A falta de equipamento informático foi um problema identificado logo desde o momento em que se considerou o arranque das aulas à distância, ainda na primeira fase da pandemia. Casa sem computador em que só os telemóveis serviam para assistir às aulas por videoconferência de Zoom ou Teams, ou famílias em que o mesmo computador tinha de ser partilhado para o trabalho dos pais e as aulas dos mais novos, foram algumas das situações identificadas pelas escolas, somando-se ainda casos em que nem sequer ligação à internet existia.
O plano da Escola Digital já estava prometido, com a ideia de assegurar computadores e ligação à internet a alunos e professores, mas ainda não estava no terreno a compra de equipamentos, e por isso várias pessoas e associações, autarquias e empresas, se mobilizaram para tentar fazer chegar os PCs a quem mais precisava.
A Student Keep é um dos exemplos de um projeto que arrancou logo na primeira fase da pandemia mas que nunca chegou verdadeiramente a parar, e que nesta fase em que as escolas voltaram a ser fechadas, continua a "pôr as mãos na massa", literalmente.
Logo no início do mês de janeiro entregaram mais 100 portáteis, e entretanto o número de equipamentos recondicionados e entregues às escolas já chegou às 2.097 unidades, como explicou ao SAPO TEK Rui Nuno Castro, um dos dinamizadores do Student Keep e “entusiástico voluntário”.
A ideia do Student Keep começou no seio da alphaCoimbra, uma associação de empreendedores da região de Coimbra, e integrado no Movimento Tech4Covid19, que nasceu na comunidade tecnológica nacional. No final de março de 2020 já dava conta do trabalho de recolha de equipamento usado para recondicionar com a ajuda de uma campanha montada para angariar equipamentos e voluntários.
O processo, numa lógica de Economia Social Circular, está montado para ser um auxilio prestado às escolas que identificaram necessidades, e por vezes há apelos dramáticos.
“Nós angariamos, recolhemos, recondicionamos os computadores e, em parceria com o Ministério da Educação, entregamo-los nas escolas, de acordo com a informação da DGEstE (Direção-geral dos Estabelecimentos Escolares)”, explica Rui Nuno Castro. A ideia é que enquanto houver uma criança sem computador a iniciativa continue a trabalhar para conseguir entregar os equipamentos.
Veja as imagens de equipamentos já recondicionados e momentos de entrega às escolas
A página do Facebook e o site são os locais de divulgação da iniciativa, onde se podem registar os voluntários e os Keepers, as empresas que estão a doar material. Há formulários próprios para gerir o fluxo de ofertas e desde o início mais de 150 voluntários de todo o país se envolveram no projeto para ajudar a preparar os computadores.
A divulgação da iniciativa teve efeito e cerca de mil pessoas registaram-se para doarem equipamento informático, mas o responsável pela Student Keep explica que deste número nem todos se converteram em computadores para doar porque muitos não estavam em condições.
As empresas são agora a principal fonte de material doado e mais de uma centena de empresas apoiaram o projeto com doações, um registo que está no site da Student Keep com informação de muitas entidades que apoiaram o projeto, e há apoiantes de "peso" entre as grandes empresas e até organizações como a Fundação Calouste Gulbenkian.
De Magalhães a desktops, servidores, portáteis e híbridos
O tipo de material doado para ser recondicionado é muito variado. “Já recebemos todo tipo de dispositivos: portáteis, desktops, híbridos, servidores, tablets e até Magalhães”, adianta Rui Nuno Castro, dizendo que o trabalho de recondicionamento depois varia bastante.
“Pode ser só ao nível do sistema operativo e software ou também de hardware. Já tivemos, por exemplo, que assemblar portáteis ou adquirir discos rígidos para viabilizar desktops recebidos que, por motivos de segurança, nos foram doados sem discos rígidos”, sublinha Rui Nuno Castro.
Apesar do trabalho que está a ser feito, o responsável pelo Student Keep admite que há muitos alunos sem acesso à tecnologia que permita o estudo à distância. “Os números de alunos sem acesso a tecnologia é muito grande em circunstâncias normais, mas num cenário em que estamos em confinamento esse número sobe ainda mais”
Rui Nuno Castro afirma que muitos dos alunos que informaram a escola que têm computador não significa necessariamente que tenham efetivamente um computador à sua disponível totalmente.
“Temos tido conhecimento e acreditamos que seja uma realidade normal de muitos casos em que existe um computador em casa, mas depois os pais estão em teletrabalho ou são vários irmãos e o computador tem que ser partilhado por 2 ou mais pessoas. O que impede que um aluno que tenha que acompanhar aulas à distância, o consiga fazer”, justifica.
O vídeo partilhado pela Student Keep conta um pouco da história da iniciativa e deixa um apelo à maior colaboração de voluntários e empresas.
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