A Coreia do Norte é considerada um dos países com maiores restrições no acesso a conteúdos e aplicações, filtrando a informação da internet que os seus cidadãos consomem, sobretudo a partir dos seus smartphones e outros equipamentos com conetividade online. Mas há um grupo de hackers que está a desafiar o regime e a utilizar técnicas de jailbreaking para “descobrir todo um novo mundo” para lá das barreiras digitais impostas.
A informação foi partilhada pela Stimson Center, organização sem fins lucrativos que procura aumentar a paz e segurança a nível internacional, através do programa 38 North, que analisa os eventos dentro e à volta da Coreia do Norte. O relatório refere que milhões de smartphones Android aprovados pelo governo norte-coreano estão a restringir os seus utilizadores de fazer download de aplicações ou ficheiros que não sejam previamente autorizados oficialmente pelo Governo. Por outro lado, o relatório descreve um grupo de “bravos”, jailbreakers norte-coreanos, que estão a desbloquear os equipamentos e aceder, de forma secreta, aos conteúdos proibidos.
Em declarações à Wired, um investigador da 38 North disse que tem havido uma constante batalha entre o governo coreano e os cidadãos sobre o uso da tecnologia. Sempre que uma nova tecnologia é introduzida, as pessoas as pessoas encontram sempre uma forma de utilizá-la para algum propósito ilícito. Mas até agora, não tinham feito este tipo de hacking. “Em termos do futuro da livre informação na Coreia do Norte, isto mostra que as pessoas ainda estão disponíveis para tentar quebrar o controlo do governo”.
A descoberta da 38 North sobre o uso de jailbreaking foi baseada em entrevistas de dois desertores do país, que prestaram testemunho de forma independente, descrevendo que fizeram hacking nos seus smartphones mas também para outros utilizadores norte-coreanos. Os testemunhos corroboram com outros recolhidos por outros investigadores.
Os smartphones que foram alterados eram modelos Android de gama média, produzidos na China e aprovados pelo Governo. Foram modificados inicialmente para assistir a conteúdos estrangeiros e instalar aplicações não aprovadas pelas autoridades, circundando a versão Android censurada. Estes modelos têm um sistema de certificação digital que obriga a qualquer ficheiro que seja descarregado tenha de passar pelas autoridades e receber uma assinatura criptográfica das autoridades governamentais, caso contrário é prontamente apagado. E o que os hackers fizeram foi remover essa autenticação, permitindo instalar apps e jogos, assim como conteúdos da Coreia do Sul.
Outro tipo de controlo das autoridades, segundo é referido na publicação, diz respeito ao sistema operativo que capta imagens do equipamento em intervalos aleatórios, passando a sensação de que o utilizador é constantemente monitorizado. Essas imagens são mesmo guardadas no próprio armazenamento do equipamento, inacessível aos utilizadores para as consultarem ou apagarem. Através do jailbreak, os hackers tiveram acesso às imagens e puderam apagá-las.
Por fim, as testemunhas dizem que alterar os smartphones já é uma espécie de serviço “clandestino”, embora muitas vezes para situações “inofensivas”, tais como poder instalar imagens de fundo ou apagar as referidas imagens para libertar espaço no equipamento. Os smartphones são alterados através de uma ligação ao PC com Windows, através de um cabo USB, para instalar a ferramenta de jailbreaking.
Nos últimos anos, o nível de literacia no uso de computadores e smartphones tem crescido, levando a muitos utilizadores acabarem por descobrir por si como contornar algumas das barreiras da censura norte-coreana. Ainda assim, uma nova lei introduzida em finais de 2020 proíbe categoricamente a instalação de programas de manipulação do smartphone, com multas para quem contornar esse controlo de acesso aos conteúdos não autorizados.
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