Foi durante uma apresentação de um novo portátil da Asus que o SAPO TEK encontrou Sofia Castro Fernandes, autora do projeto “Às Nove No Meu Blog”, atuando como embaixadora da marca, assumida fã de tecnologia que a torne mais produtiva na sua rotina diária. Formada em direito, pós-graduada em gestão de marketing e psicologia positiva, trabalha há 20 anos como formadora e consultora de recursos humanos em gestão de talento.

Escreveu livros com pensamentos úteis para ajudar as pessoas a sentirem-se bem emocionalmente. Dá formação às empresas, na área da comunicação, liderança, influência e produtividade. Está bastante presente nas redes sociais, um dos veículos que utiliza para apoiar o blog criado em 2005. “Na área do digital aquilo que faço é comunicar um bocadinho daquilo que é o meu trabalho de uma forma muito desconstruída”, explicou em entrevista ao SAPO TEK.

Para Sofia Castro Fernandes, os desafios que temos todos os dias são iguais para toda a gente, apenas mudam o nome das mesmas. “Estes obrigam-nos a todos os dias respirar fundo, buscar alento e coragem na competência que estamos a trabalhar. Aquilo que tenho feito é desconstruir as competências e recursos, assim como a formação que tenho aprendido e levo às empresas, e desconstruo-as no digital”. O objetivo é comunicar quase todos os dias, da forma mais simples possível “e empática” para levar os conteúdos corporativos a qualquer pessoa.

Sofia Castro Fernandes
Créditos: Sofia Castro Fernandes

Quando começou, a sua comunidade era muito pequena, mas atualmente tem mais de meio milhão de seguidores no Instagram, e outros tantos no LinkedIn e Facebook. “Aquilo que tenho sentido ao longo destes anos é que todos em determinadas fases da nossa vida procuramos o mesmo: onde, a quem, ao que nos vamos agarrar para seguir em frente e continuar a fazer o que tem de ser feito”. Sente que tudo aquilo que escreve, o que partilha com outras pessoas, seja uma palavra ou um gesto, pode fazer a diferença no dia de alguém.

Mensagem de positividade para líderes e liderados

Apesar do cliché assumido e afastando o termo que detesta, “guru”, sente que realmente as pessoas procuram em livros, revistas, jornais ou outros meios de informação, alguma coisa que faça acreditar que “o amanhã vai ser melhor ou, pelo menos, diferente”. Admite que nada do que faz tem nada de empírico, seja o que escreve ou partilha nas redes sociais, mas sim aquilo que foi aprendendo ao longo da sua vida. Aplica um conjunto de ferramentas, estratégias, psicologia positiva e de produtividade, gestão de tempo, liderança, que foi aprendendo e passa às pessoas, de forma desconstruída.

Mas para quem é a principal mensagem? Os trabalhadores ou os respetivos líderes? “Boa pergunta. Quero acreditar que seja para todos. Agora a verdade é que a minha experiência diz-me que quanto mais felizes as pessoas estão, tanto os líderes, como os liderados, mesmo que seja um conceito relativo e abrangente, mas quanto mais satisfeitos e realizados estamos com a nossa vida, com o equilíbrio nas diferentes solicitações e papeis na nossa vida, mais produtivos somos”.

Acrescenta que se os líderes estiverem focados naquilo que realmente importa, que são as pessoas, no final do dia surgem os resultados. “Por outro lado, os liderados, se estiverem focados naquilo que é o seu bem-estar vão estar também focados na sua produtividade e nos seus resultados”, destacando que comunica para todos. Sofia Castro Fernandes acredita que todos desejam ser úteis e agradar aos outros, “o ser-humano necessita dessa validação do outro, dessa ligação”. E por isso sente que as pessoas procuram, cada vez mais, consumir conteúdos que lhes permitam perceber se estão no caminho certo, na tal procura da validação.

Explicando as origens do seu blog, este surgiu quando vivia no Brasil. Apesar do nome ser sugestivo da hora em que as pessoas, por norma, começarem a trabalhar, “às 9” era a hora que Sofia Castro Fernandes fazia as chamadas diárias para falar com os seus pais em Portugal, via Skype. Partilhavam as experiências entre si e o blogue acabou por se tornar um espaço de encontro, onde escrevia sobre tudo, o seu estilo de vida. Continuou a fazer essa partilha até hoje, de forma a democratizar aquilo que foi aprendendo ao longo da sua vida.

Sofia Castro Fernandes esclarece que prefere passar uma visão mais confiante do que otimista, em relação à vida e ao que podemos fazer com o que nos acontece, do que manipulação, que aponta que existe por vezes essa confusão. Diz que não tem a pretensão, objetivo ou perfil para manipular. O seu objetivo é a partilha daquilo que faz dentro das organizações, o conteúdo fruto da sua formação, a pessoas que de outra forma não têm acesso ao mesmo.

Sofia Castro Fernandes
Créditos: Sofia Castro Fernandes

A pandemia veio criar um “antes” e “depois” na vida das pessoas. Sofia Castro Fernandes diz que existe a perspetiva corporativa, onde se encontra 99% do seu tempo e a individual. Na sua experiência, as pessoas que já estavam à procura de reinvenção, ou a adaptar-se a novas circunstâncias, algo que diz já era solicitada há muito tempo antes da pandemia. Afirma que mesmo antes já não estávamos no Mundo VUCA (volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade), mas sim agora o Mundo BANI (Frágil, Ansioso, Não-linear e Incompreensível), que é o que estamos agora a viver, um modo de vida ainda mais rápido, mais sensível, mais frágil e nada linear.

Acredita que a sua geração (na casa dos 50 anos) teve de se adaptar muito rapidamente, porque a Gen Z e Alpha já estão completamente reinventados, sendo a geração mais bem preparada para tudo aquilo que está a acontecer todos os dias. Essas diferenças são demarcadas pela tecnologia. A geração atual nasceu com internet, com a Netflix, o conceito de ir buscar um filme ao clube de vídeo é basicamente extraterrestre. “O que é que faziam num mundo sem internet?”, são o tipo de perguntas que o seu filho de 13 anos lhe faz. “Como assim estar num local à hora combinada e não conseguir avisar se houver atraso?”, referendo a um mundo sem smartphones.

Nova geração e a visão do desapego

O imediatismo das novas gerações, do querer algo para hoje, uma resposta imediata porque tem o Google, obriga a uma adaptação rápida e elástica ao que está a acontecer muito rapidamente. “Por isso, as novas gerações estão muito melhor preparadas e são muito mais elásticas, para o bem e para o mal”. Antes havia um maior compromisso com os objetivos a longo prazo e com o que se queria, “mas agora não existe longo prazo nas novas gerações”. Os jovens estão hoje aqui e amanhã saem, se não corresponder às suas expetativas profissionais, diz a especialista, acrescentando que existe uma visão de desapego às coisas, o que é um bocadinho assustador.

Por isso é que o seu trabalho se foca na retenção de talento, um dos principais desafios das empresas. “As necessidades básicas têm de ser correspondidas, porque as pessoas precisam de pagar as suas contas", mas há outras coisas que sobretudo as novas gerações valorizam e que tem sido um desafio para as empresas, aponta a especialista. “Temos que quase apagar a palavra retenção na comunicação, porque se pensarmos o que significa reter, ninguém quer ficar retido.

Sofia Castro Fernandes

Nas empresas, queremos que as pessoas fiquem atraídas, como se fosse algo magnético, o que se pode fazer para que elas continuem connosco. Não queremos reter ninguém, mas sim atrair talento e que se mantenham connosco”. Esta mudança de mindset está em transição e falar para a geração de Baby Boomers, que está à frente das empresas é um desafio.

A empatia é, para Sofia Castro Fernandes, é um critério de gestão e liderança que é compreender o que o outro quer ou perspetiva para si, que é diferente para cada pessoa. “Aquilo que é bom para mim, não será bom para si ou qualquer outra pessoa e esse é o desafio que as empresas têm” e aponta que as soluções passam pela disponibilidade em escutar, que vai muito mais longe do que o simples ouvir aquilo que se faz ou se vai fazer. É escutar, ou melhor, perceber o que o outro quer.

“As empresas são as pessoas”

A especialista diz que as empresas que introduzirem a empatia como critério de gestão e liderança estão vários passos à frente, “porque já compreenderam que não existe uma fórmula que sirva a todos”. É necessário um pacote com níveis diferentes de compensações para as diferentes pessoas, idades distintas e formas de ver a vida. “Para termos os melhores connosco, nós também precisamos de ser os melhores”.

Sofia Castro Fernandes diz que ainda se vê as empresas a comparar funcionários. “Há uma frase que diz que as empresas são as pessoas”, correndo-se o risco de haver uma “concha vazia”. “Quando estamos a falar de comparação, é como comparar filhos. Não podemos estar a comparar pessoas porque a perceção de uns é diferente dos outros.

Este tema, foi aliás o centro da sua apresentação no evento da Asus. Todos os participantes foram convidados a fechar os olhos e a seguir as mesmas instruções na forma de dobrar uma folha de papel e rascar pedaços. No fim, o resultado final da folha era diferente em várias pessoas, mesmo sob as mesmas instruções básicas, provando que as mesmas orientações são interpretadas de formas diferentes por cada indivíduo.

Quando estamos a comparar duas pessoas, estamos a comparar o incomparável, mesmo que tenham a mesma função, os mesmos objetivos, elas não vão receber a mesma informação da mesma forma”, explica Sofia Castro Fernandes, acrescentando que isso pode gerar um conjunto de emoções que as duas pessoas se sintam frustradas, não necessária aquela que faz menos ou mais. “O que é menos ou mais? Quem define isso?”

Apesar de haver dados mesuráveis, a ver com os resultados, “porque não utilizar como métrica não o número de horas ou o estar presente, mas os resultados do ponto de vista da produtividade? A proposta de Sofia Castro Fernandes é conseguir medir o resultado positivo de alguém, não pelo número de horas que a pessoa está presente no escritório, mas aquilo que ela entrega. “Menos a quantidade e mais a qualidade”. Mas para isso é preciso um acerto de mentalidades, sobretudo no modelo híbrido cada vez mais presente nas empresas, onde se trabalha parte do tempo no escritório e outra parte em casa. Mas também nas empresas que dão liberdade aos funcionários para escolher quando ou se vai ao escritório.

“É cada vez maior o desafio nas empresas que é quando queremos os melhores connosco, temos que mostrar que confiamos nos melhores. Caso contrário é porque algo falhou no recrutamento e seleção dos melhores."

Acredito que, quanto mais flexíveis formos, quanto mais comprometidos formos, mais produtivos vamos ser. Antes o objetivo das empresas era que as pessoas estivessem no escritório, porque só assim se podia controlar o que estavam a fazer. E isso é completamente obsoleto. Isso faz com que as pessoas que não estejam presentes é porque não são de confiança? Então é porque não foi feita uma boa seleção do funcionário”, salienta apontando a uma má gestão das pessoas pelos líderes das empresas. Mais uma vez volta a salientar a empatia como modelo de gestão e de liderança, que é a grande competência e recurso nesta realidade pós-pandemia. A confiança, nesta nova geração de trabalhadores, é o elemento que as vai fazer ficar ou não.

Uma história de superação partilhada diariamente

Sofia Castro Fernandes tem uma história de superação presente nos últimos dois anos. Uma transformação alcançada em 2022 quando decidiu perder peso. “Uma decisão baseada em vários fatores, por estar a entrar nos 50 anos, comecei o processo com 48 e o facto de ter feito desporto a minha toda, incluindo atleta do Sporting, ginástica rítmica, havendo um antes e um depois”. Quando trabalhou em Portugal fez sempre desporto, mas quando começou fora do país, no Brasil, Suíça e Inglaterra, “encontrei mais desculpas do que disciplina e motivação para fazer aquilo que fazia”. Numa primeira fase cuidava da saúde, fazia exercício, boa alimentação, e depois onde houve outras prioridades.

O que fez em 2022, por ter alguns desafios cardiorrespiratórios, tais como subir três andares do seu prédio e cansar-se, ao ponto de não conseguir falar. A tomada de decisão foi mais emocional, motivada pelo seu filho, assim como um desconforto com a sua identidade. “Não tem a ver com autoestima nem com imagem, mas a forma como é a sua determinação e foco para atingir objetivos não estava a ser coerente com a forma como estava a tratar de mim e da minha condição física. Não estava a ser coerente com aquilo que passo para fora”.

No entanto, afirma não ser honesta dizer coisas como “se eu consigo, tu vais conseguir”, porque existe uma série de circunstâncias como as que teve na sua vida. Foi à procura de ajuda, tendo alinhado as condições mentais, emocionais, recursos financeiros e tempo. Quando fala de tempo, este é o mesmo, porque as suas atividades profissionais não mudaram, mas a forma como se comprometeu, encontrando um modelo que se adaptasse ao que faz. Em vez de se adaptar a um estilo de vida, a uma dieta, decidiu pelo contrário, “o que é que se vai adaptar ao mesmo estilo de vida”. Para isso procurou ajuda a especialistas em vários campos, como a nutrição, medicina do sono, psicoterapia, e outras coisas.

A sua prova de superação prendeu-se com o objetivo estabelecido inicialmente: passar dos 92 quilos que pesava para 72 quilos, para voltar a correr. E foi desafiada a ir mais além, tendo despoletado um “gatilho de competição” com pessoas certas que tinha perto de si. O grande desafio atual é manter a forma física que conseguiu obter. Afirma que não recusa um jantar de um evento social porque está de dieta, mas sim, prepara-se para o mesmo. A preparação é 99% do sucesso em tudo, na perspetiva de Sofia Castro Fernandes, mas é preciso consistência e foco. O desafio é manter o foco, todos os dias.

Sofia Castro Fernandes
Créditos: Sofia Castro Fernandes

Todas estas experiências pessoais cruzam-se com a sua mesma posição profissional, nas mensagens que passa aos seus seguidores nas redes sociais e nas intervenções que faz nas solicitações nas empresas.

Estamos em fevereiro, sei que há um caminho que fiz para trás duro, difícil e desafiante, houve muitos momentos em que quis desistir, que tive de voltar ao início e começar novamente e pedir ajuda, que me tive de agarrar a um grupo de amigos. E aceitar a vulnerabilidade que é o pensamento que nem sempre vou ter dias bons. E nem sempre foi a minha força, foi a força dos outros. Por isso é que eu nunca digo, se eu consigo, tu consegues. Eu não sei quem está do outro lado. É injusto. Mas sei qual é o verbo que me colocou à frente da minha equipa de nutricionistas e aquele que penso todos os dias: o verbo ganhar. É o verbo ganhar que me levou na jornada de passar de 92 quilos para 55: ganhar saúde…