Durante os dias 8 a 11 de julho, a Campus Party realizou-se como um evento digital, devido à pandemia de COVID-19, com a estreia de Portugal neste festival mundial de inovação, tecnologia e empreendedorismo. Os temas do evento centraram-se na utilização consciente da tecnologia que vai mudar o mundo. E teve como objetivo principal preparar os jovens e novo talento para o mercado de trabalho, num ambiente de inovação e tecnologia. A Campus Party uniu empresas, especialistas e instituições de ensino superior, com oradores de peso, como o cientista de big data, Ricardo Cappra, que esteve por trás da campanha presidencial de Obama, na corrida à Casa Branca.
Com mais um capítulo finalizado, o SAPO TEK esteve à conversa com Tonico Novaes, o líder da Campus Party Portugal, para fazer um balanço sobre a primeira edição portuguesa e quais os planos para o futuro. “A Campus Party em todo o mundo visa incluir jovens de 5 a 95 anos dentro de um ambiente de inovação, tecnologia, empreendedorismo, ciência e disrupção. Quando digo de 5 a 95 anos pode parecer engraçado, mas é a verdade. Não importa se tem 80 anos. Se continua com vontade de mudar o mundo, empreender em algo, criar uma ideia diferente e deixar um legado para a sociedade, o seu lugar será na Campus Party”, destaca o líder da iniciativa em Portugal como cartão-de-visita.
O evento surge numa altura em que surgem estudos, como o Gartner, que nas próximas décadas 60% das profissões atuais vão desaparecer, mas Tonico Novaes é mais radical, e acredita que “na próxima década 100% das profissões vão-se transformar e as universidades e escolas ainda não estão preparadas para isso”. Por isso, a missão do Campus Party, juntamente com as entidades de ensino, é debater sobre esse futuro, criar fóruns de discussão, para que os resultados e conclusões sejam enviados para as autarquias, governos, a Comissão Europeia, Nações Unidas e outras entidades decisoras.
Sobre a primeira edição realizada em Portugal, depois da sua estreia mundial há alguns anos, o facto de ter sido digital, para Tonico Novaes foi a maneira correta de se iniciar um projeto num novo país. A realização de um evento digital, ou mesmo um segundo, antes da edição física, é uma boa forma para reunir comunidade, parceiros universitários, da comunicação social, patrocinadores privados e mostrar às Câmaras a força que um evento como o Campus Party pode levar à respetiva cidade, ou seja, colocá-la no calendário global da Inovação.
Já em relação aos resultados afirma que foram muito positivos, tendo reunido uma equipa “de excelência” com mais de 30 embaixadores, ou seja, profissionais ligados à Inovação em todo o território, oradores e outros parceiros que ajudaram a reunir a comunidade e a realizar o evento. Tonico Novaes destaca ainda a ajuda na angariação de fundos para os Médicos Sem Fronteiras, no combate à pandemia de COVID-19 e ainda um “empurrão” aos Campuseiros (termo que se refere a quem frequenta a Campus Party) no encontro de oportunidades no mercado de trabalho, sobretudo aqueles que perderam o emprego devido ao coronavírus.
Ao todo, o evento contou com um milhão de espetadores, a nível global nesta edição digital, que destaca ser um número inédito para um evento de educação. Os resultados inspiram a realização de uma segunda edição digital que já está a ser preparada.
Por fim destaca a ajuda global às Nações Unidas, que é parceira do evento, no envio de ideias de como “Recomeçar o Mundo” ou reescrever o código fonte do mundo, cuja tag “Reboot the World” serviu de mote ao evento. Mas o que é que isso significa? Tonico Novaes salienta que na geração dos seus avós, conseguir emprego na função pública era um sonho de estabilidade; nos seus pais era ter um diploma como advogado, médico, engenheiro ou administrador de empresas; na sua geração, ser um jogador de futebol, cantor de rock ou artista de televisão passou a ser a meta; mas a próxima geração pretende ser o novo Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, Steve Wozniack, Tim Berners Lee ou Steve Jobs, ou seja, tornar-se um empreendedor, criar aplicações móveis, participar em hackthons, ou na sua maioria, encontrar uma grande solução para a sociedade, ou seja, “reescrever o código fonte do mundo, repensar a forma como a sociedade vai viver”, explica o organizador.
Tonico Novaes contou uma história sobre um executivo de uma edição do Campus Party que viu uma solução de blockchain que uma menina tinha criado, e perguntou-lhe porque não a tinha patenteado. A resposta foi que a sua criação tinha mais utilidade para a sociedade se fosse mantida como código aberto e livre, e por isso, lançou-a no Github. Esse exemplo reflete o pensamento da nova geração, e a vontade da colaboração, acreditando que vão mudar o mundo.
Ainda que o evento tenha corrido bem no seu formato online, o fantasma da COVID-19 dificultou a criação do evento. “O evento digital não chega nem perto da magia e da experiência de uma organização física”, salienta o organizador, destacando que pela sua participação em muitos outros certames digitais nos últimos meses, sabia que eram todos pouco dinâmicos.
Isso obrigou a pensar em ideias divertidas, o que levou à criação de um estúdio com apresentações entre as palestras, e diminuindo o tempo de intervenção para cada orador para 30 minutos, de forma a evitar tornar-se enfadonho. Em casa, é mais fácil o público distrair-se com as redes sociais, família e outras tarefas domésticas. E por isso, o principal desafio era manter o público conectado.
Por outro lado, um evento digital não tem fronteiras, podendo ser acedido de qualquer outro país com maior facilidade. Por isso, pelo evento em Portugal passou audiência do Brasil, Espanha, Estados Unidos, Canadá, Cabo Verde, Moçambique, Angola, México e outros países da América Latina. “Três dias antes do evento começar, recebi uma chamada do Paco Ragageles (fundador da marca Campus Party há 23 anos) a congratular-nos por sermos o país com mais audiência entre aqueles que nunca tiveram uma edição física nos últimos 10 anos.”, o que deixou a organização confiante para o futuro.
Nessa mesma chamada, foi referido que o alinhamento de oradores era muito equilibrado, considerando todos os 31 países envolvidos no evento. Só na edição de Portugal passaram 130 nomes, com diferentes experiências, e com idades entre os 27 a 70 anos, numa oferta diversificada de conteúdos. Os 30 minutos por intervenção ajudaram ao dinamismo e o facto de o Brasil estar igualmente envolvido no evento foi aproveitado para convidar oradores brasileiros, o que atraiu mais público. “E até tivemos palestras entre portugueses e brasileiros da mesma área (que não se conheciam) e que falaram das relações dos dois países em determinado sector”, destaca o organizador.
Em Portugal, o evento contou com speakers de peso como a ex-Ministra da Saúde Maria de Belém, o Eurodeputado Carlos Zorrinho, o Presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio, Francisco Menezes, o premiado publicitário Edson Athayde, Mário Campolargo, Director-geral da área de Informática da Comissão Europeia, Romana Ibrahim, CEO da startup Keep Warranty, e Eduardo Rodrigues, CEO da startup UpHill.
Quanto aos planos para o futuro, a próxima edição digital global já está prevista para abril de 2021, ainda por decidir se será feita com um complemento de evento físico, de forma a explorar melhor a interação com a comunidade. Tudo dependerá da evolução da pandemia. Por decidir está também a edição física no segundo semestre de 2021 ou primeiro de 2022.
A organização vai começar a falar com as cidades que manifestaram interesse em receber o evento, para verificar as melhores condições de parceria a longo prazo. Tonico Novaes afirma que qualquer cidade pode candidatar-se para receber o evento, fazendo a sua formalização para análise da organização. Claro que tudo depende do lançamento de medicação de prevenção ou cura da COVID-19, para que se retomem as atividades com a sua total normalidade.
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