Quando ouvimos falar numa caixa negra rapidamente se associa ao sistema de registo de um avião. Este regista todos os dados de voo, sendo essencial para investigar situações de acidente e as razões pelo qual estes se despenharam. Um sistema semelhante, batizado de Event Data Recorder (EDR), ou Registo de Eventos, passa a ser obrigatório para todos os automóveis ligeiros que forem matriculados na União Europeia, com efeito a partir do último dia 7 de julho.
A medida já tinha sido aprovada por Bruxelas em julho de 2022, depois da consulta pública, com o habitual prazo de implementação para dois anos pelas autoridades nacionais. Ou seja, os novos carros que chegam ao mercado, se não cumprirem os requisitos técnicos da caixa negra, passam a ser proibidos de serem registados e vendidos.
A Comissão Europeia explica que este tipo de equipamentos tem vindo a ajudar a registar menos acidentes. Por exemplo, os tacógrafos utilizados em veículos comerciais são utilizados para monitorizar as horas de condução/trabalho dos condutores, assim como as velocidades. O sistema SAGA desenvolvido na Islândia monitoriza e reporta o posicionamento do veículo, velocidades, assim como outros aspetos do comportamento dos condutores.
Segundo dados de uma investigação referida pela Comissão Europeia, sistemas de gravação de dados introduzidos nos camiões e carrinhas levaram a uma média de redução de 20% no número de colisões e danos. Isso deveu-se ao facto de o condutor assumir que, através de uma análise dos dados de condução da caixa é possível detectar infrações ao código da estrada.
De notar que a EDR tem regras, servindo sobretudo para análise de sinistros. Estes podem registar acontecimentos antes, durante e após um acidente rodoviário. Para compreender melhor para que serve o registo de eventos, o SAPO TEK preparou um explicador.
Qual é a função do sistema EDR?
O sistema EDR, semelhante a uma caixa negra de um avião, permite aos veículos gravar e armazenar dados da condução, como por exemplo, a velocidade, a força de travagem, a ativação do airbag, a posição e a inclinação do veículo na estrada. A ativação dos travões, assim como os pré-tensores dos cintos de segurança e outros elementos ativos e de prevenção de acidentes são registados na caixa negra.
Também regista o estado o estado dos sistemas de segurança do automóvel e a taxa de ativação dos mesmos, como por exemplo, o sistema de “ecall” para o número de emergência do veículo sinistrado.
Qual a duração desses registos?
Na prática, o sistema regista os instantes imediatamente antes de haver um acidente e aqueles após o sinistro. A duração dos dados varia conforme o tipo dos elementos de dados, podendo ser entre cinco segundos antes e outros cinco depois. De notar que a caixa negra não está constantemente a registar dados. Apenas é ativado em caso de acidente e por isso, funciona como um elemento dissuasor de comportamentos que possam originar acidentes.
É possível ligar e desligar esta caixa negra?
Segundo Bruxelas, os dados têm de ter um elevado nível de exatidão, devendo ser assegurada a sua preservação. Dessa forma, o sistema de EDR não pode ser nunca desativado. Além disso, deve funcionar em circuito fechado.
Está garantida a privacidade dos condutores?
O sistema EDR protege a privacidade dos condutores. A caixa negra, ao contrário dos aviões, não grava nada do que se passa no habitáculo do automóvel. O EDR está instalado na viatura para registar dados rodoviários.
Todos os dados recolhidos devem ser anónimos e protegidos contra a manipulação ou utilização indevida. O EDR pode identificar o tipo, variante e a versão do automóvel, mas não o número de identificação de veículo ou outras informações que possam identificar o proprietário ou condutor do mesmo.
Quem pode aceder a esses dados registados no EDR?
O seu acesso tem de ser feito através de equipamento próprio, pelas autoridades no próprio local no veículo, uma vez que não é possível recolher dados de forma remota. E apenas em caso de acidente se pode ter acesso a esses dados.
A informação pode ser requisitada pelas entidades de cada país da zona euro para efeitos de estudo de padrões de comportamento dos condutores, seja para melhorar a legislação ou mesmo, detetar possíveis defeitos nas vias. Também pode ser solicitado por via judicial em casos de litígio ou de forma voluntária pelo condutor através de uma autorização expressa. Uma seguradora, por exemplo, apenas consegue obter esses dados por via jurídica.
Pode a caixa negra influenciar o comportamento do condutor?
A Comissão Europeia considera que sim, que as caixas negras servem simultaneamente como policiamento automático, uma vez que registam comportamentos do condutor. Bruxelas tem planos para utilizar os registos das caixas para multar automaticamente possíveis transgressões, utilizando equipamentos como Identificadores Eletrónicos de Veículos. Do outro lado do espetro, o sistema pode ser também utilizado para recompensar bons comportamentos, incluindo a possível redução dos prémios dos seguros.
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