Ainda antes da pandemia da COVID-19 ter imposto um nível de stress adicional às unidades de saúde, a primeira edição do Barómetro da Saúde Digital apontavam para uma clara perceção da importância na adoção da Telessaúde e da Inteligência Artificial (IA) no Sistema Nacional de Saúde, tanto ao nível das entidades públicas, como privadas e público-privadas. Os resultados da segunda edição, que acabam de ser divulgados pela APAH e a Glintt mostram que o nível de adoção aumentou, mas que continuam a existir barreiras.

Os números indicam que 84% das instituições têm pelo menos um projeto implementado na área da telesaúde, considerando as várias ferramentas tecnológicas que existem de consultas e monitorização de doentes à distância, diagnóstico e formação. A teleconsulta, ou consulta à distância, é a mais utilizada, com 96% dos casos identificados no estudo, seguindo-se a telemonitorização e o telediagnóstico.

"No que respeita à adoção de determinadas tecnologias e ferramentas nos serviços de saúde em Portugal, as condições tecnológicas já existiam antes da pandemia, mas o contexto pandémico e de atuação urgente obrigou a uma “mudança cultural” e de processos para que a centralidade no cidadão fosse uma realidade efetiva, explica ao SAPO TEK Filipa Fixe, membro do conselho executivo da Glintt. A propagação do vírus SARS-coV-2 veio  acelerar a transformação digital no setor da saúde e isso teve impacto direto sobre todo o ecossistema, desde as unidades hospitalares até à casa dos cidadãos.

Veja algumas das conclusões em mais detalhe

Para Filipa Fixe, "as teleconsultas afirmaram-se definitivamente como um meio fundamental para garantir mais equidade na prestação de cuidados de saúde bem como a sustentabilidade do sistema", o que justifica o seu crescimento nas unidades de saúde.

O estudo mostra que 97,7% dos hospitais fizeram teleconsultas e 70% têm projetos de telemonitorização, mas que as plataformas informais são ainda as mais utilizadas.

Apesar do nível elevado de adoção, o Barómetro aponta ainda barreiras, sobretudo relacionadas com a baixa literacia em telesaúde, a falta de motivação na adoção da telesaúde pelos profissionais e a falta de formação. Já a existência de infraestruturas adequadas e a fácil adaptação às novas tecnologias por parte dos pacientes dão so principais facilitadores à utilização destas ferramentas.

"O investimento na formação contínua de profissionais de saúde e de gestores, em tecnologias de Informação e Comunicação, e a abertura da Unidades de Saúde para inovação e co-criação de novas soluções, são críticos para que Portugal transforme a gestão da saúde, numa aposta efetiva em prevenção e inclusão de todos os cidadãos e profissionais de saúde", avisa Filipa Fixe.

Inteligência Artificial na saúde: onde e como?

O estudo abrangeu também a avaliação da utilização de tecnologia de inteligência artificial na saúde, indicando que os principais projetos, ainda em fase piloto ou implementados, se centram na transcrição de voz (30%), o agendamento de atividades clínicas (24%) e a interpretação de imagem (24%). O potencial identificado a dois anos está ligado à telemonitorização na gestão de doentes crónicos, assim como no atendimento automático .

A ausência de cientistas de dados, a escassez de recursos financeiros e a falta de infraestruturas tecnológicas são apontadas no Barómetro como as principais barreiras.

"A IA permite, de facto, o desenvolvimento de ferramentas inovadoras. Um exemplo disso são as assistentes virtuais de saúde, que podem ser os personal trainers do próprio doente. Podem também prestar informação e até ser uma companhia, no caso de doentes e, simultaneamente, desempenhar um importante papel no apoio a cuidados menos especializados", sublinha Filipa Fixe.

A executiva lembra ainda que "a utilização de dados na saúde está ainda na fase inicial, mas o seu potencial é muito promissor, se garantirmos que a maturidade digital das instituições é norteada por uma arquitetura de referência que tem na sua génese a interoperabilidade dos sistemas de informação e uma definição dos dados que devem ser armazenados, qual o seu significado e qual o seu propósito final".

Embora 38% das instituições inquiridas no barómetro se revejam num nível de maturidade mais elevado de saúde digital e uma percentagem elevada coloque como prioridades a melhoria dos registos médicos eletrónicos, soluções facilitadoras de acesso aos cuidados de saúde, assim como a interoperabilidade e a segurança e privacidade, apenas 14% dizem ter orçamneto suficiente para os projetos de saúde digital nos próximos 12 meses.