As fabricantes e criadoras de soluções de Inteligência artificial andam a subcontratar “operários de dados” no Brasil para trabalhar no treino da Inteligência Artificial, alguns por apenas cerca 85 euros (500 reais) por mês. A média do vencimento é de 98 euros (583,71 reais), menos de metade do ordenado mínimo no Brasil, lê-se numa reportagem do G1, da Globo.
Os “operários de dados” são o equivalente, na IA, aos operários de chão de fábrica na indústria transformadora. Nos bastidores, estes operários do século XXI executam dezenas de milhares de microtarefas com objetivo de aperfeiçoar o sistema de IA. É uma função essencial, mas muito mal remunerada.
São muitos os recém-licenciados e universitários — incluindo um jovem de 19 anos que estuda inteligência artificial — que aproveitam esta oportunidade. Este trabalho manual é essencial para o aperfeiçoamento dos sistemas de IA, exige muita concentração, sendo remunerado, em média, com menos de metade de um salário mínimo, obrigando à acumulação de mais emprego/s, explica a reportagem.
O artigo recorda que a Inteligência Artificial atrai muitos talentos com salários acima da média (engenheiros, matemáticos, entre outros), mas nem todos têm essa oportunidade.
Os “operários de dados” são também “trabalhadores-fantasmas”, porque executam, nos bastidores, uma série interminável de microtarefas para refinar as inteligências artificiais. “Os sistemas de IA requerem muito trabalho humano manual e discreto para funcionarem, o que evidentemente contradiz a narrativa dominante da progressiva e inexorável automação”, diz a socióloga Paola Tubaro, especializada da ciência da computação e professora e pesquisadora do Centro de Pesquisa em Economia e Estatística, na França. “Por isso, as empresas de tecnologia e programação de IA não se dispõem a divulgar esse tipo de trabalho, que assim permanece escondido, ou seja, 'fantasma'”.
Na prática, os “operários de dados”, também chamados “treinadores de IA” inserem dados e informações para treinar e moderar sistemas e atividades de IA para que, no futuro os sistemas consigam responder aos pedidos dos verdadeiros utilizadores. São “microtrabalhos” por envolverem uma miríade de pequenas tarefas. O termo em português ainda não está consolidado, mas a reportagem compara-o ao termo inglês “data workers” que se distingue dos “tech workers”, que produzem, projetam e analisam dados de IA.
Os operários de dados no Brasil ganham, em média, 98 euros por mês, segundo a pesquisa “Microtrabalho no Brasil: Quem são os trabalhadores por trás da inteligência artificial”. No entanto, esses trabalhadores ganham por cada tarefa concluída e não por hora trabalhada. Segundo o estudo, esse valor médio mensal corresponde a cerca de 15,5 horas de dedicação por semana (aproximadamente 6,3 euros/por hora, em média).
Os operários de dados que não conseguem atingir as metas estabelecidas pelos empregadores ganham valores reduzidos por cada hora trabalhada.
Segundo um estudo de 2018 da Organização Internacional do Trabalho junto microtrabalhadores de 75 países, a média global de vencimento por hora é de 4,3 euros. No Brasil, uma pesquisa revelou que esse valor anda em torno de 1,49 euros.
O investigador de inovação e ciência de dados, Mauro Zackiewicz, de 50 anos, que tem um doutoramento na área, chegou a trabalhar, pouco menos de um mês para uma fabricante de telemóveis recebendo documentos, como áudios triviais, conversas curtas e, por vezes, cenas de filmes ou novelas. “Tinha de corrigir tudo, provavelmente para alimentar de dados um sistema de reconhecimento de voz, mas nem chegaram a dizer qual era a finalidade”, conta ele. “Ganhava pouca coisa, dava apenas para a subsistência, e nem tinha contrato, o que é, digamos assim, curioso para uma grande empresa.”
Dos quinze participantes selecionados para entrevistas no âmbito da pesquisa Microtrabalho no Brasil, treze eram formados em cursos variados, como direito, administração, ciências da computação e fisioterapia. Sete em cada dez trabalhadores deste mercado têm entre 18 e 35 anos, segundo o estudo. De cada cinco, três são mulheres.
O estudante Gustavo Luiz, de 19 anos, divide o seu tempo entre o curso de inteligência artificial da Universidade Federal de Goiás e o emprego como operário de dados. “Trabalhao no desenvolvimento de um sistema de IA para analisar sentimentos expressos em textos e frases em português”, conta.
Guilherme Graper, de 24 anos, conta que trabalha numa plataforma da Amazon, mas contratado por outras empresas. “Por exemplo, tenho uma encomenda para incluir nomes de médicos no sistema para treinar uma IA para pesquisar por médicos em toda a Internet”, explica. Guilherme Graper diz que o que recebe é variado, entre 50 e 844 euros. Em média recebe 338 euros.
As ofertas para este tipo de trabalho surgem, por exemplo, em plataformas como na rede social LinkedIn, bastando para o efeito fazer um registo e seguir as orientações.
As empresas de trabalho temporário contratam trabalhadores-fantasma para prestar serviços a empresas de maior dimensão, incluindo a Meta ou a OpenAI.
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