Os ecrãs dos smartphones, tablets ou computadores pessoais têm vindo a substituir o formato em que as pessoas acedem à informação. As publicações evoluíram para o digital, oferecendo opções aos livros, revistas e jornais para utilizadores que começam a dispensar o papel. O certo é que o formato digital é mais cómodo e acessível, concentrando a informação na ponta dos dedos, a poucos cliques de distância. No entanto, o conforto de leitura e o efeito nocivo para os olhos, a longo prazo, continuam a ser os principais pontos negativos dos equipamentos que levamos no bolso.
Felizmente que existe tecnologia que consegue reunir o melhor dos dois mundos, o papel e o digital, permitindo que os devoradores de livros carreguem literalmente milhares de obras consigo, acessíveis em qualquer local, sem o peso dos modelos físicos e respetivas implicações para o meio ambiente. A solução está na tinta electrónica, ou Electronic Ink (E Ink em abreviado), a tecnologia que permitiu a criação dos leitores de livros electrónicos, os e-book readers, que muitas marcas têm vindo a explorar.
A tecnologia foi criada por um grupo de cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) em 1996. Barrett Comiskey e JD Albert, na altura ainda estudantes, foram recrutados pelo professor Joseph Jacobson da MIT Media Lab para criar uma tecnologia que imitasse as páginas de um livro. O objetivo era desenvolver um ecrã que não emitisse luz e que pudesse ser inclinado mantendo-se a capacidade de ver o texto. O professor que liderou o projeto pretendia ainda criar algo em que fosse necessária pouca energia para ser utilizado, no fundo, como um verdadeiro livro.
Veja na galeria imagens de produtos da Kobo, um dos exemplos de leitores digitais com E Ink
Nasceu assim a tecnologia E Ink, patenteada pelos investigadores, criando em 1997 a empresa E Ink Corporation. O primeiro equipamento lançado oficialmente com a tecnologia foi um e-reader da Sony em 2004. Mas foi necessário esperar uns 10 anos para o mercado perceber o efeito dessa tecnologia, quando a Amazon introduziu no mercado a primeira versão do Kindle, em 2007, tendo como base a tecnologia E Ink. O leitor electrónico destacou-se pelo seu peso diminuto (300 gramas) e uma autonomia de 30 horas. A possibilidade de utilizar este ecrã, que se comportava como um papel, mesmo ao ar livre em dias de sol muito intenso, atraiu a atenção dos leitores de livros. O ecrã refletia luz como um papel normal e dispensava retroiluminação.
Mas não é apenas nos leitores de livros que a tecnologia pode ser útil. Em outros casos onde é necessário ter a informação sempre disponível, com baixo consumo de energia, e com a possibilidade de ser modificada. Já percebeu que os hipermercados e supermercados atuais utilizam a tecnologia nas placas dos preços dos produtos? Estas são quase indiferenciadas de uma etiqueta em papel e podem ser programadas pelos funcionários instantaneamente, quando precisam de alterar o preço do produto.
No que consiste a tecnologia E Ink?
Conforme é explicado pela própria E Ink, a tecnologia convencional dos portáteis utiliza duas folhas de vidro ensanduichadas com cristais líquidos no seu interior. O trabalho dos investigadores foi substituir esses cristais líquidos por microcápsulas, cada uma mais pequena que a espessura de um cabelo humano. Estas contêm partículas brancas carregadas positivamente e outras negras com cargas negativas, suspensas em óleo.
Numa alegoria mais fácil de entender, a empresa responsável pela tecnologia que o resultado é como se sal e pimenta fossem misturados dentro de uma microcápsula, aplicando um campo elétrico para os separar. A carga destaca as respetivas partículas para o topo da cápsula, tornando-se visíveis através de uma folha de plástico colocada em cima. Estas partículas negras, que consistem em carbono negro, representam a tinta, enquanto as brancas, criadas com dióxido de titânio, funcionam como o papel.
Veja na galeria imagens de produtos que utilizam a tecnologia e Link:
A principal diferença desta tecnologia em relação a outros displays, é que o papel electrónico é dotado de tecnologia de exibição reflexiva e biestável (dois estados lógicos), por isso tem uma aparência visual semelhante ao papel tradicional, além dos benefícios de proteção para os olhos e poupança de energia.
O resultado do projeto acabou por ser um teste à perseverança, uma vez a técnica de utilizar os materiais preto e branco em cargas elétricas opostas dentro de uma microcápsula suscitava dúvidas na comunidade científica. Os investigadores leram patentes, algumas que já tinham expirado, recriaram algumas experiências, levando a diversos protótipos e muitos falhanços. Foram sobretudo, contra as ideias dos especialistas que diziam que a tarefa era impossível de realizar. Os inventores entraram para a National Inventors Hall of Fame em 2016.
Equipamentos que utilizam sistemas de tinta electrónica
Apesar da tecnologia não ser barata e mesmo tendo de pagar os respetivos royalties de utilização à E Ink Corporation, as fabricantes conseguem ainda assim oferecer produtos bastante acessíveis. Em primeiro lugar porque estes ecrãs dispensam especificações de hardware exigentes. Por outro lado, muitas das empresas acabam por equilibrar o negócio com a venda dos conteúdos ou oferecer serviços associados.
Atualmente, apesar da maioria dos equipamentos que simulam o papel utilizarem tecnologia da E Ink, fabricantes como a TCL também já desenvolverem tecnologia semelhante. Os tablets e smartphones NXTPAPER da TCL também se destacam pelo formato de comutação, transformando-se em equipamentos a cores convencionais e no sistema de papel digital.
Veja na galeria imagens do TCL NXTPAPER 10s
Quanto à E Ink, a série de produtos Kindle da Amazon é a mais conhecida, também por ser dos primeiros leitores de eBook a surgir no mercado. A Amazon tem explorado diferentes conceitos como o Kindle Oasis para ler na banheira, funcionalidade que o Kindle Paperwhite também herdou. A Kobo também tem diversos leitores de livros electrónicos, tendo estreado dois novos modelos com ecrãs a cores.
Veja na galeria imagens do Kindle Scribe:
Para lá dos smartphones e tablets, a tecnologia pretende expandir-se para monitores e outros formatos. A Dasung lançou em 2023 uma campanha de crowdfunding para a criação de um monitor a cores com um ecrã semelhante ao papel, suportado pela tecnologia da E Ink. A Philips também tem dois modelos de ecrãs baseados em e-Paper.
No website da E Ink é possível ver a diversidade de produtos criados por diferentes marcas, para lá dos tradicionais leitores. Exemplos são a carteira Ledger Stax, literalmente uma carteira de cripto, ou o casaco ProRacing Jacket, com um ecrã colocado na manga. A Lenovo tem um modelo de portátil com ecrã de “papel”, o ThinkBook Plus Twist de 12 polegadas.
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