própria ferramenta de verificação impediu o processo de funcionar como esperado.
Além de ter causado um corte entre servidores, data centers e Internet, houve ainda outro problema relacionado com os servidores DNS, que acabaram por se tornar inacessíveis, mesmo estando operacionais. “Isto impossibilitou a procura dos nossos servidores pelo resto da Internet”, indica o responsável.
Segundo a empresa, os esforços que têm sido feitos nos últimos anos para proteger os sistemas de possíveis ataques externos foram uma das causas que fizeram demorar o tempo de resposta para resolver o problema. "Acredito que se o preço a pagar por uma maior segurança do sistema no dia-a-dia é uma recuperação mais lenta dos serviços, vale a pena", afirmou Santosh Janardhan.
Da queda nas ações ao “trambolhão” na riqueza de Mark Zuckerberg
O impacto do “apagão” fez-se também sentir na riqueza pessoal de Mark Zuckerberg, que caiu em mais de seis mil milhões de dólares.
De acordo com a Bloomberg, uma liquidação fez com as ações da gigante tecnológica caíssem na segunda-feira 4,9%, somando-se a uma queda de cerca de 15% registada desde meados de setembro. A queda das ações, fez com que CEO e cofundador do Facebook desceu um “degrau” na lista dos mais ricos do mundo, com o seu valor a passar para 121,6 mil milhões de dólares, ficando abaixo do fundador da Microsoft, Bill Gates, na quinta posição no índice Bloomberg Billionaires.
De acordo com estimativas da organização não governamental NetBlocks, a economia global está a perder 160 milhões de dólares, devido à queda nas receitas do Facebook, Instagram, Messenger e WhatsApp. Ao todo, estima-se que a economia mundial tenha perdido mais de 950 milhões de dólares, após as mais de seis horas de problemas técnicos na empresa de Mark Zuckerberg.
Entre o “apagão”, outras redes sociais acabaram por receber um fluxo adicional de utilizadores. O Telegram, por exemplo, recebeu mais de 70 milhões de novos utilizadores, passando do 56.º para 5.º lugar das aplicações gratuitas mais descarregadas nos Estados Unidos, segundo a consultora SensorTower.
Em reação à falha de mais de seis horas das redes sociais do universo do Facebook, Margrethe Vestager, comissária europeia da concorrência, afirmou que o incidente demonstra as repercussões de depender apenas de alguns grandes players, reforçando a necessidade de mais “rivais” do Facebook.
No Twitter, a comissária refere que são necessárias alternativas e uma maior escolha no mercado tecnológico, pondo de lado a dependência num conjunto mais pequeno de gigantes tecnológicas, sendo este o objetivo do Digital Markets Act (DMA) proposto por Bruxelas.
Recorde-se que, em dezembro do ano passado, a Comissão Europeia apresentou formalmente a proposta com as novas regras dos serviços digitais a operar na União Europeia, com o DMA e o Digital Services Act (DSA), considerados a maior revisão realizada nos últimos 20 anos, com principal foco na concorrência, mas também na responsabilização das plataformas digitais.
Já em fevereiro deste ano, Bruxelas defendeu a aceleração na criação da legislação para o espaço digital na União Europeia, em vez de se "acatar" as regras impostas pelas gigantes tecnológicas sediadas em Silicon Valley.
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