Bill Gates, que co-fundou e durante anos dirigiu a Microsoft, hoje com uma forte aposta na inteligência artificial e uma extensa parceria com os criadores do ChatGPT, escreveu sobre inteligência artificial. O agora filantropo a tempo inteiro já abordou por muitas vezes - é um conhecido entusiasta destas tecnologias, mas decidiu agora dedicar-lhes uma reflexão mais extensa. Aí aborda o melhor que a IA nos pode dar, nas mais diversas áreas, mas também reconhece a legitimidade de muitas preocupações em torno do tema.
Logo no princípio da carta de sete páginas, Gates deixa clara a sua visão sobre a importância da IA:
“o desenvolvimento da IA é tão fundamental como a criação do microprocessador, o computador pessoal, a Internet, e o telemóvel”, refere. “Irá mudar a forma como as pessoas trabalham, aprendem, viajam, recebem cuidados de saúde e comunicam entre si. Indústrias inteiras vão reorientar-se à volta dela. As empresas vão distinguir-se pela forma como o utilizam”.
Se o início da carta arranca num tom de otimismo, na parte final são reconhecidas as fragilidades da tecnologia (sobretudo quando tem de interpretar dados de contexto) e os perigos. Como admite Gates, “como a maioria das invenções, a inteligência artificial pode ser utilizada para bons fins ou para fins malignos”. Caberá aos governos trabalharem com o sector privado para limitar os riscos existentes.
Gates refere a possibilidade de as IAs ficarem fora de controlo, que muitos temem, e admite a possibilidade de a máquina decidir que os seres humanos são uma ameaça e tem interesses diferentes dos seus, mas defende que “este problema não é mais urgente hoje do que era antes dos desenvolvimentos da IA dos últimos meses”.
Também reconhece que as IA superinteligentes, a chamada IA forte, mais tarde ou mais cedo vai chegar e acabará por ser capaz de fazer tudo o que um cérebro humano faz, sem estar limitada ao tamanho da memória ou na velocidade de ação. Admite que estes avanços possam estar a uma década ou a um século de distância, consoante o ritmo de desenvolvimento dos algoritmos que vão permiti-lo, mas, mais uma vez, usa o exemplo para tranquilizar quem o lê e referir que “nenhum dos avanços dos últimos meses nos aproximou substancialmente da IA forte”.
Gates referia logo no início da carta a admiração com os avanços que a equipa que criou o ChatGPT conseguiu ao longo dos últimos anos e é ao potencial impacto positivo de desenvolvimentos nesta linha que dedica quase toda a reflexão, dando exemplos concretos para vários sectores, como a educação ou a saúde.
O multimilionário sublinha o valor de uma tecnologia como o GPT para eliminar tarefas repetitivas em áreas administrativas, ou no tratamento de documentos e prevê que à medida que a capacidade de computação se tornar mais barata, a capacidade do GPT para assistir tarefas humanas continuará a melhorar e a expandir-se.
Dito isto, não é estranho que um dos próximos desenvolvimentos de peso antecipado por Bill Gates para a IA seja na área dos agentes pessoais. “Devido ao custo da formação dos modelos e da execução dos cálculos, a criação de um agente pessoal ainda não é viável, mas graças aos recentes avanços na IA, é agora um objetivo realista”, refere Gates, antecipando um importante papel para estes agentes nas empresas e o forte contributo que podem dar para melhor a produtividade dos trabalhadores humanos.
Na educação, Gates antecipa que o software orientado por IA, nos próximos 10 anos, vai revolucionar a forma como as pessoas ensinam e aprendem, ao permitir adaptar conteúdos e interações a cada perfil de aluno. Muitos desenvolvimentos adicionais do lado da IA terão de ser ainda feitos, para que estas tarefas de interpretação sejam bem desempenhadas. Os professores também terão de fazer um caminho de adaptação, embora Gates defenda que a “aprendizagem continuará a depender de grandes relações entre estudantes e professores”.
Gates deixa mais exemplos do papel importante que a IA pode assumir em sectores críticos da sociedade, como a saúde. Antecipa que as soluções de IA podem vir a contribuir para facilitar o acesso a cuidados de saúde em zonas mais remotas do globo e com menos recursos, ajudando a otimizar os que existem. Sublinha o papel da IA no desenvolvimento de novos medicamentos e na análise de dados médicos.
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