Doze organizações de defesa de direitos digitais dirigiram uma carta aberta às plataformas de entrega de comida, solicitando que adotem práticas mais transparentes e partilhem informação sobre os algoritmos que usam para gerir as atividades dos empregadores que trabalham consigo.

Estes algoritmos, e a informação que processam, influenciam diretamente a remuneração dos entregadores, sem que estes tenham oportunidade de perceber como funcionam e o que está em causa. Também acusam as empresas de usarem tecnologia que não está preparada para funcionar de forma eficaz e justa.

“Com o seu atual nível de transparência, os algoritmos destas plataformas comprometem os direitos dos trabalhadores à dignidade e à autonomia. A implementação das nossas recomendações seria um passo crucial para garantir a responsabilização e a supervisão adequada da tecnologia que rege o futuro dos trabalhadores”, diz a carta assinada pela europeia Privacy International e por outras 11 organizações.

A iniciativa insere-se na campanha #TimeToDeliverAnswers, que pede às empresas para manterem um registo público dos algoritmos que utilizam para gerir os colaboradores, de forma a permitir que os próprios trabalhadores e organizações da sociedade civil com interesse nisso, possam testar o seu funcionamento. Também pedem que as decisões dos algoritmos sejam acompanhadas de explicações personalizadas e dão um exemplo de como esse contexto é crítico para mudar o rumo de decisões consideradas abusivas.

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Os algoritmos que avaliam as atividades dos empregadores são a base da equação para determinar a forma como são pagos pelos serviços que prestam e podem mesmo determinar se as suas contas permanecem ativas ou são suspensas, como aconteceu com Pa, o homem do exemplo apontado.

Pa começou a receber pedidos insistentes da Uber Eats para submeter fotos durante os serviços que ia fazendo para a plataforma. Um dia, no final do trabalho, foi verificar a rentabilidade do dia e descobriu que a sua conta tinha sido cancelada porque a Uber concluiu que a conta estava a ser usada por outras pessoas, em nome daquele entregador.

O funcionário recorreu à justiça, o caso ficou resolvido no ano passado, e venceu a ação. No tribunal ficou provado que o sistema de reconhecimento facial usado pelo algoritmo da Uber tem falhas, sobretudo na identificação de pessoas com pele escura. As ONGs sublinham que uma simples verificação humana das imagens teria evitado uma decisão injusta ou, antes disso, a partilha de informação com o colaborador sobre as suspeitas da empresa, para que este pudesse defender-se.

As plataformas visadas pelo pedido são sobretudo a Deliveroo, Just Eat e Uber Eats a quem é pedido que implementem três medidas concretas: dar aos condutores e motociclistas meios para compreenderem efetivamente as condições do seu emprego; dar aos condutores e passageiros uma forma de compreender e contestar decisões específicas que os afetam; proporcionar aos condutores e passageiros um mecanismo para descobrir os problemas inerentes aos algoritmos a que estão sujeitos.