A história da Student Keep é fácil de contar, mas por detrás dos mais de 2.500 computadores que a iniciativa já entregou às escolas há muitas histórias, muitas horas de trabalho, consciência e responsabilidade social e momentos de grande empatia, colaboração e agradecimento.
O trabalho da organização que se tem mobilizado para angariar computadores, que são depois preparados e recondicionados antes de serem entregues às escolas, começou logo no início da pandemia de COVID-19, em março de 2020, quando os estabelecimentos de ensino fecharam e os alunos foram obrigados a passar a um modelo de telescola. E como rapidamente se percebeu, as desigualdades eram grandes e muitos jovens não tinham condições para assistir às aulas e acompanhar os trabalhos.
“Por ter uma professora em casa apercebi-me que havia muitos alunos de uma escola de Castanheira de Pêra que tinham enormes dificuldades para acompanhar as atividades escolares a partir de casa, por falta de computador”, explicou ao SAPO TEK Rui Nuno Castro, que foi o dinamizador do Student Keep.
“Lembro-me de um, em particular, que vivia com a bisavó e que apenas podia contactar com a professora por telemóvel quando a bisavó, que trabalhava, podia estar em casa”, recorda. “Facilmente percebi que esta realidade se iria replicar por todo o país e não consegui ficar quieto”.
Rui Nuno Castro já tinha fundado uma associação dedicada à inovação e ao empreendedorismo, a alphaCoimbra, e tratou de mover os cordéis para que os recursos necessários fossem colocados ao serviço desta causa. Assim, o Student Keep surgiu no contexto do Movimento Tech4covid19, que foi responsável pelo lançamento de dezenas de projetos que se propunham ajudar a enfrentar os novos desafios que esta pandemia nos colocou enquanto sociedade, e há mais de um ano tem estado a trabalhar para entregar equipamentos às escolas, e aos alunos, que deles necessitam.
Mobilizando parceiros, uma rede de voluntários e empresas, a Student Keep foi conseguindo transformar equipamentos que não estavam a ser usados em ferramentas essenciais para os alunos e as escolas.
E mesmo durante as férias escolares, e quando as escolas voltaram a abrir em setembro, o trabalho não parou. "Conseguimos continuar este trabalho que permitiu, em setembro, no início desta ano letivo entregar mais de 300 computadores".
“ Tínhamos consciência de que ainda não estávamos livres da pandemia e que isso iria certamente obrigar ao confinamento de toda a comunidade escolar, como se veio infelizmente a verificar”, afirma.
Dedicação total e um reconhecimento que é gratificante
Para o Rui Nuno Castro, que se descreve como “Entusiástico Voluntário”, o desenvolvimento da Student Keep envolveu inicialmente uma dedicação total. “Felizmente as minhas condições pessoais e profissionais permitiram dedicação total ao projeto. Sendo diretor de inovação de um grupo empresarial, tive a felicidade de ter tido total liberdade para me dedicar a este projeto que também tem alguma coisa de inovação social”, adiantou ao SAPO TEK.
Para o empreendedor, este sinal de responsabilidade e consciência social também é muito importante que exista nas empresas.” Neste caso existiu e permitiu um resultado interessante”, afirma, alertando porém que nem tudo foi um mar de rosas, e que em março de 2020 tinha uma empresa na área do entretenimento juvenil que estava prestes a abrir o seu espaço com cerca de 600 metros quadrados, em Coimbra, um projeto que ficou adiado até agora e que não sabe até quando.
A mobilização para preparar os computadores e os levar até às escolas já obrigou também ao envolvimento da família. “A minha esposa já distribuiu computadores e a minha filha, que tem 12 anos, já me ajuda a preparar os computadores do ponto de vista dos sistemas operativos e do software necessário”. O mais novo ainda é pequenino demais para poder fazer alguma coisa, mas mesmo esse tem ajudado.
“Considero muito importante que percebam que a realidade que felizmente vivem em casa, não é, infelizmente, igual em muitos outros lares e muitos eles conhecem", afirma.
"Acredito que a forma mais eficaz de influenciarmos os nossos filhos positivamente é através do exemplo e não tanto pelo discurso”, explica. Desta forma, os mais novos percebem que podendo colocar o que sabemos fazer ao serviço de quem está ao nosso lado e precisa de ajuda é um dever enquanto membros de uma comunidade que se quer equilibrada e solidária.
Todo o processo é desenvolvido em rede, e até agora já foram entregues mais de 2.500 computadores, com um envolvimento de voluntários de todo o país. A colaboração com o Ministério da Educação, através da DGEstE que ajuda a encaminhar os computadores angariados e recondicionados para quem mais necessita, conferindo também grande transparência e rigor ao projeto, é sublinhada como um elemento importante.
“Essa colaboração também se sente na relação com as escolas, mas onde vemos a nossa crença na sociedade renovada é na dedicação, no trabalho, na colaboração e entreajuda a que assistimos na equipa de voluntários que diariamente dão tanto de si a esta causa”, refere Rui Nuno Castro.
“O agradecimento é dirigido a todos os que têm confiado nesta equipa para entregar os seus computadores para serem recondicionados e entregues a quem mais precisa. São particulares, empresas e outras entidades que têm confiado em nós para sermos o veículo da ajuda que entregam”.
Mas a par de todo o trabalho e horas dedicadas ao Student Keep, admite também ganhos pessoais.
“Saio deste ano de pandemia uma pessoa melhor e humanamente mais completa, graças ao que este projeto me proporcionou e às pessoas que conheci”, explica.
A entregar computadores diariamente de norte a sul do país, o voluntário não quis destacar nenhum em especial, mas estão todos documentados no site e nas redes sociais da iniciativa, onde é possível também as empresas e particulares aderirem e juntarem-se à equipa.
“Recebemos imensos pedidos diariamente e procuramos endereçá-los sempre, mas estamos a responder ao levantamento de necessidades realizado pela DGEstE a nível nacional”, explica ao SAPO TeK. Na altura em que falámos havia mais de 300 computadores em recondicionamento, entre os que estavam com os voluntários ou nos Hubs de Lisboa, em parceria com a EDP, e em Coimbra, em parceria com o Instituto Pedro Nunes e muitos deles já terão sido entregues, mas outros virão certamente, porque há ainda muitos alunos a precisar de computadores no país.
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