No início de abril, e em plena pandemia, as Nações Unidas já defendiam que era preciso agir para não agravar o fosso digital e agora um relatório vem reforçar essa ideia. No novo Roadmap for Digital Cooperation, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apela a "uma colaboração global urgente" para garantir que todas as pessoas tenham acesso seguro e acessível à Internet até 2030.

"Enquanto o mundo lida com a COVID-19, estamos a testemunhar em primeira-mão como as tecnologias digitais ajudam a enfrentar a ameaça e manter as pessoas ligadas", pode ler-se no documento. A ONU dá o exemplo dos supercomputadores que analisam milhares de medicamentos para identificar “candidatos” a tratamentos e vacinas e as plataformas de videoconferência que permitem manter o ensino e a atividade económica, na medida do possível.

No entanto, o desafio tecnológico que surgiu com a COVID-19 tem sido "tremendo". As redes sociais têm sido "mal utilizadas" para divulgar desinformação e os ciberataques "comprometem possíveis avanços na resposta e no combate ao vírus". Por outro lado, a ONU considera que é necessário existir "um equilíbrio entre o uso da tecnologia e as aplicações de rastreamento", garantindo a salvaguarda da privacidade e dos direitos individuais.

Mesmo que a tecnologia digital permita em vários países os cidadãos trabalharem e aprenderem em casa, não é um "privilégio" para todos. A ONU dá o exemplo daqueles que têm de trabalhar fisicamente, enquanto outros perderam emprego ou não têm acesso à Internet e tecnologia, em particular os pobres e vulneráveis.

É neste contexto de preocupação, que a ONU reforça a ideia de que a tecnologia tem inúmeros aspetos positivos, mas também pode agravar a desigualdade a nível global. "Tem um enorme potencial de mudança positiva, mas também pode reforçar e ampliar linhas de falha existentes e agravar desigualdades económicas e outras", pode ler-se.

Com o abuso sexual das crianças a ser uma das grandes preocupações da ONU, a organização garante que a cooperação digital é cada vez mais prioritária e deve ser multidisciplinar. "É um esforço de várias partes interessadas e, embora os governos permaneçam no centro, o envolvimento das organizações de empresas de tecnologia, sociedade civil e outras partes interessadas". Só assim podem ser tomadas decisões realistas e políticas eficazes, garante a ONU.