Aveiro começa a testar no próximo verão um shuttle autónomo, que vai transportar passageiros num percurso pré-definido e que é mais um passo num projeto que tem vindo a transformar a cidade num laboratório vivo de soluções inovadoras de mobilidade. O ponto de partida do projeto foi a implementação de uma infraestrutura que permitiu conectar toda a cidade e que está praticamente concluída. É suportada em fibra ótica e recorre também ao Wi-Fi, 4G ou 5G e à integração de vários protocolos, para assegurar a comunicação com veículos e sensores espalhados pela cidade. A registar informação há sensores de mobilidade, câmaras de vídeo, radares e LiDARs (normalmente usados nos carros autónomos, que aqui estão posicionados em locais fixos), num total de 44 pontos da cidade ligados e 10 autocarros com sistemas de comunicação montados.
“Fizemos isto para termos Aveiro como uma zona de testes completa, onde podemos receber informação das pessoas, das bicicletas, dos moliceiros, dos carros ou dos motociclos, mas também enviar-lhes informação”, explica Susana Sargento, investigadora e docente do Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática da Universidade de Aveiro, antecipando já um cenário de condução autónoma. Enquanto não chegamos lá, usa-se a condução assistida e toda a infraestrutura para ajudar investigadores e indústria a testar em ambiente real sistemas que podem melhorar a mobilidade e a segurança nas cidades.
Entre os vários demonstradores já desenvolvidos na cidade, destaque para os sistemas que contribuem para uma melhor prevenção e resposta a acidentes, graças à conectividade entre os mais diversos elementos. Uma das experiências realizadas, por exemplo, tira partido de toda a informação disponível sobre pessoas e veículos para criar um mapa com a localização e velocidade de cada um e antecipar rotas de colisão, entre pessoas e carros. Outro sistema, ativa as câmaras e as comunicações da rede, em caso de acidente, para recolher imagens, fazer um vídeo e recolher outros elementos que ajudem a caracterizar o acidente, agilizando o pedido de socorro e dimensionando-o às necessidades de cada situação.
“Fizemos isto [conectar toda a cidade] para termos Aveiro como uma zona de testes completa, onde podemos receber informação das pessoas, das bicicletas, dos moliceiros, dos carros ou dos motociclos, mas também enviar-lhes informação”, Susana Sargento, Universidade de Aveiro.
Na mesma linha, a infraestrutura já foi usada para emitir alertas que facilitem o trajeto de um veículo de emergência - antecipa o destino do veículo de emergência em função do percurso e avisa os outros carros na estrada da sua passagem. Ou para cenários de controlo de tráfego, através de um sistema que define a velocidade ideal para que o trânsito possa fluir com menos constrangimentos.
A experiência com o shuttle, que deverá arrancar no verão, vai servir para testar a comunicação do exterior com o mini-bus - recolha de informação sobre o ambiente envolvente; e vice-versa - testar a partilha de informação do veículo com os outros carros que circulam na estrada.
Susana Sargento sublinha que todas as soluções aqui testadas têm condições para serem usadas de forma mais abrangente nas cidades a breve prazo e acredita que assim será, num prazo de dois a três anos. Será preciso um pouco mais para que sejam usadas em ambientes de condução autónoma de nível quatro ou cinco, até pelas questões regulatórias e de confiança dos utilizadores que isso implica.
Indústria nacional também está a desenvolver soluções de mobilidade vertical
Em Matosinhos também se avança depressa para soluções que vão ajudar a mudar o dia-a-dia das cidades num futuro não muito longínquo. O CEiiA está envolvido em vários projetos que integram um novo segmento: veículos leves de duas e quatro rodas, onde se incluem os microcarros ou as bicicletas. Como explica Helena Silva, diretora executiva, este é um “segmento de microbilidade que vai dar um contributo importante para otimizar os sistemas de mobilidade das cidades e são soluções que as cidades vão ter de adotar para melhorar os seus níveis de emissões".
O trabalho do CEiiA nesta área tem passado pelo desenvolvimento de uma nova geração de dispositivos de conectividade, que liguem esses veículos às plataformas que vão fazer a gestão de serviços - serviços de partilha da posse e do uso, por exemplo - e com outras plataformas existentes nas cidades, que sejam também capazes de quantificar emissões e criar mercados locais de carbono.
Nestes projetos, as questões da autonomia também são trabalhadas, mas principalmente na perspetiva de facilitar o serviço que vai ser prestado. Por exemplo, para integrar funções autónomas que ajudem a otimizar as operações dos fornecedores de serviços de sharing na recolha de veículos com uma única viagem.
Nesta área dos veículos, o centro está também a trabalhar com construtores em novos modelos, que em dois a três anos devem chegar ao mercado e em projetos mais de capacitação, como Fly.pt. Este consórcio português, liderado pela Tekever, em 2023 quer apresentar um protótipo de um sistema integrado que permite deslocação na estrada e no ar.
Há várias questões por resolver até que estas soluções com mobilidade vertical sejam de facto uma opção nas cidades, ainda assim Helena Silva acredita que a necessidade em algumas áreas vai acelerar o processo e dá o exemplo do transporte urgente de órgãos, ou da resposta de emergência em situações de catástrofe. Este é aliás o tema central de outro projeto do CEiiA, que criou um laboratório com o Hospital de São João no Porto precisamente para trabalhar soluções de mobilidade vertical para estes fins.
Plataforma de sustentabilidade do CEiiA chega a seis cidades do norte no início do ano
No capítulo das soluções que vão ajudar as cidades a encaminharem-se para as metas de neutralidade carbónica previstas para os próximos anos, as plataformas que ajudam a quantificar as emissões produzidas e a valorizar as que não chegaram a ser emitidas, terão um papel central. O CEiiA deu nesta área já também um passo importante quando criou a AYR, distinguida pelos Prémios Novo Bauhaus Europeu e selecionada para integrar o programa Impact Challenge on Climate do Google.org.
Através da AYR é possível quantificar, valorizar e posteriormente fazer a compensação das emissões locais evitadas, trocando-as por produtos ou serviços, consoante os programas de recompensa desenhados por cada cidade e respetivos parceiros.
A primeira cidade a nível global a receber a AYR foi Matosinhos, que é também a casa do CEiiA e a primeira zona livre tecnológica do país. Florianópolis no Brasil também já a usa e está a arrancar a implementação numa rede de mais seis cidades portuguesas: Gaia, Porto, Famalicão, Braga, Guimarães e Viana, cidades onde o CEiiA vai começar a quantificar a pegada carbónica, ajudar a definir planos de neutralidade carbónica, em linha com as metas europeias para os próximos anos, e implementar progressivamente serviços integrados com a AYR.
Os primeiros vão surgir já no início do próximo ano e podem passar por serviços de bicicletas, envolvendo empresas e municípios, ou por veículos leves, partilháveis a partir de comunidades como empresas ou condomínios e integrados com transportes públicos, explica Helena Silva. Cada cidade definirá suas metas e pontos de partida.
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