Os desafios que ainda se colocam até chegarmos à autonomia total na condução são muitos e alguns estão a ser resolvidos em Braga, na Bosch Car Multimedia. A unidade reúne mais de 450 engenheiros e está prestes a aumentar a equipa. Na capital do Minho trabalha-se no sensor LiDAR, em sensores de monitorização das condições de piso, mas também no desenvolvimento de algoritmos críticos para interpretar toda a informação que os carros do futuro terão para partilhar.
Esta terça-feira quatro engenheiros ligados a estes projetos conduziram uma tech talk, onde abordaram alguns dos desafios mais importantes que a indústria tem ainda por resolver, até que seja possível alcançar o nível máximo de autonomia dos carros, e o que podemos alcançar quando aí chegarmos.
Num cenário de autonomia total, além da capacidade para interpretar a informação de todos os sensores que o equipam, um carro autónomo tem de conseguir comunicar com os outros carros, gerir e interpretar toda a informação que recebe de volta desses carros, começou por sublinhar António Lopes, mechanical designer da Bosch em Braga.
A autonomia, e a inteligência associada à condução autónoma, vai muito para além do que está em cada veículo e implica toda uma infraestrutura de comunicação que tem de falar a mesma língua. Este é um dos grandes desafios por resolver pelo mercado, que tem de desenvolver e adotar standards universais, que vão encaixar na regulação a criar por cada país.
Para que tudo funcione como é suposto num carro autónomo há outros elementos críticos, em que as empresas do sector como a Bosch estão a trabalhar, como garantir a redundância dos sistemas de suporte ao veículo. Se um ou mais sensores falhar, o carro não pode parar. Se o sistema que gere essa informação falhar também não, por isso o próprio sistema não pode ser único e as comunicações têm de ser fiáveis e rápidas, o que obriga a soluções de complementaridade com o sinal GPS, como destacou Pedro Barbosa, software & hardware developer.
LíDAR e sensores que monitorizam condições da estrada em destaque
De volta ao interior do carro, Mónica Cerquido, optical developer, destacou cinco áreas críticas num veículo autónomo. Mais relacionadas com os sensores a bordo, estão o computer vision e sensor fusion, que se referem ao processamento e integração da informação recolhidas por câmaras e sensores, respetivamente. Mais no domínio do software destacam-se a localização, planeamento de percursos e controlo. A Bosch está particularmente focada na área dos sensores, como o LiDAR e os sensores de monitorização das condições de piso.
Ao contrário do que têm defendido empresas como a Tesla, que não usa este tipo de sensor ótico nos seus veículos, a Bosch acredita que o LiDAR - com a sua capacidade de medir propriedades da luz e identificar distâncias, dimensões, etc - será indispensável no futuro.
Encara a tecnologia como fonte de informação complementar à de outros sensores, como câmaras, radares ou sensores ultrassónicos, mas reconhece-lhe um claro valor acrescentado, na tarefa de mapeamento 3D do ambiente envolvente. Tanto pela profundidade que dá à informação recolhida, “introduzindo um relevo com uma resolução muito elevada”, como sublinhou Pedro Barbosa, como pelo facto de conseguir fazê-lo de forma menos exigente, no que se refere ao processamento de dados.
A empresa está também a trabalhar em sensores de monitorização das condições da estrada, que têm capacidade para distinguir diferentes condições de piso, o volume de água na estrada numa situação de chuva, mas também informações sobre lombas, depressões ou passeios, exemplificou Pedro Macedo, hardware developer. Este tipo de sensores tem a particularidade de trazer para dentro do carro um conjunto de informação que só estava disponível através de sensores fixos, que precisavam de estar em contacto com o piso para fornecer essa informação. Já foram testados em ambiente real e podem vir a integrar todo o tipo de automóveis, autónomos ou não.
Portugal entre os países que mais têm a ganhar com a condução autónoma
Em Braga trabalha-se também na área da inteligência artificial, crítica para lidar com todos os dados que os sistemas de condução autónoma podem fornecer e que precisam para funcionar e tomar decisões. Na unidade minhota do grupo alemão são desenvolvidos algoritmos com datasets próprios, para trabalhar toda esta área da interpretação da informação recolhida pelos sensores.
O trabalho da Bosch nesta área da condução autónoma assenta num conjunto de pressupostas, relativamente aos benefícios que daí podem advir. A empresa acredita que sistemas de mobilidade baseados em veículos autónomos vão contribuir para reduzir até 40% o tempo das viagens e de forma muito significativa os custos com combustível.
Em relação à segurança o impacto também pode ser muito relevante, sobretudo em países como Portugal, como sublinhou António Lopes, onde uma larga faixa da população tem mais de 65 anos. É neste grupo etário que o número de acidentes mortais é maior, porque é também aqui que o tempo de reação a um evento é mais elevado. A Bosch acredita no cenário que defende uma redução até 90% das mortes na estrada, com a condução autónoma.
Entre os próximos dias 12 e 13 de novembro, a Bosch organiza um evento de recrutamento em Braga para preencher 90 vagas, a maioria para trabalhar nestes projetos. Está à procura de perfis em áreas como Software and Hardware Engineering, Data Science, Deep Learning, Machine Learning, AI, Sensor Fusion, Computer Vision, entre outros. As vagas para participar estão abertas até dia 15 de outubro.
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