Novas estatísticas reveladas em novembro indicam que a Suécia se tornou o primeiro país sem fumo do mundo, com um consumo abaixo de 5%, numa estratégia que passou pela adoção de produtos de nicotina sem combustão, onde a tradição se junta com a inovação. Nos últimos 60 anos o país passou de uma taxa de 49% de fumadores para 4,5% e é considerado um caso de sucesso para “um mundo sem fumo”.
A legislação contra o tabaco tem vindo a apertar na Europa, com a meta de ter menos de 5% de fumadores em 2040 e novas restrições aos locais onde é possível fumar – seja cigarros tradicionais ou mesmo tabaco aquecido ou vaping – e que têm gerado uma grande contestação em relação à mais recente diretiva apresentada pela Comissão Europeia em setembro e já aprovada pelo Conselho Europei. Não falta quem sublinhe que não é a proibição que vai promover comportamentos mais saudáveis e Isabel Moreira, deputada socialista, em entrevista ao recente ao Health News considera mesmo que a lei do tabaco em Portugal é desproporcional e potencialmente inconstitucional.
Na Suécia a abordagem No Smoke, Less Harm (Sem Fumo, Menos Danos) é apoiada pelos partidos políticos de diferentes alas e apontada como um sucesso na forma como conseguiu mudar o consumo de produtos ligados à nicotina. Menos de 4,5% dos suecos fumam, um valor significativamente abaixo dos 23,5% da média da União Europeia, um exemplo que a indústria quer usar para incentivar à mudança de abordagem nos países europeus.
A tradição sueca dos Snu – bolsas de tabaco em pó que se colocam entre a bochecha e a gengiva, libertando lentamente a nicotina – pode ter sido um dos impulsionadores da redução do consumo de produtos de combustão. A ideia tem mais de 200 anos e a tecnologia evoluiu entretanto, partindo provavelmente de uma base comum ao rapé, sendo que os Snu tiveram um pico de utilização no país depois da primeira guerra mundial, voltando a tornar-se moda nos anos 70 do século passado.
Mas estes produtos são proibidos na Europa desde 1992 e só a Suécia e a Noruega gozam de uma exceção para os comercializar, tendo sido uma das questões mais debatidas aquando da entrada do país na União Europeia. A alternativa que foi desenvolvida, com os pacotes orais de nicotina, já goza de maior abertura, sendo que aqui são usados produtos alternativos à folha de tabaco para extrair a nicotina, sem os efeitos mais nefastos do tabaco de combustão.
As bolsas são vendidas na Suécia em lojas especializadas e também no comércio tradicional, como o SAPO TEK teve oportunidade de comprovar numa visita de jornalistas portugueses e espanhóis a Malmo. A BAT (British American Tobacco) tem mais de 70 produtos diferentes nestas linhas de nicotina oral moderna, com opções variadas em termos de sabores que diversificam a experiência e se adaptam a diferentes gostos.
Cada embalagem tem 20 bolsas, com cerca de 4 mg de nicotina que é libertada lentamente, sendo cada bolsa usada em média durante 20 a 30 minutos. Já estão à venda em Espanha mas a BAT ainda não tem data para começar a comercialização em Portugal.
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Patrik Strömer, secretário geral da associação sueca de fabricantes de Snu e especialista da federação alimentar sueca, diz que, desde que as bolsas de nicotina entraram no mercado em 2018, “o cenário de uso de nicotina oral e tabaco mudou de forma decisiva na Suécia”. “Parece que a inovação – as bolsas de nicotina – se tornou mais popular, entre os ex-fumadores e consumidores de Snu”, afirma.
Embora diga que é difícil prever o futuro, o especialista adianta que “nos próximos cinco anos espero a venda de mais caixas de bolsas de nicotina do que dos Snus com tabaco na Suécia”.
“Já temos duas gerações sem fumo como resultado das opções disponíveis na Suécia. Cada passo para uma continuidade de baixo risco do uso do tabaco é boa, sendo a mais vital a transição de tabaco combustível para produtos de nicotina sem fumo”, sublinha.
Durante uma visita à fábrica da BAT em Malmo, na Suécia, Patrik Strömer defendeu que a Europa devia olhar para estas formas modernas de nicotina oral, mas também para os Snu, com tabaco, e liberalizar a utilização de produtos sem combustão.
“Represento os produtores, sou tendencioso, mas aqui os modelos de nicotina oral fizeram a diferença”, defende, sublinhando que as abordagens regulatórias poderiam salvar milhões de vidas, com a liberalização do marketing dos produtos e o fim de bloqueios à comercialização. Segundo o especialista, para impedir que as pessoas continuem a usar tabaco de combustão não vale a pena aumentar as taxas e os preços. “A Suécia tem os cigarros mais baratos da Escandinávia e temos menos fumadores”, justifica.
Impacto na saúde mais reduzido?
Os dados partilhados no relatório da plataforma Smoke Free Sweeden indicam que a Suécia reduziu as suas taxas de incidência de cancro em 41%, em comparação com a média europeia, e a taxa de mortes relacionadas com o tabaco é menos de metade da de outros países da União Europeia. “Isto acontece, porque os suecos consomem nicotina sem combustão, evitando as toxinas que são geradas na combustão do tabaco (quando queimado)”, refere o estudo.
Os números partilhados partilhados dizem que a Suécia regista menos 21,2%(138,9 vs 176,2)de mortes relacionadas com o tabaco, menos 31,3% (56,3 vs 81,9) de mortes por cancro, menos 36% (29,1 vs 45,5) de mortes por cancro do pulmão, menos 12% (44,1 vs 50,1) de mortes por doenças cardiovasculares e menos 25,3% (27,2 vs 36,4) de mortes por outros tipos de cancro relacionados com o tabaco.
A Nova Zelândia é também apontada como um bom exemplo de mudança para uma sociedade sem fumo e o relatório Quitting Strong: New Zealand’s Smoking Cessation Success Story, da mesma plataforma, aponta os progressos na redução do tabagismo, seguindo uma abordagem de redução de danos semelhante à da Suécia. Aqui as taxas elevadas de tabagismo eram identificadas entre comunidades mais vulneráveis, como os Māori, pessoas com baixos rendimentos e com problemas de saúde mental.
O país apostou em campanhas de educação e sensibilização, promovendo o vapping e avançando com a campanha “Vape To Quit” e plataformas como “Vaping Facts”, com informação dirigida aos fumadores sobre alternativas mais seguras. Entre 2011 e 2023, a percentagem de fumadores diários na Nova Zelândia desceu 16,4% para 6,8%. No sentido contrário, a Austrália adotou medidas mais restritivas em relação ao vaping e a percentagem de fumadores continuava acima de 10% em 2022.
Mas o que faz com que o risco seja menor? Durante a apresentação dos produtos, o professor Fredrik Nyström, que se especializou em medicina interna e endocrinologia, partilhou com o grupo de jornalistas de Portugal e Espanha os resultados de dois estudos desenvolvidos na universidade de Uppsala, onde avaliou o impacto do consumo de nicotina como estimulante e efeitos em vários indicadores de saúde, defendendo que há resultados positivos na mudança de tabaco de combustão para as bolsas de nicotina. “O pior efeito é que causa dependência, como acontece com o café também”, explica.
Para o médico e investigador, há muitos conceitos errados na forma como se olha para a nicotina e as várias formas de uso. “Chateia-me que os colegas [médicos] e cardiologistas misturem os efeitos da nicotina e do tabaco de combustão e não saúdam os clientes por mudarem de tabaco para as bolsas de nicotina”, afirma, adiantando ainda que não há indicadores de que a nicotina – sem combustão – causa cancro ou aumenta os riscos de doenças cardíacas.
Ainda assim, quando questionado sobre o uso em jovens, responde que “sou médico de adultos, não penso que seja seguro que se deve dar bolsas de nicotina a pessoas abaixo de 18 ou 20 anos. O sistema está em formação e sabemos que afeta as células cerebrais”. Em resposta aos jornalistas equipara mesmo o efeito de toxicidade das bolsas de nicotina às pastilhas de nicotina e outras terapias de substituição usadas por quem quer deixar de fumar.
A fábrica da BAT em Malmo é atualmente a única da empresa a produzir Snu e pacotes de nicotina, com 5 linhas de produção dedicadas aos Snu e 4 aos produtos orais modernos, sendo já produzidos na Suécia 25% de todos os produtos vendidos pela empresa. Agora o objetivo é aumentar a produção, chegando a 3 mil milhões de pacotes de nicotina em 2025, pelo que está a ser reforçado o investimento na fábrica, a nível de contratação e aumento do horário de produção.
A BAT tem ainda outras três áreas de produção de bolsas de nicotina num mercado que tem o valor estimado de 3,55 mil milhões de dólares em 2024, segundo a Business Research Insights, e que pode crescer até 62,7 mil milhões até 2032. A aposta na nicotina oral e em outras alternativas sem fumo faz parte dos objetivos da empresa que promove o conceito de um “mundo sem fumo” e quer atingir uma percentagem de 50% de receitas de produtos não combustíveis até 2035.
A componente de investigação e desenvolvimento é também uma das componentes mais relevantes em Malmo, sendo estudada a extração da nicotina do ruibarbo em vez da folha de tabaco, e a utilização de outros componentes para adicionar sabores, doce e salgado, para melhorar a experiência. “Estamos sempre à procura de novas ideias, ingredientes e composição da bolsa de nicotina, assim como a desenvolver novas caixas e embalagens mais sustentáveis”, referem os responsáveis da BAT pela investigação na fábrica de Malmo. Atualmente as caixas de pacotes de nicotina e de snu têm um espaço para se colocar as bolsas já usadas e depois as embalagens podem ser recicladas nas lojas.
Nota de redação: O SAPO TEK viajou a convite da BAT
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