Nos últimos meses a Ubisoft tem sido alvo de críticas sobre as políticas de utilização dos seus jogos. Sobretudo os títulos que funcionam como serviço (GaaS), normalmente online, dependendo de servidores fornecidos pela editora para se manterem em funcionamento. O jogo de corridas The Crew foi encerrado em março de 2024, seguindo-se em setembro do mesmo ano o mesmo destino para a sequela.

No entanto, os fãs da série de corridas da Ubisoft não se conformou com o encerramento dos servidores, impossibilitando o acesso ao jogo e criaram-se petições e boicotes aos jogos da editora. A Ubisoft já prometeu um modo offline para The Crew 2, disponível até ao final de 2025, permitindo aos jogadores continuarem a jogar sem a necessidade de ligação online aos servidores que já não existem. A empresa prometeu ainda o mesmo tratamento para The Crew Motorfest, o terceiro jogo da série.

Este tipo de jogos por serviço tem levantado preocupações entre os fãs de videojogos, sobretudo a nível de preservação dos títulos. Este tipo de jogos, uma vez desligados, ficam inúteis e simplesmente “morrem”. É nesse sentido que estão a surgir movimentos de petições online, como o Stop Killing Games, que recolheu assinaturas para levar o caso para análise em Bruxelas. A petição procurou “impedir as editoras de desativar os jogos à distância antes de proporcionarem, aos consumidores, meios razoáveis para que os possam continuar a utilizar sem a participação das editoras”.

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Por norma, os jogos online ou de serviço, são desligados quando estes deixam de ter jogadores suficientes que justifiquem os custos de manutenção de servidores. Mas com tantos títulos a serem lançados sem sucesso, as editoras procuram agir para minimizar os custos. Veja-se o exemplo da Sony, que lançou o título Concord, um jogo de ação por equipas, para o encerrar passadas duas semanas, reembolsando os jogadores que adquiriram uma cópia, ou melhor, licença de utilização.

Esta é a questão fulcral para os jogos em formato digital. Quando muitos jogadores pensam que estão a comprar uma cópia de um jogo, estão no fundo, a adquirir uma licença de utilização. E as condições de utilização estão sempre patentes num longo texto, que a grande maioria não lê (ou nunca leu). Aqui são referidas as regras para poder utilizar o jogo, estando sujeitas a alterações pelas editoras e estúdios.

É exatamente este documento que volta a reacender a polémica em torno da Ubisoft, com as mais recentes alterações às condições de utilização. Claramente uma decisão que protege a editora em futuras decisões de encerramento de serviços.

No ponto 8 (Termination), a Ubisoft esclarece que o acordo é válido desde o momento em que o utilizador adquira um jogo até ser cancelado. Este ponto refere que o contrato pode ser terminado pela Ubisoft, através de uma notificação aos jogadores, quando a empresa decida descontinuar a oferta ou o respetivo suporte ao produto. O ponto acrescenta que “depois de terminar por qualquer razão, terá de imediatamente desinstalar o produto e destruir todas as copias do produto em sua possessão”.

Alterações às condições de utilização como esta reacendem as preocupações dos jogadores que investem não apenas em jogos digitais (que acabam por nunca serem seus), como o investimento (de tempo e dinheiro) feito a longo prazo em títulos ligados a serviços digitais, que a qualquer momento e por qualquer razão, podem simplesmente deixar de existir, por decisão da editora.

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A mensagem que a Ubisoft parece estar a passar é que depois de desligar os servidores dos seus jogos, os jogadores não têm o direito de os manter ou de obter formas alternativas de continuar a jogá-los, tais como servidores não oficiais, como acontece com muitos títulos online.

Ao olhar para o ponto 2 (Onwnership), a Ubisoft reforça que todos os conteúdos dos seus jogos pertencem a si e são protegidos por leis internacionais de direitos de autor. E realça que “esta licença não confere o título ou posse do produto e não deve ser considerado uma venda de qualquer direito no produto”.

Ainda sobre a alteração do documento, a Ubisoft diz que pode modificar um produto, por qualquer motivo e a qualquer momento, em critério exclusivo, seja por questões técnicas ou por atualizações de conteúdo. Mais uma vez, caso o utilizador não concorde com estas modificações pode simplesmente cancelar o contrato e lá está, “desinstalar o produto e destruir todas as cópias”.