A inteligência artificial é colocada numa balança pelos cidadãos europeus, que por um lado reconhecem o seu potencial, seja na ajuda a prever acidentes ou crimes, assim como a melhoria do uso de recursos e tornar o planeta mais sustentável. Mas por outro, as questões éticas e morais estão no outro prato da balança, segundo um estudo que a DECO realizou a nível europeu, num inquérito feito a 15.120 cidadãos, dos quais 1.441 das respostas são de portugueses.
Ao todo participaram nove países incluindo Portugal, como a Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Itália, Polónia e Suécia, no inquérito realizado entre novembro e dezembro de 2019.
No contexto de Portugal, a maioria dos inquiridos já ouviu falar da inteligência artificial (87%), com maior incidência em pessoas até aos 31 anos e com nível de educação elevado. Um em cada quatro dos inquiridos, dos 18 aos 39 anos, refere que utiliza sistemas com IA no seu dia-a-dia. Mas para idades acima dos 55 anos, a tecnologia só é utilizada em um em seis.
Os sistemas mais destacados de IA são os de reconhecimento de imagens e rostos, assim como a capacidade de falar e interagir, como os assistentes virtuais Alexa e Siri. A realização de tarefas domésticas, a resolução de problemas inalcançáveis aos humanos e a execução de missões militares são outros exemplos de utilização citados. “Os portugueses consideram que estas tecnologias podem facilitar o dia-a-dia, por exemplo, para prever acidentes rodoviários (75%), criminalidade (72%), problemas de saúde (67%) ou financeiros (52%) ou até avarias em eletrodomésticos (51 por cento)”, é destacado.
As recomendações de conteúdos na internet com base no perfil do utilizador são das aplicações mais comuns da inteligência artificial, e os inquiridos estão familiarizados com tais possibilidades. Artigos para ler, sobretudo nas redes sociais (73%), e itinerários para percorrer de automóvel (68%) foram as sugestões personalizadas que mais seguiram nos 12 meses anteriores ao estudo.
A principal dúvida dos portugueses diz respeito aos sistemas automatizados e na falta de emoções que a IA oferece, acreditando que estes nunca poderão ser usados, por exemplo, para emitir sentenças em tribunal. E da mesma forma, os dados filtrados por IA podem ser usados para vedar o acesso a determinados serviços, tais como propostas de crédito e seguros, mas principalmente na saúde: “as decisões com base em algoritmos parecem ser marginais”. E apenas um em cada cinco portugueses conseguiu obter a informação ou o apoio ao cliente necessário através de um sistema automatizado.
No que diz respeito à confiança na proteção dos seus dados pessoais, também existe preocupação sobre o destino dos mesmos. Os cidadãos não colocam as mãos no fogo quanto à segurança e privacidade dos seus dados. Apenas 16-23% dos portugueses consideram que os dados obtidos pelos equipamentos conectados, como o smartphones ou televisão, são de elevada confiança, consoante o equipamento.
Outras preocupações manifestadas prendem-se com o desemprego gerado pela IA (67%), empresas e governos que controlam cidadãos e trabalhadores (52%), ou manipulação de decisões (62%). O risco para os humanos devido a falhas de máquinas é apontado por 52% dos inquiridos.
Contas feitas, apenas um em cinco acredita que a inteligência artificial poderá contribuir para a igualdade de oportunidades entre cidadãos. Mais otimistas são aqueles que acreditam que a IA pode ajudar a melhorar a gestão dos recursos e tornar o mundo mais sustentável (43%).
A nível de contexto europeu, os portugueses surgem em terceiro lugar na tabela dos mais preocupados sobre os abusos acrescidos decorrentes da exploração dos dados dos utilizadores (56%). No geral, a população acredita que a legislação ainda não é suficiente para controlar todas as atividades de inteligência artificial.
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