Como foi a aprendizagem durante o período da pandemia? O Ministério da Educação decidiu fazer uma análise junto dos alunos de vários graus de ensino, através do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), e apresentou hoje os resultados que revelam que ainda há dificuldades de aprendizagem em termos de literacia da ciência, matemática e leitura, mas também no acesso a equipamentos informáticos para as aulas online.
“É nas dificuldades na utilização dos recursos para a aprendizagem que encontramos as maiores diferenças entre os alunos dos diferentes anos de escolaridade. Cerca de 20% dos alunos do 3.º ano mencionou o facto de ter dificuldade em aceder sempre a um sítio sossegado para estudar, 17% a um dispositivo, como computador, tablet ou telemóvel e cerca de 15% referiu ainda não ter sempre acesso à internet”, revela o Estudo Diagnóstico das Aprendizagens 2021 que foi apresentado esta manhã por João Costa, Secretário de Estado Adjunto e da Educação.
Em resposta ao SAPO TEK, durante a conferência de imprensa, João Costa lembrou que este estudo foi feito antes da entrega de equipamentos da Escola Digital aos alunos, pelo menos aos mais novos, do 3º ano de escolaridade, e que isso tem de ser levado em conta na análise dos resultados.
O secretário de Estado fez ainda o balanço do programa Escola Digital, sem referir números, e dizendo que "os computadores estão a chegar às escolas a bom ritmo, praticamente todos os dias", lembrando ainda que as escolas têm feito um trabalho que é pesado de atribuição aos alunos e preparação dos equipamentos.
Mesmo assim, sublinhou que o programa Escola Digital não se limita só à utilização dos computadores pelos alunos em casa, mas que prevê a criação de condições para utilização dos equipamentos também nas escolas e a capacitação de professores, assim como o uso de mais recursos digitais.
Falta espaço de concentração e equipamentos para estudar
A principal dificuldade referida pelos alunos mais novos foi a falta de um local sossegado para estudar em casa, identificada também por cerca de 20% dos alunos do 3º ano de escolaridade. Já no 6º e 9º ano é a dificuldade em sentir-se motivado que é mais referida nos resultados do estudo.
Segundo os dados, os equipamentos informáticos estiveram entre os recursos mas utilizados diariamente, mas a seguir aos manuais escolares. “Os alunos de qualquer um dos anos de escolaridade abrangidos pelo estudo referiram que os recursos mais utilizados diariamente no seu trabalho em casa foram os manuais escolares, cadernos de atividades e fichas em papel (64,7% no 3.º ano, 56,3% no 6.º ano e 47,1% no 9.º ano), bem como as aulas síncronas dadas por um dos professores do aluno através do computador (64,3% no 3.º ano, 66,4% no 6.º ano e 71,3% no 9.º ano)”, refere o estudo.
Já na utilização dos equipamentos não há praticamente dificuldades referenciadas. 97% dos alunos do 3º ano disseram que não tiveram dificuldades em usar os computadores, nem em estudar sozinhos, uma percentagem que baixa para os 90% no 6º e no 9º ano. A ajuda em casa foi considerada positiva, e também o apoio dos professores, pelo menos nas referências apresentadas pelos alunos.
“Os alunos mais velhos indicaram ter melhorado a capacidade de utilizar o computador para fazer tarefas escolares (85,5% no 6.º ano e 82,6% no 9.º ano) e que os seus professores estiveram disponíveis sempre que precisaram (89,7% no 6.º ano e 87,4% no 9.º ano)”, refere o estudo.
O acesso a equipamentos informáticos foi apresentado já desde o ano passado como uma das barreiras para o estudo em casa e o ensino à distância e nesse sentido está a ser desenvolvido o programa Escola Digital, que já estava previsto antes da pandemia da COVID-19 e que pretende fornecer computadores a alunos e professores, e promover a digitalização dos manuais escolares. Esta programa está em curso e até final de 2020 tinham sido entregues mais de 100 mil computadores, estando prevista a entrega de mais 335 mil computadores.
A análise foi realizada a mais de 1.300 turmas, numa amostra representativa do 3º, 6º e 9º ano, e o objetivo foi fazer a avaliação das literacias e aprendizagens, através de uma plataforma online que foi desenvolvida pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), como explicou Luís Santos, presidente do Instituto. O desenvolvimento do estudo e da plataforma começou a ser feito em setembro e outubro mas decidiu-se não o aplicar em dezembro, e só em janeiro, por se considerar que não existiam condições de estabilidade nessa altura.
Os alunos gostam da escola e os pais também
Na apresentação dos resultados, Luís Santos sublinhou também que as respostas mostram que os alunos têm saudades das escolas, o que é referido por 97% dos alunos do 3º ano de escolaridade
“Os alunos dizem que não gostam da escola mas têm saudades da escola”, afirmou Luis Santos com base nos dados do estudo, dizendo que “depois da pandemia [e do confinamento] os pais também ficaram a gostar mais da escola e dos professores”.
O estudo segue também as linhas de outras análises, como o PISA, e vai servir de base para a avaliação deste ano, que será feita em amostragem e não de forma generalizada aos alunos do 3º, 6º e 9º ano. Ou seja, a análise vai ser feita mas em menos escolas. "Este ano é fundamental ter estes dados para no 2º ano de pandemia percebermos como estão as aprendizagens dos alunos", reforçou ainda Luis Santos.
Durante a conferência foi também apresentado o Infoescola e os novos dados relativamente às escolas que estão já atualizados, e que mostram diferenças significativas também entre as escolas e as áreas geográficas. Há novos indicadores de equidade e "selos" que vão ajudar a diferenciar de forma qualitativa as escolas consoante as iniciativas educativas que desenvolvem, como a aposta na ciência, a robótica e a programação.
Os dados do Estudo Diagnóstico das Aprendizagens 2021 permitem já tirar conclusões, embora ainda necessitem de análise posterior. “Vemos que os alunos têm dificuldades nos níveis mais elevados, mas temos percentagens muito grandes de alunos que não conseguem desempenhos em algumas das tarefas mais simples”, refere o João Costa. “Temos dois anos letivos perturbados pela pandemia e não podemos achar que está tudo igual. Este plano que está a ser trabalhado requer um trabalho multidisciplinar”.
O secretário de Estado explicou na conferência que há muitas dimensões que têm agora de ser avaliadas com base nos dados reunidos. Foi criado um grupo de trabalho que irá fazer propostas ao Governo depois da análise que foi realizada.
Nota da Redação: a notícia foi atualizada com mais informação. Última atualização 13h18
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